A OPERAÇÃO ESTÚPIDA

A OPERAÇÃO ESTÚPIDA

Miguel Carqueija

Muitas vezes, principalmente nas gerações anteriores, filhos sofreram por conta de desinformação dos pais. Não digo isso para falar mal dos meus, pois viveram numa época em que havia menos luzes sobre certos assuntos. Assim meu pai fumava dentro de casa, o que pode ter prejudicado meu sistema respiratório, que sempre foi o meu ponto fraco; além de induzir meu irmão a fumar ele próprio durante décadas.

Acredito que ele foram induzidos por médicos a aceitar que me operassem aos oito anos, para retirada das amídalas. Hoje se sabe que essa cirurgia é desaconselhada salvo em casos especiais (como câncer) e que essas glândulas fazem parte das defesas imunológicas do corpo. Além disso existe o risco de morte por hemorragia posterior e sufocante.

Minha operação foi um terror. Internaram-me. Na hora entrei em pânico. Não houve anestesia geral e, como eu resistisse, os enfermeiros me seguraram à força na cadeira e me abriram a boca com um aparelho. Houve dor. Eu estava histérico, mas impotente. Minha mãe ficou bastante chocada ao saber os detalhes.

O pior porém foram as consequências. Sem as amídalas, meu organismo ficou aberto à bronquite asmática, que me acompanhou por toda a vida. Na minha infância, adolescência e juventude causou situações dramáticas, e por diversas vezes fiquei quase à morte, tendo de receber injeções de glicose na veia. Com o tempo meu organismo reagiu e passei a controlar minha bronquite, mas até hoje eu ainda tenho crises menores, evito bebidas geladas, não tomo sorvete. A gente aprende a conviver com a doença, embora preferisse ficar livre dela.

Sabem? Se não houvesse passado tanto tempo e se eu tivesse alguma documentação, poderia até processar o hospital, mesmo que todos os médicos envolvidos já tenham morrido.

Pais, cuidado ao seguir orientações médicas, principalmente em se tratando de cirurgias. Se necessário recorram a uma segunda opinião ou mesmo uma terceira. Não sigam cegamente o que disserem. Usem seu discernimento. Afinal, é a vida de seus filhos que está em jogo.

Rio de Janeiro, 17 de maio de 2016.