Outros Carnavais (EC)
Fecho os olhos e, num vislumbre, revivo carnavais passados, ouço as canções, marchinhas que acompanham o passo dos foliões; o ar está inebriado com o cheiro de lança-perfumes. No salão, confetes e serpentinas. E gente que sorri, se abraça, se confraterniza.
O ano é 1922, eclode o Modernismo Brasileiro, movimento que coloca em pauta a produção cultural nacional. O movimento artístico literário sofre influência das vanguardas europeias, mas o grupo de poetas brasileiros dá cor e forma à nossa literatura. Surgem grandes nomes: Oswald de Andrade com seu “Manifesto Antropofágico”; Mário de Andrade e sua “Pauliceia Desvairada” e o inominável maestro e compositor Heitor Villa-Lobos.
Nesse período, o carnaval era uma festa na qual as pessoas dançavam, pulavam e usavam máscaras. A marchinha carnavalesca é criada, salve “Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga, sucesso que popularizou e consagrou essa compositora e maestrina. Surgem também os “Blocos dos Sujos”, os foliões.
No final dos anos 20, desponta Cartola, grande compositor, cantor e instrumentista brasileiro, autor de um clássico do samba “As Rosas não falam”. Foi também um dos primeiros a participar da fundação da escola de samba “Estação primeira da Mangueira” (1928).
Nos anos seguintes, surgem Ary Barroso com a marchinha “Dá nela”; Lamartine Babo e irmãos Valença com o sucesso “O teu cabelo não nega”; Emilinha Borba, Carmem Miranda, a mais popular cantora de marchinhas, que consagrou “Taí”, de Joubert de Carvalho; “Balancê”, “Mamãe eu quero”, de Jararaca e Vicente Paiva, entre outros.
O ano agora é 1945, a Segunda Guerra Mundial acaba. O segundo conflito global deixa dizimado milhões de pessoas. Apesar de tudo, despontam, na década de 40, grandes sucessos carnavalescos, são eles: "Ala-la-ô", de Nássara e Haroldo Lobo; "Aurora", de Mário Lago e Roberto Roberti; "Eu brinco", de Pedro Caetano e Claudionor Cruz.
1969, o ano que entrou para a história. No Brasil vivia-se a Jovem Guarda e o Tropicalismo, e toda aquela história da ditadura militar; e o mundo assistia boquiaberto e desconfiado a chegada do homem à lua.
Sobre o carnaval, nos anos 60, percebe-se já algumas mudanças, tem início a decadência das marchinhas carnavalescas. No entanto, algumas delas se tornaram verdadeiros clássicos lembrados até hoje. Quem nunca ouviu "Me dá um dinheiro aí", de Homero Ferreira, Glauco Ferreira e Ivan Ferreira; "Olha a cabeleira do Zezé", de João Roberto Kelly e Roberto Faissal; "Mulata bossa nova", de João Roberto Kelly; "De marré marré", de Raul Sampaio, "Índio quer apito", de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira?
A década de 80 traz fatos marcantes para o Brasil. Campanha das “Diretas Já’ e fim da ditadura militar. O carnaval mudou radicalmente, é inaugurado o Sambódromo - a passarela do samba na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Os desfiles das escolas de samba ainda hoje representam um dos maiores espetáculos carnavalescos do mundo. Nos anos 90, há uma invasão de trios elétricos e hits que se popularizaram, de Netinho, Chiclete com Banana, Daniela Mercury e Araketu.
A partir dos anos 2000 os hits são os mais diversos e os gostos inexplicáveis. “Bomba” (Bargaboys, 2000); “Toda boa” (Psirico, 2008); “Dalila” (Ivete Sangalo, 2009); “Rebolation” (Parangolé, 2010); “Tchu, tcha, tcha” (João Lucas e Marcelo, 2012); “Ziguiriguidum (Filhos de Jorge, 2013); “Lepo lepo” (Psirico, 2014); “Pra frente” (Ivete Sangalo, 2015) .
E agora, 2016, “Metralhadora” da Banda Vingadora, um hit que diz assim: trá trá trá....as que comandam vão no trá trá trá.
As mudanças no carnaval, festa adorada por quase todo o mundo, são cumulativas, algumas apavorantes. Carnaval fechado, do saldo sabemos apenas os números. Números que entristecem, fragilizam.
Se fecho os olhos, agora, o que vejo, rememoro?
Então, pondo de lado os gostos pessoais e essa diversidade maravilhosa da música brasileira, a bem da verdade, quisera eu ter dançado, pulado e vivido outros carnavais.
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