Ponto e vírgula

Nunca fui suficientemente sagaz para entender o perfeito uso do ponto e vírgula.

Garanto que atravessei ileso o deserto dos porquês e aprendi, nos mínimos detalhes, como brincar com ênclises, próclises e mesóclises. Juro que entendi a sutil diferença entre deixar subentendido e deixar incompreensível. Asseguro-lhe, entretanto, que o bendito ponto e vírgula nunca fez questão de mostrar-se lógico.

Passei os últimos anos ignorando toda e qualquer possibilidade de utilizá-lo, deixei-o de lado e foquei-me em absorver os casos em que poderia cravar pontos, interrogações, vírgulas e exclamações.

Talvez dessa inquietação em entender como nos comunicamos tenha surgido minha vontade de escrever. Fato é que a vontade, por si só, não basta para que eu escreva bons textos. Foi só depois que conheci pessoas como você que pude uni-la à inspiração.

Escrever nunca foi tão fácil. As palavras surgem em minha cabeça, meus dedos se movem velozmente e, em poucos minutos, dou-me de cara com um novo texto, uma nova história, um novo começo. Vocês respiram e eu me inspiro.

Com o tempo, percebi estar escrevendo sobre mim, sobre vocês, sobre nós. Todos os singelos termos que vi aparecerem na tela do computador resultaram em composições cada vez menos esporádicas que, uma vez terminadas, passaram a ser assinadas com o sorriso que você e nossos amigos fazem questão de manter no meu rosto.

Sim! Acho que aprendi o porquê do ponto e vírgula.

O ponto e vírgula é usado quando o autor poderia ter chegado ao fim, posto um ponto final, mas opta por continuar escrevendo. Digo-lhe que, por mim, seguirei redigindo sobre mim e você, sobre nós e eles ou, apenas, sobre nós, para que fiquemos assim, para sempre, inconclusos;