Clarisse
Chovera como nunca e Clarisse estava encharcada, mas seus olhos inchados denunciavam que não só pela chuva mas também pelas lágrimas. Algo que ela não pudera prever nem em seus sonhos mais sinistros.
Clarisse sentada no vazio balança seu corpo para frente e para trás, pensando em coisas que ninguém nunca seria capaz de adivinhar, pensava no nada, pensava no fim de todas as coisas.
Hoje completa um ano e como se tivesse presenciado tudo de cima, recorda-se de todas as cenas, todos os suspiros e as palavras que foram ditas da boca pra fora, palavras que tentaram servir para amenizar toda aquela dor horrível que Clarisse sentira.
“Por que você fez isto comigo? Você não pode me deixar! Eu te amo mais do que qualquer coisa em todo este mundo. Sem você eu não vou mais viver apenas sobreviver até que me concedam o abrigo da morte. Volta... Não FAZ ISTO, POR FAVOR EU IMPLORO PRA DEUS...”
Com vinte e poucos anos a ainda menina Clarisse não faz mais pedidos para as estrelas e não superou a perda. Tem medo de se apegar e ter de ser forçada a se afastar de quem tanto gosta até hoje e será assim para sempre.
Daquela casa que fica apenas nas lembranças ela pegou apenas o que realmente precisava e seguiu seu caminho, tortuoso, espinhoso, mas seu caminho.
E daquelas lembranças a cena mais marcante e que ela nunca esquecerá é a dela Clarisse, chegando em casa com os cabelos molhados e ao perceber o que tinha acontecido cair deitada no sofá sem a menos ação, segurando as mãos daquele homem que ela nunca mais voltaria a ver, sorrindo e chamando por ela, seu pai estava gelado, estava morto.
Sem um motivo aparente parecia sereno e falecido após uma longa e gostosa sesta. Clarisse chorou por aproximadamente 40 minutos deitada no sofá, e hoje completa um ano que chora durante seus sonhos.