Os Mortos

Ao sair do cinema, deparei-me com quatro mortos que coincidentemente fazia parte da última cena do filme. E assim tudo começou. Eles estavam no chão um sobre o outro, o pó branco colocado em seus rostos deixavam-nos com a aparência pálida e exaustiva, seus olhos estavam negros por causa da lente colocada. Sob seus olhos o sangue escorria até suas bocas, onde as mesmas se encontravam abertas. Seus dentes estavam podres e suas línguas cortadas, fazendo com que o sangue enchesse suas bocas. Seus lábios estavam roxos e desnutridos. Seus braços estavam sobre seus peitos, ao observar pequenos detalhes pude notar que todos estavam vestindo calças e camisas, mas sujas e rasgadas. O céu estava nublado, mas os pequenos raios de luz que atravessavam as nuvens cinzas atingiam seus corpos fazendo-me apreciar cada vez mais os pequenos detalhes. Suas sobrancelhas foram pintadas de preto e pinceladas de vermelho sendo levemente penteadas para ambos os lados. Estava apreciando, crendo que a cena fora criada e montada, para que nos sentíssemos dentro do filme assistido, mas notei que corvos sobrevoavam os mortos e de em pouco em pouco pousavam. Eram exatamente quatro corvos para quatro mortos. No momento em que cada corvo pousou na cabeça de cada morto, uma menina de aparência assustadora chegou ofegante gritando que as pessoas estavam morrendo e que aquela cena era real. Segurei em seus ombros, sua pele estava tão fria que senti minha própria alma congelando, seus olhos berravam por socorro, sua boca se mexia, mas nada conseguia dizer. Seu cabelo estava molhado, mas cortado de um jeito estranho. Ela colocou a cabeça em meus ombros e desmaiou. Deixei-a no chão enquanto, desesperadamente, procurava ajuda. Voltando-me a ela, meu coração se apertou, seu estado físico estava igual dos quatro mortos. Meu coração em uma pontada murchou e meus olhos se encheram de lágrimas. De repente senti um estrondo e ao olhar para o lado percebi que não só ela tinha morrido, mas todos daquele cinema. Meus lábios se mexiam dez vezes por segundo e seiscentas vezes por minuto. A cada minuto eram sessenta segundos de pura dor, minha visão de pouco em pouco se escurecia, minha pele estava branca, a dor e a agonia estavam tomando conta de mim, estava deprimida demais para sorrir e cansada demais para chorar. Minhas pernas bambas não aguentavam mais o meu peso, assim com eu não estava aguentando o peso de minha alma. Encostei-me na parede e deslizando minhas costas nela sentei-me no chão frio, onde estavam centenas de mortos. Agora eu sabia que existia várias formas de morre, meu corpo continua respirando, meu coração continua batendo, mas eu não estava viva. Sobre minha cabeça o céu negro se movia, os corvos faziam festa e minha mente agradecia. A morte estava perto, eu pudia sentir, eu já estava morrendo, só não sabia. Porém, no exato momento em que um corvo pousou em minha perna, meus olhos perderam a visão, a minha boca se encheu de sangue, fazendo-me um dos mortos.

Lírio do Mar
Enviado por Lírio do Mar em 14/08/2015
Reeditado em 15/08/2015
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