Experiência como voluntário
Há 10 anos atrás, mais ou menos, eu participava como professor de desenho básico e voluntário na exibição de filmes para crianças e jovens num Centro Cultural aqui de São Gonçalo . Rio de Janeiro.
Numa certa oportunidade quando a aula de desenho básico tinha acabado e as crianças e jovens se entretinham com os espaços do Clube de Astronomia que funcionava nesse Centro Cultural, quando eu estava saindo da aula, que era um espaço mais reservado da biblioteca, um dos adolescentes disse: "Ele tem uma arma!"
e acrescentou logo depois: "É de brinquedo!" Dirigindo-se a um jovem que era o mais velho entre todos. Talvez tivesse 17 ou 18 anos de idade.
Eu tratei de tomar as rédeas da situação, porque estava sozinho ali, na hora, e disse: Porque você tem essa arma? É para entrar mais facilmente com uma arma de verdade em outra ocasião? O jovem não respondeu. E eu perguntei de novo: Porque você tem essa arma? Qual a sua intenção?
Na época estava iniciando a entrada em vigor de uma lei que proibia a venda de armas de brinquedo nas lojas brasileiras ou já
tinha entrado em vigor, não me lembro bem. O jovem, finalmente, depois da segunda vez que eu perguntei, saiu da sala e do Centro Cultural, sem
dizer nada. Todas essas questões se põem na mesa do educador, seja ele professor, coordenador ou até voluntário como era o meu caso naquela época. O certo é que o trabalho do docente tem que levar em conta a exclusão social da qual todos nós somos vítimas. Porque cada vez que se diz para um jovem que ele não tem futuro e "batem a porta na cara dele", certamente, ele virá com mais ou menos força, gritar de volta contra a sociedade que legitima as práticas de abandono, de destruição dos seus sonhos, de desintegração da família e de abismo cultural entre ricos e pobres que são perpetrados pelas políticas neoliberais muitas vezes. O professor, nesse sentido, fica no meio do caminho entre ajudar e garantir a segurança dos seus alunos; necessita lidar com essas questões de modo a criar laços de amizade e compreensão sem desprezar nem subestimar o perigo envolvido em certas situações, com as quais, se ele não for firme poderá acarretar em violência dentro ou fora de sala de aula.