Devolução didática
Luiz Carlos Pais
Luiz Carlos Pais
Esta redação destaca alguns aspectos relacionados ao conceito de devolução a partir dos pressupostos admitidos no quadro da teoria das situações didáticas, de autoria do educador francês Guy Brousseau. Trata-se de conceituar um tipo diferenciado de ação conduzida pelo professor, cujo desafio consiste em fazer com que o aluno assuma para si a responsabilidade de se engajar na elaboração do seu próprio conhecimento. Não sendo esse um fenômeno espontâneo torna-se imprescindível a persistente ação docente no sentido de tentar desencadear uma interação mais qualitativa do aluno com o objeto de estudo. O interesse em destacar esse conceito de devolução e a forma como essa ação pode ser conduzida pelo professor decorre do fato de ser uma componente essencial do contrato didático considerado.
Elaborar um projeto didático é uma atividade concernente à atividade docente e, por certo, envolve as imprescindíveis bases institucionais e também dos parâmetros indicativos para uma política pública voltada para ensino escolar. Mas, no quadro de referência da teoria das situações didáticas, quer seja no nível micro da sala de aula ou no plano prescritivo das atividades previstas, o professor é levado a pensar na produção de situações didáticas, nas quais os saberes previstos, em algum momento, entrarão em contato com os efetivos conhecimentos aferentes detidos pelo aluno.
O sucesso de atividade didática decorrerá então do quanto será possível aproximar os saberes escolares dos conhecimentos aferentes, ou seja, aqueles cuja explicitação por parte do aluno permite algum índice de avaliação. Nesse sentido, Brousseau registra que “O ensino tem por objetivo principal o funcionamento do conhecimento como produção livre do aluno em suas relações com um meio adidático”. Essa “produção livre do aluno” são as escolhas tomadas inicialmente com base na sensação, que ele faz como resposta aos estímulos ou desafios no meio. Por esse motivo, o aluno é o efetivo sujeito da aprendizagem, o protagonista das ações que podem aproximar o conhecimento aferente dos chamados saberes de referência.
Quando o professor tenta, indevidamente, assumir esse papel que não é seu, pode ocorrer diferentes efeitos (Topázio, Jourdain,...) negativos que reduzem o significado do conhecimento elaborado. A tarefa de apropriar-se da objetividade prevista pela educação matemática, de fato, não é nada evidente porque o aluno está inserido num meio antagônico e tem, a princípio, apenas os seus próprios sentidos para conduzir essa fase inicial do estudo. Esse é um momento crucial de confronto entre o sentido atribuído pelo aluno e o significado objetivo postulado no projeto didático.
Para conduzir as atividades num “bom caminho”, diante da parte adidática, que não está sob o controle direto do professor, Brousseau propõe a noção de devolução pela qual as ações docentes procuram manter o aluno em atividade de estudo. Nas palavras do autor, “o meio adidático é a imagem da relação didática do meio exterior ao ensino em si, ou seja, desprovidos de intenções e pressupostos didáticos”. O meio adidático é onde ocorre o efetivo funcionamento do conhecimento do aluno.
Se ele escolhe, acertadamente, por sua “livre e espontânea decisão” usar certo teorema para resolver um problema proposto e consegue uma boa solução é sinal que seu conhecimento aferente próximo do saber objetivado. Mas isso ocorre na medida em que o professor conduza a devolução para conceder ao aluno o espaço necessário de elaborar seu conhecimento. “A devolução é o ato pelo qual o professor faz com que o aluno aceite a responsabilidade de uma situação de aprendizagem (adidática) ou de um problema e assume ele mesmo as consequências dessa transferência.”
