Dois polos e dois pontos à produção
Temos uma polaridade muito latente e ao mesmo tempo muito pouco trazida à superfície das discussões de forma direta, que é o conflito de uma parte das ciências humanas que reverenciam a expressão humana como essencialmente um usufruto ligado a valorização das relações naturais baseadas na prosperidade social como um todo, cuja grande corrente hoje é vendida pelo nome de marxismo e que dentro de si encaixam-se diferentes visões com um fim indissociável da gene de valorização humana e antropológica, e temos do outro lado, o uso das mesmas ciências sendo apropriadas por discursos que se voltam à intenção de humanização das relações produtivas.
Quando falamos desta segunda, estamos nos referindo a apropriação da filosofia, da psicologia e do estudo social pela indústria do trabalho. Existem exigências e pressões de âmbito internacional para se tratar a relação de trabalho com humanidade, mas a prática comercial e mercadológica se atenta às humanidades somente até onde pode fazer valorizar e aumentar a própria produção de riquezas. Ou seja, a globalização oferece uma possibilidade de alcance à partes do mundo por intermédio do crescimento profissional e implicitamente, da exploração e do condicionamento ao trabalho, enquanto que na relação natural, nos lançar ao mundo seria uma condição e um usufruto livre de tais exigências, algo inato.
Temos na ciência da administração várias vertentes de projetos que são construídas para reforçar ideias de desenvolvimento que ignoram toda esta estrutura natural criando pseudociências que servem com muita seriedade para ocupar os estudantes de seus respectivos cursos com as promessas de valorização da força de trabalho, foco no cliente interno além do externo. A metodologia é chamada de consequencialista e nela os meios são menos consideráveis em relação aos fins. Por isso, por exemplo, no Brasil se lê tantos livros de autoajuda, assim como livros de romance. Num breve estudo sobre psicologia constata-se que neste meio social existe uma carência e tal carência reforça a procura de orientação às "faltas' e lacunas, quase sempre diagnosticadas como enfermidade espiritual. Neste combate que se promove com o fim de sanar as enfermidades, procuradas são as leituras que nos tiram da realidade, pois a realidade que temos é a realidade dolorida da submissão e da casta. O afastamento que se faz sobre as propriedades de vida nada menos é do que um alimento à covardia.
As instituições financeiras detém mais esta globalidade: atrai e retém através da vaidade, da querência e da dependência fabricada pelo próprio mercado e a cada ano é mais globalizada. Quanto mais carente de recursos e de humanidade é uma região e uma sociedade, mais instituições vendedoras de curas são edificadas. Nisso se produz acima de tudo a manutenção da dependência, o que Foucault chamou de exercício de poder, o que Nietzsche chamou de decadência, vendida a nós como projeto de avanço e globalização.