Racionalizando a fé

Se um dia qualquer de um ano a mais, não pode ser – por si – mera coincidência, como pode a vida não ter um princípio pensante? Hoje estamos aqui com os problemas que causamos, justificando os erros, com a consciência de que as escolhas nos foram possíveis com a experiência que tínhamos. Não pudemos falhar de faz de conta para acertar na vida real e nem sonhamos com os tropeços que gostaríamos de ter evitado, quando as consequências chegaram.

Um dia, na faculdade, questionei o professor porque deu uma atividade valendo nota sobre uma matéria completamente inédita. Ele respondeu que a avaliação seria mais branda. Sua justificativa revelava a justiça que existia em minha pergunta. E como seria bom que a vida fosse tão razoável! Mas sobre essa esfera onde metade do tempo ficamos de cabeça para baixo, sem nem por isso despencar, alguns erros são quase frente fatais...

Uma discussão no trânsito pode ser a última. Um vício pode encerrar uma vida. Uma distração na faixa de pedestres também pode levar à morte. O fim de um namoro pode terminar nas páginas policiais. O primeiro crime de alguém, pode levar à cadeia.

E como num jogo qualquer, a falta de atenção ao que a vida considerar vital, pode ensejar a ruína do "jogador". E mesmo que a sabedoria leve seu portador aos mais longínquos e salutares anos, há um tempo feitor de passado a cada um de nós. Uma vez na vida é preciso partir. E tão curiosa quanto a chegada, a partida se faz.

Tanto as respostas pregam a fé, quanto as perguntas fazem da razão o fim da esperança quem nem mesmo os ateus gostariam de ter perdido. Os primeiros estão certos de que o privilégio de viver, nega as acontecências nas quais se pautam os que duvidam de um propósito. Entretanto, ambos querem crer que haja vida em outro lugar, quando olham para o céu. E talvez seja ponderoso admitir que o nosso começo tenha partido dessa imensidão que não se pode negar.

Enfim, se dúvidas e certezas podem não passar de escolhas, prefiro duvidar que as certezas que duvidam, possam encerrar o sonho de um futuro melhor. Quero acreditar que se o professor erra quando me avalia sem ensinar, talvez haja uma compensação pelas consequências que eu mesmo pago quando tropeço no meu caminhar. Aliás, se ninguém é perfeito, por mais bem sucedido que seja, acreditar que a vida seja aprendizado de todos, não me parece tão insano, tampouco banal.

Pois se a imensidão do espaço pode insinuar um começo, nem que seja por uma explosão, e se o tempo é infinito, como também a ciência pode reconhecer, quem entre nós pode dizer que tudo é em vão? Quem pode matar um princípio, vivendo apenas umas dezenas de anos para enfim morrer? Quem pode condenar a fé, não podendo responder onde esteve antes de chegar aqui?

Como nenhum de nós é o dono da verdade, deixemos que a imaginação possibilite a fé ou a razão ao mesmo tempo. Pois em qualquer das opções, não estamos no controle de nada. Afinal, o nada talvez nem exista. É algo que nem se pode imaginar. Já o que vemos - na atmosfera e fora dela - me parece real demais para ignorar.