OS PÉS... (Cenas do Quotidiano) (SARAU II)
Ela queria colocar umas sandálias de verão do tipo havaianas, azul “natier”, daquelas decoradas com falsas pedrinhas preciosas do mesmo ton, pois estava indo se encontrar com um grupo de amigos, para efetuar um trabalho em conjunto... Gostava muito das sandálias, mas os seus pés já não lhe pareciam tão bonitos quanto antes, com o tempo, à força de muito trabalho com sapatos nem sempre adaptados, confortáveis, havia ganhado joanetes, no pé direito, mais proeminente que no esquerdo...
- “Que pena! (meditava) Gosto tanto destas sandálias, abertas, confortaveis, e esta é mesmo uma gracinha! Mas com certeza meus amigos, olharão os meus pés, e a beleza da sandália ficará em segundo plano, talvez nem mesmo se faça notar”... E se lembrou então de umas outras sandálias abertas, pés também quase nus, de couro marron, tom sobre tom, com dois arcos no alto do pé, um em trancinhas tom sobre tom, bege, com marron mel escuro, o outro arco era como se fosse ponto de alinhavo, grandes, mas delicados; mais na frente um anel em trancinha, para que o grande dedo traspassasse e ao mesmo tempo servia de suporte. Também estas eram lindas... Gostava muito delas... Calçou-as, olhou no espelho, bela as sandálias! Mas os pés... Havia limpado as unhas, tirado o velho esmalte de mais de duas semanas ( Aagh ! )... colocado um esmalte transparente, e muito brilhante; creme para amaciar a pele, estavam bonitos sim... mas o “bicos do papagaios” ( é assim que se chama popularmente no Nordeste do Brasil ), seja, os “joanetes”, embora pequenos, não lhe agradavam, e não lhe davam autoconfiança... Seus pés, antes eram tão delicados, pequenos, finos, belos... Ah, tempo! Ah, circunstâncias em que ocorrem certas coisas (sapatos inadaptados, quase certa); e só nos damos conta quando é tarde demais... Refletia, se uma cirurgia daria bom resultado, ou pioraria as coisas. Já tinha escutado algumas histórias, de resultados não completamente satisfatórios.
Voltou ao armário de calçados, para ver se ainda encontrava algo mais conveniente, encontrou umas sapatilhas baixinhas, de verniz branca, com a ponta negra, brilhantes, rasas, e que ainda por cima estavam no alto moda... - “ Fashionnnn ! ” como costumam dizer os franceses, disse, de si para si. Acomodou os pés outra vez, olhou no espelho, joanetes discretamente envolvidos, nem se percebiam... Assim, estas lhe convinham perfeitamente; menos preocupante, mas, bem menos confortável... “ Talvez, foi raciocinando assim que os ganhei “, ponderou ... E saiu correndo, ganhou a rua, fez sinal ao motorista para lhe esperar, entrou rapidamente no ônibus que estava justo dando saída do ponto de parada... Sentou-se, e cogitou: “ que bom que não vou chegar atrasada, por um minuto mais e teria perdido o ônibus... E se indagou, porque sempre lutava com a pontualidade, “ porque é que estava me atrasando ainda desta vez? ... Ah, os pés... My God, quantos nem os tem, ou os perderam e se encontram em uma cadeira de rodas, e eu reclamando por causa da estética... Sim, os meu pés são lindos, pois ele me levam à casa de Jeová para adorar o Meu Deus! “
( Rose Galvão // SEP13 )
Agradecendo o convite, do Poeta Gualberto Marques para participação no SARAU II do Recanto das Letras, que é feito com TEMA LIVRE ESCOLHA. Para dar sequência ao sarau os convidados escolhem três poetas para durante três dias publicarem seus trabalhos, assim convido o jovem poeta Wotson de Assis, e as poetisas Ahavah e Lianatins. Gostaria, claro, que voces aceitasse o meu convite. Um abraço, Rose.