A chegada do estranho - Cap. 1 - Parte 2
Com o veneno, não podia mais se mover, já que o efeito paralisante era imediato. Em menos de um minuto estaria ardendo em febre. Até o anoitecer, morto. O fogo era realmente aniquilador.
Ao me aproximar pude conhecer o dono da silhueta que havia desestabilizado a paz, que permanecia inalterada a tantas décadas. Agora, jogado ao chão como um animal abatido, ele parecia ainda mais frágil. Fiquei hipnotizada por sua agonia quando fui pega de surpresa por sua mão segurando meu pulso.
Como ele havia saído do efeito paralisante?
Tentei escapar num impulso, mas ele segurava forte. Meus olhos enfim se encontraram com os seus. Que lindos olhos azuis ele tinha. Eram os mais puros que já tinha visto. Senti um arrepio subindo por meus braços e coluna. Era como se o tempo parasse para que eu pudesse mergulhar naquela alma.
Ele moveu seus lábios e pronunciou o que pareceu ser um pedido de ajuda. Por um momento senti uma vontade inexplicável de unir meus lábios aos seus, sentir a maciez de sua boca na minha e provar o gosto que ele teria. Porem os pensamentos cessaram tão rápido quanto o bater de asas de um beija flor. Me preparava para puxar meu braço novamente, mas ele a soltou e rolou para o lado, tremendo com a febre que chegara.
Um sentimento de compaixão tomou então meu coração. Era uma situação nova pra mim e não sabia exatamente o que fazer. Sem pensar muito, coloquei seu corpo suado na garupa do cavalo e cavalguei para a cabana da Montanha das Nuvens.
Só eu conhecia sua localização. Era ali meu refúgio do mundo, meu local para sonhar sem ser incomodada. Conversar com as estrelas e cantar para a lua era o que eu mais me trazia paz. Só ali ele poderia estar seguro.
No caminho, só me perguntava por que estava fazendo aquilo. Por que sentia meu corpo tão estranho, queimando por dentro sem estar com febre. Por que proteger aquele que queria atacar meu lar. E principalmente, o que Iseth faria se descobrisse tamanha traição.