Situação Metadidática
 
Luiz Carlos Pais
 
 
Em primeiro lugar, entendemos que é conveniente lembrar que o prefixo grego “meta” é usado para indicar uma posição posterior ou alguma coisa que transcende outra. Brousseau utiliza a expressão situação metadidática para se referir à situação na qual o professor está preparando sua aula, idealizando uma situação didática, e por esse motivo ele tem em mente um aluno abstrato, cuja essência não tem a mesma subjetividade do aluno “real” com quem ele irá se encontrar por ocasião da aula. Uma situação metadidática caracteriza-se pela existência de três componentes principais: o professor que está estruturando suas ações (planejando a aula a ser ministrada nos próximos dias), um aluno que o autor de referência chama de sujeito universal ou como chamamos acima um aluno abstrato.
 
Fica evidente que a proposta de uma abordagem científica da didática, na linha compartilhada por Brousseau, coloca em evidência a necessidade de o professor estar sempre atento aos movimentos dialéticos existentes entre a subjetividade do aluno que tem em sala de aula, com toda sua particularidade e diferenças pessoais, e a generalidade de um aluno idealizado ou de uma situação hipotética a ser confrontada com a realidade das efetivas atividades escolares. Essa dualidade caracterizada pelas relações existentes entre subjetividade e objetividade, materialidade e abstração, indivíduo e sociedade, concepções e conceitos, teorema e aplicação num caso particular, modelo e problema específico, entre várias outras, estão na essência da abordagem científica proposta pelo Programa Epistemológico.
 
Na parte mais pontual das relações envolvidas numa situação didática está o que Brousseau chama de meio material, o qual é constituído por todos os objetos usados diretamente com recursos para conduzir o estudo, com seus diferentes graus de especificidade: lápis, papel, calculadora, livro didático, lista de exercício, computador e vários outros que estejam na realidade imediata do aluno. Diante desse meio material está o aluno com o desafio de interagir com os objetos, em grande parte, previstos na estruturação do meio pelo professor ou instituição. Brousseau utiliza a expressão “ator objetivo” para se referir ao aluno que está diante do meio material. Pode até parecer paradoxal o aluno (sujeito) ser chamado de “ator objetivo”, mas, segundo nosso entendimento a objetividade, nesse caso, se refere aos objetos materiais que estão efetivamente à disposição do aluno que irá realizar as atividades.