Atraso pontual

Acordo cedo, me arrumo, me exibo para o espelho e já está na hora de sair para trabalhar. Faltam 15 minutos para as sete horas e o percurso até meu emprego levam exatamente 15 minutos. O meu otimismo não esperava que houvesse tanta demora no trânsito.

Chego no serviço ás 7:15, suavemente atrasada fingo que nada aconteceu e nem olho para o relógio; o patrão me espera com cara amarrada, pois o cliente estava ali há 10 minutos esperando minha chegada para que eu entregasse as embalagens de amostras que só eu sabia onde estava; este cliente precisava estar representando a marca á exatamente 3 minutos no outro lado da cidade. Entrego a ele as embalagens e lá se vai ele, passando o discurso na mente, já que não haveria tempo de ensaios anteriores. Chega o representante com 20 minutos depois do combinado, entra na sala de reunião com garra e determinação misturada á ansiedade diante das olhadas nada disfarçadas para os relógios.

Sentado á sua frente enquanto apresentava os produtos as palavras saiam quase que involuntariamente, mas já no final da merchandising o pensamento mais que desesperado imagina que aquela hora sua filha já subia ao palco para a apresentação de dança do dia da independência da república e em seu lugar, no banco da frente, outro pai ou outra mãe realizara seu desejo de estar ali. E ainda parece faltar bastante tempo para finalizar a reunião.

E, ao seu lado as agendas eram assim, a prova do bolo de casamento, a depilação a laser, a namorada no cinema, o aniversário da mãe, o cliente do horário seguinte, tudo haveria de esperar porque um atraso aconteceu ao raiar do dia.

O atraso é assim, um monstro devorador de objetivos, mas este, nunca perde a sua hora.

Tcharlyne