Acordado ou dormindo?
Daqui, de onde dizemos quem somos, caso desejássemos responder a pergunta do tema: "Acordado ou dormindo?", certamente diríamos acordado, pois, quem se atreveria ao ridículo de atestar algo dado contemporaneamente como óbvio, incontestável, do domínio da ciência, do saber, e sobremodo, de caráter e circunstâncias aparentemente plausíveis e verificáveis, do ponto de vista da experiência.
Entretanto, daqui, de onde dizemos quem somos, quem pode, - na concorrência dos dizeres - se arriscar na aparência de um dia e profetizar as possibilidades, o futuro? Píndaro há cerca de 2500 anos atrás, certamente tentou nos alertar sobre a efemeridade do dia ao dizer: "Seres de um dia, o que se é, o que não se é; O homem é uma sombra sonhando". Ademais, o que poderíamos dizer do ser "num dia", "dum momento?" Segue-se alheio a isso que, a partir das experiências, podemos transitar da sensação de um fenômeno particular e aplicá-lo na regra universal, caracterizando sobremodo, possibilidades?
Entrementes, desembocamos no problema da concordância dos dizeres sobre a estrutura da realidade. Desse modo, o que figura como real nas relações mútuas do homem ou na segurança dessa realidade? Objetivamente, temos ciência que seguimos rotinas conhecidas como: levantar, tomar café, ir ao trabalho, escola, decidir coisas, fazer coisas, tudo para ocupar o que é natural no homem, a saber: o desejo de saber como dizia um filósofo: “Todo homem deseja saber, sinal disso é o prazer que advém dos nossos sentidos, pois, a base de sua utilidade são amados a causa de si mesmos”
Prazeres ou dizeres, certo é que, com o pé no mundo, arriscamo-nos a ser, pelo ser: igualitário, generoso, virtuoso, corajoso, honrado ou o contrário. Segue-se a isso que, felicidades brotam, inesperadamente ou programadas, estas são quase sempre definidas fisicamente pelo pulsar do lado esquerdo do peito, do tipo das que definimos com o frenesi causado quase sempre por algo espantoso, ou, de outro modo, de um acontecimento inesperado.
Sobremodo, o que dizer de um dia de felicidade momentânea como por exemplo, um pulsar de carnaval que, seduzido numa razão experimentada, continuadamente ascende dessa sensação para a incompreensão da rotina diária? E deveras, como relacioná-la com as ocupações dos estímulos repetitivos, entretanto, enigmáticos e misteriosos? Certo dia eu saí, vi muitos olhos e senti, por outro lado que, nestes olhos também figuravam vida, independente. – Espantoso! disse enquanto observava o fenômeno, e completei: “- O céu está fantástico hoje, maravilhoso”. Dito isso, pensei comigo mesmo, se a felicidade parece com algo que deve se manter, de certa maneira, fixado na alma, como uma sensação forte que se transforma em idéia e sobrepõe-se a outras, então, por que não a vivemos intensamente? Será que o problema da felicidade estaria na repetição, isto é, em não repetir para ser feliz? Ou melhor dizendo, será como diz a Diotima que o “amor é a busca do que não se tem?” Certo é que, o conflito histórico em torno de uma unidade genérica de pensamento, sensação e experiência que garanta a felicidade, por aqui, da lugar a questões subjetivas, conduzidas quase sempre pela conveniência ou representação de confiança em palavras, sem regulação fixa e confiável. Estaria Deus entediado com a previsibilidade, e criou a impressibilidade, para fugir do pleno, através da falta que faz a felicidade, aparentemente plena quando se dá?
Na verdade, temos o desejo de saber imediatamente se pisamos na terra, se vemos o céu, se pensamos, se estamos acordado, etc. Mas, para responder a tais perguntas do acordado ou do dormindo por exemplo, é preciso duvidar, para no fim verificar, após evidência, características que nos persuada, primeiramente, através da validação objetiva, com a certificação destas carnes, destes ossos e deste sangue por exemplo, e, em seguida, através das acepções abstratas como a ideia do amor, da honra, da virtude, da moral e coisas do gênero.
E é aí que começa o conflito, pois, quando nos vemos embaraçados com uma natureza dúbia das coisas: ora feliz e ora não-feliz, resistimos em dizer que estamos no exercício de dogmas, da fé, do que é. E segue-se disso que, costumes se dão no segmento do comum, enquanto que a exceção é execrada. Então, será que a verdade é comum? verossimilhante?
Sendo assim, a casa que nos espera ao retornar de uma rotina pelo bem que indica, figura como a prisão do nosso ego, em prol da nossa individualidade, cedida apenas aos interesses das lutas de classes, similar sob certas circunstâncias, sem rumo aparente, representando quem pretende; - Adeus! dizem os que se despedem, pois, agora, devemos ser o que estávamos previamente programado, a saber, o outro, que não sou eu, pois, aparentemente, sou o outro, no outro, eternamente fadado ao conflito.
Acordados ou dormindo? Seja como for, crentes como na lógica, é falso apenas se ambas premissas forem falsas, pois, do contrário, independente de que nome damos a consciência num momento: "acordados ou dormindo", algo precisa ser válido, senão o falso, "o nada", ao menos a operacionalidade do mundo prático, pelo ser, para ser: contínuo, racional, pretendente a eterno, enaltecido como divino e fadado ao conflito, - como na própria natureza humana -, contraditório em si mesma.