Cumpre observar ainda que a devolução é uma ação a ser conduzida regularmente pelo professor, com a frequência típica da modelagem científica, ou seja, trata-se de incorporá-la na prática como postura metodológica. Entretanto, essa postura não é tão evidente nem por parte do professor acostumado a “passar a parte essencial do conhecimento” pelo método discursivo, nem mesmo por parte do aluno, porque “aceitar a responsabilidade” é também sinal de algum grau de maturidade, de assumir o desafio de aprender a proposta contida no projeto didático. Quando entra em cena o meio adidático, o professor deixa de ser o protagonista, mas continua atuante no sentido de reativar constantes devoluções para a continuidade do processo. É uma mudança de paradigma em relação ao método clássico de ensino.
Elaborar um projeto didático é uma atividade concernente à atividade docente e, por certo, envolve as imprescindíveis bases institucionais e também dos parâmetros indicativos para uma política pública voltada para ensino escolar. Mas, no quadro de referência da teoria das situações didáticas, quer seja no nível micro da sala de aula ou no plano prescritivo das atividades previstas, o professor é levado a pensar na produção de situações didáticas, nas quais os saberes previstos, em algum momento, entrarão em contato com os efetivos conhecimentos aferentes detidos pelo aluno.
O sucesso de atividade didática decorrerá então do quanto será possível aproximar os saberes escolares dos conhecimentos aferentes, ou seja, aqueles cuja explicitação por parte do aluno permite algum índice de avaliação. Nesse sentido, Brousseau registra que “O ensino tem por objetivo principal o funcionamento do conhecimento como produção livre do aluno em suas relações com um meio adidático”. Essa “produção livre do aluno” são as escolhas tomadas inicialmente com base na sensação, que ele faz como resposta aos estímulos ou desafios no meio. Por esse motivo, o aluno é o efetivo sujeito da aprendizagem, o protagonista das ações que podem aproximar o conhecimento aferente dos chamados saberes de referência.
Quando o professor tenta, indevidamente, assumir esse papel que não é seu, pode ocorrer diferentes efeitos (Topázio, Jourdain,...) negativos que reduzem o significado do conhecimento elaborado. A tarefa de apropriar-se da objetividade prevista pela educação matemática, de fato, não é nada evidente porque o aluno está inserido num meio antagônico e tem, a princípio, apenas os seus próprios sentidos para conduzir essa fase inicial do estudo. Esse é um momento crucial de confronto entre o sentido atribuído pelo aluno e o significado objetivo postulado no projeto didático.
Para conduzir as atividades num “bom caminho”, diante da parte adidática, que não está sob o controle direto do professor, Brousseau propõe a noção de devolução pela qual as ações docentes procuram manter o aluno em atividade de estudo. Nas palavras do autor, “o meio adidático é a imagem da relação didática do meio exterior ao ensino em si, ou seja, desprovidos de intenções e pressupostos didáticos”. O meio adidático é onde ocorre o efetivo funcionamento do conhecimento do aluno.
Se ele escolhe, acertadamente, por sua “livre e espontânea decisão” usar certo teorema para resolver um problema proposto e consegue uma boa solução é sinal que seu conhecimento aferente próximo do saber objetivado. Mas isso ocorre na medida em que o professor conduza a devolução para conceder ao aluno o espaço necessário de elaborar seu conhecimento. “A devolução é o ato pelo qual o professor faz com que o aluno aceite a responsabilidade de uma situação de aprendizagem (adidática) ou de um problema e assume ele mesmo as consequências dessa transferência.”
Cumpre observar ainda que a devolução é uma ação a ser conduzida regularmente pelo professor, com a frequência típica da modelagem científica, ou seja, trata-se de incorporá-la na prática como postura metodológica. Entretanto, essa postura não é tão evidente nem por parte do professor acostumado a “passar a parte essencial do conhecimento” pelo método discursivo, nem mesmo por parte do aluno, porque “aceitar a responsabilidade” é também sinal de algum grau de maturidade, de assumir o desafio de aprender a proposta contida no projeto didático. Quando entra em cena o meio adidático, o professor deixa de ser o protagonista, mas continua atuante no sentido de reativar constantes devoluções para a continuidade do processo. É uma mudança de paradigma em relação ao método clássico de ensino.