COMPARAR A LUTA DOS NEGROS CONTRA PRECONCEITO COM O SENTIMENTO DE VITIMISMO É UMA TENTATIVA DE DIMINUIÇÃO DA GRAVIDADE HISTÓRICA DOS ACONTECIMENTOS.

Ser chamado de macaco, atrasado, crioulo, pretinho, senzala, etc., em significações históricas depreciativas com sinônimo de fedorento, burro, sem alma, animal, atrasado, retardado, que não aprende nada, comparar tudo isso, toda essa bagagem histórica, essa mancha que nós negros tentamos nos livras e que alguns insiste em manter viva nos perseguindo atualmente, comparar toda a humilhação sofrida pelos negros durante a escravidão, as chicotadas, as mortes, a repulsa pela “raça negra”.

Os negros que sem alternativas diante dos sofrimentos tinham no suicídio sua única forma de protesto - quer comparar esse sofrimento com o preconceito de ser chamado de "branquelo" ou "galego" é uma atitude ridícula daqueles que no fundo querem ridicularizar e diminuir a luta dos negros, “branquelo” não carrega uma bagagem histórica estereotipado de mazelas e agressões, existem significações nas palavras que os brancos colocaram nos negros, simbolismos raciais de submissão e desprezo.

Uma rejeição historiográfica colonial branca ao associa-los a animais, então, querer comparar o sofrimento das famílias negras que ao serem arrancadas das suas terras e trazidas a força para esse continente sem o seu consentimento, deixando os seus filhos para trás a morrer de fome.

Querer comparar os brancos as mulheres negras que foram estupradas em larga escala por seus "Senhores Brancos", com a sociedade eclesiástica católica dominante na época conivente e sabendo de tudo justificando pela doutrina que o negro não tinha alma, e assim poderia escravizar como escravizavam os animais de cargas.

Querer realmente comparar os brancos com os sofrimentos desses milhares de negros que, ao atravessarem o atlântico em embarcações precárias, muitos adoeciam na viagem por causa das precárias condições dos porões e das infestações de ratos e doenças, sendo afogados pelos capitães dos navios para não contaminar os outros, e tudo isso por causa das más condições de higiene e de alimentação.

Querer comparar os brancos a uma criança que, ao nascer negra, invariavelmente negra, e na escola ver que a sociedade valoriza a cultura branca, como cabelos lisos, cor branca, e vendo isto através do tratamento dado pela professora preconceituosa, e essa mesma criança volta pra casa extremamente triste, porque os pais preconceituosos fazem suas “brincadeirinhas caseiras inocentes sobre negros” e seus filhos reproduzem seus preconceitos na escola e descarregam nos colegas negros sua cultura familiar de repulsa a “raça negra”. Porque todo aluno preconceituoso tem sim pais preconceituosos.

Querer comparar os brancos a isso, onde a criança negra fica com traumas de ir à escola por causa de apelidos e da rejeição de grande parte dos colegas, e a decepção de perceber que até a professora, imagem que o aluno se apaixona profundamente, prefere e privilegia os seus beijinhos a aquela criancinha branca, e assim ficando triste, pois aquele “negrinho” também queria receber o carinho da linda professora preconceituosa branca.

Querer comparar a vida dos brancos a preconceitos velados e ocultos que todos os negros percebem e ignoram nos olhares e palavras de “brincadeira”, e quando este adentra lugares refinados e até lojas de segunda categoria, percebem que estão sendo seguidos por alguns vendedores a mando do patrão.

Querer comparar os brancos a essa estruturação preconceituosa histórica que, sem cessar, seus traumas começam desde sua infância, cresce e continua sendo hostilizado até sua velhice, quer diminuir essa dor nos chamado de coitadinhos e taxando a luta contra o preconceito existente ainda de “vitimismo negro”. Você, amiguinho branco preconceituoso, já chorou compulsivamente quando criança passando uma "bucha de Bombril" no branco pra ver se sai a cor negra? Porque eu já fiz isso.

Querer ainda comparar as políticas de segregação racial onde os negros da África do Sul na sua própria terra sofreram as imposições dos brancos colonos Ingleses e Holandeses onde subjugaram suas terras e sua cultura em detrimento a uma cultura supostamente superior fincada na supremacia branca, massacrando, estuprando e matando negros na sua própria pátria. Quer comparar?

Agora espero que tenha chegado a compreensão do que significa todas as palavras depreciativas contra o negro, não é meramente ser chamado de negão, isso não me ofende, e a forma, a malícia das palavras, a construção da intencionalidade diminutiva que ela trás carregada de significados históricos. Isso sim nos ofende.

Quer comparar a organização Norte-americana Ku klux klan, que matava e massacrava famílias inteiras de negros nos Estados Unidos e impuseram as políticas segregacionistas para nos colocar a imposição branca cultura superior. Que comparar ser um negro nos dias atuais nos Estados Unidos e por isso ser tratado diferente e até morto por policiais brancos preconceituosos que não sabe o que é o conceito de humanidade. Quer ainda comparar ser um jogador de futebol no Brasil que com muito custo e esforço na vida, driblando os convites para se rebelar contra a situação de miséria e preconceito imposto pela sociedade de elite e resistindo a tudo se torna um grande jogador, e no meio da sua carreira é chamado por uma torcida gaúcha de macaco.

Quer comparar ser uma jornalista do tempo competente de uma das maiores emissoras de TVs do mundo que contrata apenas pessoas qualificadas para coloca-las em um horário nobre de um telejornal e depois de conquistar tais posições ser hostilizada na internet por milhares de internautas preconceituosos e ser chamada de macaca e senzala. Quer ser artista no Brasil que por ser negra e conhecida os preconceituosos encontram nisto um motivo de chama-las de macacos e primatas.

Na sua cabecinha e vidinha de regalias sociais, quer comparar TUDO ISSO a ser chamada de “patricinha branca de merda”. Patricinha de merda é uma grande ofensa comparada a esse histórico da vida do negro.

Diminuir nossa causa falando que sofremos de “vitimismo negro” querer passar a ideia de que somos “paranoicos” com o preconceito. Tentar diminuir a causa negra com argumentos infantis, pensar que vamos nos intimidar com essa sua “frasezinha” de “vitimismo negro” é certamente um engano, o negro não precisa de “peninha e nem de compaixão” não precisamos de nada disso.

O que o negro realmente quer são tratamentos iguais, sem cotas e sem privilégios, pois temos capacidades intelectuais iguais a qualquer ser humano na terra, e em certas aptidões até somos melhores, pois cada povo tem suas qualidades e defeitos, assim como os brancos também tem, agora não compare os sofrimentos de quase 4 séculos de preconceito e escravidão, pois tais coisas têm profundidades ofensivas totalmente diferentes das suas ou de qualquer outra, pois essas profundidades são históricas.

Lililson
Enviado por Lililson em 19/06/2015
Reeditado em 22/12/2023
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