Obstáculo Epistemológico
Luiz Carlos Pais
Luiz Carlos Pais
O conceito de obstáculo epistemológico foi definido pelo filósofo francês Gastão Bachelard, em 1937, na obra intitulada “A Formação do Espírito Científico”, com a proposta de analisar a evolução das ideias científicas. Os obstáculos epistemológicos são conhecimentos admitidos como verdadeiros, no contexto de uma época e no quadro de desenvolvimento de uma comunidade científica, mas que, por outro lado, impedem o avanço de novas ampliações conceituais ou teóricas, enquanto não houver uma ruptura no seu domínio de validade. Embora tenha sido criado no campo da filosofia das ciências, em vista da proximidade e do interesse de Bachelard pela educação escolar, o conceito foi transposto, certa de três décadas de, pois de ter sido formalizado, para a Didática da Matemática.
Quando formulou o conceito, o autor estava na fase mais produtiva de sua carreira intelectual depois de exercer, por longos anos, o magistério secundário de Física e Matemática. Sua obra que foi reeditada em várias línguas trata-se de uma verdadeira obra prima em clareza, estilo e bom humor. Detentor de um cuidadoso senso pedagógico, o autor registrou vários aspectos evolutivos de concepções de interesse direto para o ensino de ciências, exemplificando possíveis conflitos em decorrência de ideias que predominam em determinada época, principalmente no que se refere ao problema da gênese e do desenvolvimento de conceitos científicos.
A noção de obstáculo epistemológico é estudada em diferentes capítulos da obra e ilustrada com exemplos de fatos relacionados à formação de conceitos nos séculos XVII e XVIII. A intenção do filósofo foi propor as condições para proceder ao que ele denomina de “psicanálise do conhecimento objetivo”. Dono de um estilo literário único, Bachelard faz uma crítica acurada de equívocos de cientistas que fizeram uso abusivo de ideias, por vezes, amparadas muito mais na visão pessoal do cientista do que nos métodos experimentais que se consolidariam no início do século XIX.
Esse tipo de obstáculo surge com mais intensidade em níveis de transmissão de saberes entre diferentes áreas, por vezes, recebendo influência de tradições, crenças e do senso comum. Assim, os obstáculos epistemológicos não se constituem na falta de conhecimento, pelo contrário, são conhecimentos anteriores que se cristalizam em determinados períodos da história de uma ciência. O resultado dessa estagnação na evolução conceitual é a resistência à instalação de outras concepções inovadoras que podem, até mesmo, romper com a visão anterior.
Acreditamos que a análise destes obstáculos no contexto da matemática deve ser realizada com uma atenção particular, pois o próprio autor de referência observou que se deve estudar esses obstáculos sob uma forma particular, visto que a matemática apresentaria em seu desenvolvimento uma “maravilhosa regularidade”, tendo em vista a predominância do formalismo tipo da disciplina. Em outros termos, a transposição do conceito de obstáculo epistemológico do campo das ciências físicas e biológicas para a matemática não ocorre com tanta facilidade como pode parecer.
Os obstáculos epistemológicos da matemática têm certas características especiais e o tema poderia, até mesmo, motivar uma análise específica para tratar da “formação do espírito matemático.” Conforme observa o filósofo, a história da matemática revela a existência de períodos de parada em sua evolução, mas é raro encontrar períodos de erros ou de negação de teorias anteriores. Por esse motivo, no plano histórico, um novo conhecimento matemático dificilmente negaria a validade de um conhecimento formalizado anteriormente. Em certo sentido, as geometrias não-euclidianas não negam a validade da geometria euclidiana, apenas abrem espaço para a existência de outras formas de entender o saber geométrico, estabelecendo novos conceitos incompatíveis com os limites anteriores. Desta forma, somos motivados a estudar em matemática certas situações próximas daquelas descritas por Bachelard, ou melhor, analisar o sentido da regularidade acima mencionado.
Quando formulou o conceito, o autor estava na fase mais produtiva de sua carreira intelectual depois de exercer, por longos anos, o magistério secundário de Física e Matemática. Sua obra que foi reeditada em várias línguas trata-se de uma verdadeira obra prima em clareza, estilo e bom humor. Detentor de um cuidadoso senso pedagógico, o autor registrou vários aspectos evolutivos de concepções de interesse direto para o ensino de ciências, exemplificando possíveis conflitos em decorrência de ideias que predominam em determinada época, principalmente no que se refere ao problema da gênese e do desenvolvimento de conceitos científicos.
A noção de obstáculo epistemológico é estudada em diferentes capítulos da obra e ilustrada com exemplos de fatos relacionados à formação de conceitos nos séculos XVII e XVIII. A intenção do filósofo foi propor as condições para proceder ao que ele denomina de “psicanálise do conhecimento objetivo”. Dono de um estilo literário único, Bachelard faz uma crítica acurada de equívocos de cientistas que fizeram uso abusivo de ideias, por vezes, amparadas muito mais na visão pessoal do cientista do que nos métodos experimentais que se consolidariam no início do século XIX.
Esse tipo de obstáculo surge com mais intensidade em níveis de transmissão de saberes entre diferentes áreas, por vezes, recebendo influência de tradições, crenças e do senso comum. Assim, os obstáculos epistemológicos não se constituem na falta de conhecimento, pelo contrário, são conhecimentos anteriores que se cristalizam em determinados períodos da história de uma ciência. O resultado dessa estagnação na evolução conceitual é a resistência à instalação de outras concepções inovadoras que podem, até mesmo, romper com a visão anterior.
Acreditamos que a análise destes obstáculos no contexto da matemática deve ser realizada com uma atenção particular, pois o próprio autor de referência observou que se deve estudar esses obstáculos sob uma forma particular, visto que a matemática apresentaria em seu desenvolvimento uma “maravilhosa regularidade”, tendo em vista a predominância do formalismo tipo da disciplina. Em outros termos, a transposição do conceito de obstáculo epistemológico do campo das ciências físicas e biológicas para a matemática não ocorre com tanta facilidade como pode parecer.
Os obstáculos epistemológicos da matemática têm certas características especiais e o tema poderia, até mesmo, motivar uma análise específica para tratar da “formação do espírito matemático.” Conforme observa o filósofo, a história da matemática revela a existência de períodos de parada em sua evolução, mas é raro encontrar períodos de erros ou de negação de teorias anteriores. Por esse motivo, no plano histórico, um novo conhecimento matemático dificilmente negaria a validade de um conhecimento formalizado anteriormente. Em certo sentido, as geometrias não-euclidianas não negam a validade da geometria euclidiana, apenas abrem espaço para a existência de outras formas de entender o saber geométrico, estabelecendo novos conceitos incompatíveis com os limites anteriores. Desta forma, somos motivados a estudar em matemática certas situações próximas daquelas descritas por Bachelard, ou melhor, analisar o sentido da regularidade acima mencionado.