EU SOU O QUE SOU ...
Relato
EU SOU O QUE SOU ...
.... repeti. Várias vezes. Entendendo que eu não tenho que ser outra pessoa senão eu mesma. Esta sensação de conhecer-se por dentro. De aceitar-se de tal forma que os outros também o fazem. Então, a paz nos alcança.
Em um período de conturbações, eu busquei um espaço no meu cotidiano para parar, simplesmente parar. E encontrei a Yoga. Indicação da minha filha. Iniciei as aulas. Receosa, com dificuldade para acompanhar as práticas que demandavam concentração e um corpo um pouco mais flexível. Mas, correspondi às exigências. Meu corpo correspondeu aos desafios que os exercícios me impunham.
A meditação realizada ajudava a tranquilizar o espírito concentrado nas preocupações. O pensamento mais atento à prática auxiliava a acalmar a turbulência instalada no coração.
E naquela uma hora dedicada à Yoga acontecia a melhoria postural, o alongamento necessário aos males da coluna, o melhoramento da disponibilidade física. Com certeza, estes aspectos refletiam na mente que espairecia e analisava as situações problemáticas com mais leveza.
A prática encantadora, envolvente, exigente era liderada por uma ‘mamadi’ que amava a Yoga acima de tudo e demonstrava a importância desta filosofia de vida, que unia o físico e a mente com sua animação, calor humano, sorriso largo e sempre, sempre um abraço de boas vindas. Nem só a alegria compunha seu perfil. A competência, o conhecimento profundo, o estudo, a pesquisa, a vivência na Índia completavam aquela pessoa que além de professora tornou-se amiga, conselheira em várias situações.
Fez-me apaixonar-me pela Yoga.
Entretanto, outro componente humano se fez presente nesta uma hora. O grupo formado, especialmente duas pessoas cujo relacionamento, convertido em amizade, ultrapassou os limites daquelas paredes para se instalar em outros locais e momentos. Um grupo coeso, um grupo amigo. Compartilhamos a yoga, opiniões, pontos de vista. Compartilhamos.
O prazer em encontrarmo-nos naquele horário dedicado à Yoga, se repetia duas vezes por semana e nunca perdeu seu brilho. O sorriso estampado no rosto, os braços abertos para o abraço fraterno e afetuoso. E assim energizadas pela companhia amistosa, nos preparávamos para o início da prática, guiadas por uma voz afetuosa, mas firme, que explicava os benefícios de cada postura, corrigindo a cada uma, exigindo um corpo ereto, uma mente atenta, para que de simples praticantes tornássemo-nos elegantes adeptos do Yoga.
O ambiente tranquilo, silencioso, com a luz azulada para o relaxamento sereno, guiava a mente para alcançar a concentração. Sentadas em posição de Lótus (ou Meia Lótus), sobre tapetes especiais, a meditação iniciava. Então, a mente se aquietava, o corpo se acalmava da agitação cotidiana e se preparava para corresponder a uma outra dinâmica, a da Yoga. A meditação transportava cada pessoa para a realidade do seu corpo, das suas fragilidades e das suas fortalezas. E assim preparadas, mente e corpo, as séries iniciavam. O esforço de todos para suplantar suas dificuldades, suas limitações era notável. Mas, não para ultrapassar os limites que o próprio corpo definia. Aos poucos eu conseguia impor ao meu corpo o acompanhamento das práticas, pois havia um condicionamento em cada aula, em cada avanço, que conduzia ao aprimoramento, à facilidade de realizar as posturas.
Esta harmonia entre mente e corpo nos foi ofertada pela Yoga, esta filosofia de vida que nos cativou. Um vir a ser uma paixão dentre todas que a vida nos presenteia. Humanas e artísticas e com quantas mais cada pessoa se envolver.
A concentração alcançada pela meditação e pela própria prática nos absorvia, nos transportava para um nível de percepção, em que éramos capazes de nos abstrairmos da balburdia social diária, dos ruídos interferentes e conformar, novamente, o nosso eixo interior que nos impulsiona mais fortemente do que as conexões exteriores.
Este relato foi no passado, mas a prática está lá, continua, no aguardo, no nosso aguardo.
Eu retomo a minha afirmação. Eu sou o que sou. E você? Reconhece a si mesmo na quietude da meditação? Observa as ondulações do ser interior que habita em você? Segue em frente firme do que você é, mesmo que alguns não percebam? Você, o que você é?
02 julho 2016