Da leitura do mundo, para o mundo da Leitura

Minha leitura de mundo começou muito cedo, não me recordo quando despertei o meu olhar, mas lembro de que a minha timidez e a minha introspecção, me levou a fugir da realidade e me perder na observação de tudo o que me cercava, lembro que gostava de ler pessoas.

Fazia leitura de mim frente ao espelho e foi uma triste leitura, não recomendo. (rs)

Quando criança meu perfil era o menos aceitável “socialmente”, não tinha lá muitos atributos de criança bonitinha, tinha dificuldades de me locomover porque meus pés eram arqueados e precisava das benditas botas ortopédicas que não combinam muito bem com as roupas de menina e com as brincadeiras.

Como tinha dificuldade em me relacionar com as pessoas, na verdade, na verdade era porque existem segredos de família que precisam ser guardados e crianças falam de tudo então.... (silêncio)

Minha mãe era Tia da Salinha na igreja e eu tinha muitos livrinhos de colorir eu não sabia uma palavra, mas vendo as figuras eu fingia que lia e contava as histórias da forma como eu lembrava e minha imaginação sempre me surpreendeu.

Mas com o tempo descobri que minha vontade de escrever era maior do que a de ler, rabiscava tudo o que podia, muitas cores, muitos papeis, meus sonho era ter um lindo diário, onde eu ia escrever as minhas histórias.

Já na pré-escola, comecei a decorar as letras e relacionar as coisas, quando aprendi a Letra A ficava o tempo todo mãe, mãe “ Meu nome tem A”, seu nome tem A, e tudo tinha que ter A porque era a única letra que eu sabia rsrsrsrs.

Durante um longo tempo era mais decorar do que saber ao certo, mas quando eu consegui juntar as palavras e formar uma frase, foi incrível.

Eu e minha mãe tínhamos uma brincadeira que era assim o que tá escrito....

Ela dizia assim:

- Deixa eu ver se você sabe ler mesmo, o que tá escrito naquele ônibus?, naquela placa, naquele muro e eu queria vencer mostrar pra ela que sabia, e fui lendo tudo, tudo o que ficava ao meu alcance eu lia, até bula de remédio.

Quando comecei a leitura de livros e etc, novamente o meu mundo externo se tornou desinteressante, há cerca de quatro anos atrás em uma reunião de família, minha tia disse ao meu esposo, todos nós achávamos que a Leslie tinha algum problema, porque todas as vezes que nos reunimos ela sempre tinha o mesmo ritual, um livro, um caderno, uma caneta e horas sozinha olhando pro nada, na rede, hoje ela está mais sociável.

Talvez essa observação, essa leitura de mim, me machucasse anos atrás, mas consegui o equilíbrio de me entender no universo e de respeitar as opiniões, a minha exclusão também foi uma inclusão, não tenho medo dos grandes livros, tenho medo de historias ruins, de ser alguém sem opinião, de fingir que sei sobre um assunto superficialmente e me senti Phd sobre o tema, tenho medo de ser soberba, não tenho vergonha de ser ignorante em muitas áreas porque tenho sede de aprender, já me perdi no tempo lendo um livro e ter que ser avisada que já é hora de dormir, fiquei presa a tantas obras, senti que era a própria personagem, chorei tive vontade de contar o que estava acontecendo, vi minha vida retratada por pessoas que nunca conheci, não sonhava com galãs de hollywood, mas com os galãs dos livros, eu desenhava eles na minha mente, mas a minha leitura de mundo em conjunto com o meu mundo da leitura fez com que algo sobrenatural acontecesse eu passei a ser fonte de novas historias, que eram minhas e dos outros, de musicas que eu queria ter feito e de fato fui eu que fiz, e minhas viagens me fizeram alguém sedenta pela leitura, a frase você é o que você lê com certeza me define, e quando eu disse que ia fazer o curso de Letras não foi surpresa para os que me conheciam de verdade.

E quando estou apurando o meu gosto na sala de aula, sinto me frente a um manjar divino, cheio de sabedoria, de conteúdo, uma fonte inesgotável de saber, me pego querendo falar, chorar, e dentro do meu corpo varias reações acontecem sinto queimar o peito, florear o estomago, me imagino lá, nos períodos históricos e aqui agora querendo ser parte deste mundo.

Há eu já ia me esquecendo, continuo tendo diários, cadernos e livros e uma linda rede.