Ateus existem?
ATEUS EXISTEM?
Miguel Carqueija
Li certa vez, em obra de autor católico, o questionamento se de fato existem ateus. A dúvida é se na verdade, no mais íntimo de seus seres, estas pessoas de fato não acreditariam em Deus... sem querer reconhecer de público. Realmente, a crença no Ser Supremo é tão poderosa, está tão arraigada em nossa natureza (afinal, Deus existe mesmo e Ele implantou em nós a crença), que a existência de descrentes, de materialistas, afigura-se algo inverossímil.
Durante algum tempo eu pensei assim, dando razão ao autor, cujo nome já esqueci, daquela observação. Um belo dia, porém, vim a ler o belo livro autobiográfico de Santa Teresinha do Menino Jesus, a “História de uma alma”. Pois bem, nesta obra a santinha de Lisièux fala ter sabido, por revelação particular, que sim, existem ateus verdadeiros, assim tornados pelo orgulho. É um ato de orgulho íntimo, recusar-se a crer na existência do Criador para não ter de prestar-lhe culto. E vejam, o caráter inefável de Deus justifica plenamente que suas criaturas racionais o louvem e adorem.
Todavia, inclino-me a pensar que tais céticos verdadeiros são raros, e que em sua maior parte os indivíduos que se proclamam ateus não o são de todo. Parecem mais com o materialista da anedota, que, quando o avião entra em pane, começa a rezar.
É curioso observar que na literatura, no cinema e na ciência encontramos diversos descrentes que, no fim de contas, parecem buscar a transcendência. São os “ateus não de todo”... exemplo frisante é a dupla Stanley Kubrick-Arthur C. Clarke, responsáveis pelo belo filme “2001: a space odissey”, de 1968. Eles se declaravam ateus e no entanto realizaram esta extraordinária película repleta de misticismo e transcendência. Há quem diga que a “Odisséia no espaço” era o filme preferido do Papa João Paulo II. Seriam portanto, Kubrick e Clarke, tão ateus assim? Essas escapadas para a transcendência também se encontram em outros ateus famosos como Carl Sagan e Isaac Asimov. Sagam fez um filme de ficção científica de caráter religioso: “Contato”. Asimov sonhou com uma transcendência à matéria no conto “Olhos sentem mais que vêem”. Gene Roddemberry podia se declarar materialista, mas não deixou de colocar “entidades cósmicas” imateriais e com poderes sobrenaturais em “Star trek”. Algo para refletir. O ser humano não se conforma com uma imanência total. Ele aspira por natureza à transcendência, porque a transcendência existe.
Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2016.
ATEUS EXISTEM?
Miguel Carqueija
Li certa vez, em obra de autor católico, o questionamento se de fato existem ateus. A dúvida é se na verdade, no mais íntimo de seus seres, estas pessoas de fato não acreditariam em Deus... sem querer reconhecer de público. Realmente, a crença no Ser Supremo é tão poderosa, está tão arraigada em nossa natureza (afinal, Deus existe mesmo e Ele implantou em nós a crença), que a existência de descrentes, de materialistas, afigura-se algo inverossímil.
Durante algum tempo eu pensei assim, dando razão ao autor, cujo nome já esqueci, daquela observação. Um belo dia, porém, vim a ler o belo livro autobiográfico de Santa Teresinha do Menino Jesus, a “História de uma alma”. Pois bem, nesta obra a santinha de Lisièux fala ter sabido, por revelação particular, que sim, existem ateus verdadeiros, assim tornados pelo orgulho. É um ato de orgulho íntimo, recusar-se a crer na existência do Criador para não ter de prestar-lhe culto. E vejam, o caráter inefável de Deus justifica plenamente que suas criaturas racionais o louvem e adorem.
Todavia, inclino-me a pensar que tais céticos verdadeiros são raros, e que em sua maior parte os indivíduos que se proclamam ateus não o são de todo. Parecem mais com o materialista da anedota, que, quando o avião entra em pane, começa a rezar.
É curioso observar que na literatura, no cinema e na ciência encontramos diversos descrentes que, no fim de contas, parecem buscar a transcendência. São os “ateus não de todo”... exemplo frisante é a dupla Stanley Kubrick-Arthur C. Clarke, responsáveis pelo belo filme “2001: a space odissey”, de 1968. Eles se declaravam ateus e no entanto realizaram esta extraordinária película repleta de misticismo e transcendência. Há quem diga que a “Odisséia no espaço” era o filme preferido do Papa João Paulo II. Seriam portanto, Kubrick e Clarke, tão ateus assim? Essas escapadas para a transcendência também se encontram em outros ateus famosos como Carl Sagan e Isaac Asimov. Sagam fez um filme de ficção científica de caráter religioso: “Contato”. Asimov sonhou com uma transcendência à matéria no conto “Olhos sentem mais que vêem”. Gene Roddemberry podia se declarar materialista, mas não deixou de colocar “entidades cósmicas” imateriais e com poderes sobrenaturais em “Star trek”. Algo para refletir. O ser humano não se conforma com uma imanência total. Ele aspira por natureza à transcendência, porque a transcendência existe.
Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2016.