OS REFUGIADOS ASSÍRIOS E UMA ESPERANÇA NO OLHAR DISTANTE

Quando tudo mais parece desmoronar, resta a muitos esperar o momento de tentar de novo, esperar para partir, partir... E quando não se pode partir, luta-se por sobreviver em péssimas condições em que gemidos são subterrâneos. Tentas em areias, sonhos escondidos, filhos choram, água se escasseia, o olhar mira um futuro... E a esperança teima fazer os corações pulsarem vida em meio a sinais de morte. Assim, é o campo de refugiados. Vigiados, atormentados, sedentos, ensandecidos, angustiados, teimam em uma oportunidade: talvez, um risco para si e seus lares. O deserto frio à noite, sob a mira de fuzis, perseguidos que nem coiotes...

Na alforge, o filho; os pés cansados; deslocam quilômetros com sede. E a violência com sutileza e atrocidade os enclausuram nas fronteiras, um passo quase para a liberdade, que não sabem que configuração terá.

E as forças parecem esgotas; os passos vacilantes, são escudos humanos para uma guerra sem fim entre militares e poderosos inescrupulosos. Uma multidão de diversas religiões e etnias avançam como um conjuntos amorfo de "gado para a rapina" e a "ovelha para o matadouro". Uma barbárie: nada são a não ser a peça de troca e um estorvo para muitos outros na geopolítica da fome e da guerra, da migração e da vigilância das fronteiras. Ninguém os quer; e os deixa, os explorarão a qualquer custo e sangue. Essa história é tão antiga quanto o mundo antigo. A escravidão está viva na globalização. A tecnologia não os adotou ainda. Morreram um passo a mais, na passagem por terra e por mar. São memórias quase esquecidas de cadáveres flutuantes nos oceanos e praias; corpos apodrecendo nos caminhos e desertos. São travessias perigosas e muros como diques a represar seus movimentos; poucos a porto seguro chegarão: direitos e moradia é uma utopia, impõe-lhes deveres e pesos como a escória da humanidade; os que nunca deveriam nascer; nem sobreviver; serão crucificados pela injusta perversão dos conluios e homicidas e a quimera das violações dos direitos humanos... "O lobo está vestido de ovelha" e o "homem é o lobo do homem..."

Outros, por medo, por risco, riscarão morrer além do que ficar com fome, frio, sem trabalho, inseguro e humilhado aquém.

Na mente, no coração, a loucura de ter nascido entre guerras, pobre, hibridamente estrangeiro, fraco para os poderosos, antes que que a coragem vá e a esperança desespere, é preciso ir, partir, para não sucumbir ao peso da instabilidade, inanição, da pobreza, da guerra, da miséria... E a guerra de fogo está dentro de si quando fora ocorrer outras guerras. Sabe-se que Pandora chora, acreditou que da caixa, saído os males, restava-lhe, por fim, a esperança de tudo suportar, superar, vencer, vencer-se, reinventar a travessia, rebeldia, etnia, ir além, ser pascoa, ser êxodo, ser reedição, contornar a situação, antes de morrer, antes de padecer, antes de fechar os olhos. Por enquanto, enquanto viver, é preciso ousar.

J B Pereira
Enviado por J B Pereira em 27/12/2015
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