Se Deus Quiser
João e Aparecida contavam agora com mais de 50 anos. Viviam e moravam numa casa humilde, num pé de serra do sertão paraibano. Ao cair da tarde do dia 18 de março de um ano qualquer, João pôs- se a contemplar o tempo através de uma das janelas de sua casa. A temperatura-ambiente estava alta, beirava os 40º. Enquanto João divagava, Aparecida ultimava a ceia.
- Em que está pensando? - Perguntou Aparecida.
- Nesse tempo sem chuvas - Respondeu João.
- Não se desespere, amanhã é dia de São José e se Deus quiser vai chover.
(Para os nordestinos brasileiros, o dia de São José (19.03) é um marco referencial que indica o início do inverno).
- Se amanhã cedo o tempo indicar a chegada de chuvas, eu irei plantar legumes. Aparecida intercedeu: - Se Deus quiser
Se, entretanto, não houver sinais de chuvas, eu irei rachar lenha. Novamente, Aparecida intercedeu: - Se Deus quiser.
- Não entendo você. Admiti somente duas hipóteses: chover ou fazer sol e em ambas você me vem com essa conversa de “Se Deus Quiser’. Deus não tem nada a ver com isso.
Mais uma vez Aparecida falou: - Se Deus quiser você vai me entender.
Emburrado, João deitou-se e foi dormir.
Antes que o sol desvirginasse a madrugada, João levantou-se, contemplou o céu estrelado e deduziu que ia chover. Pegou o machado e uma cabaça d’água e partiu na busca de para rachar. Depois de muito caminhar e já com o sol alto – como se diz no sertão, de repente e não mais que de repente, como diria Drumond, um cavalo baio com um homenzarrão nele montado, que de imediato lhe perguntou:
- Onde fica lugar tal?
- Fica muito longe daqui e não vai nada lhe ensinar, pois daqui até lá tem muitas veredas à esquerda e à direita e você não vai acertar chegar lá – respondeu João.
O homem estalou um chicote e de forma incisiva, ordenou:
Pois, ponha á frente do cavalo e leve-me até lá.
Sem esboçar reação contrária, João obedeceu e pôs-se a caminhar lento, pois o sol cáustico, o cansaço e a idade ditavam o ritmo da caminhada. Ao final da tarde, chegaram ao lugarejo que o cavaleiro procurava.
O cavalheiro apenas agradeceu e João iniciou a volta e muito mais cansado.
Quase meia-noite aliviando o desespero da espera de Aparecida, João bateu na porta de sua casa. Lá de dentro Aparecida perguntou: - Quem é?
Faminto, cansado sem lenha, desalentado, mas feliz por está retornando, João respondeu: - SOU EU. DEUS QUIS E EU ESTOU AQUI
19/03/2014