Se pudesse voltar atrás

Lembro-me como se fosse hoje em que meus irmãos e eu, todos os dias, após as sete horas da noite, tomávamos banho juntos no quintal de casa. Geralmente, a mamãe chegava do trabalho somente após as oito horas, então tínhamos muito tempo para aproveitar a brincadeira debaixo do chuveiro.

Éramos cinco filhos, a contar comigo, mas somente quatro participavam daquele momento de diversão no quintal, pois a minha irmã mais velha não gostava de brincar com conosco. Ela dizia que nossas brincadeiras eram muito chatas. Se eram chatas, eu não sei, mas minha irmã, certamente, agiu muito bem em não se juntar ao grupo.

Quando a mamãe chegava do trabalho, logo nos adiantávamos em terminar nosso banho, porque senão teríamos de ouvir a ladainha de todos os dias: “saiam desse chuveiro, meninos”; “anda, vão estudar; “parem de estragar a água”; “vocês não sabem o quanto a água é preciosa, amanhã poderá não ter mais”. E nós sempre achávamos que tudo não passava de uma encrenca de mãe.

Certo dia, fomos visitar nossa tia e o nosso transporte era um barco. Ao chegarmos ao rio, vimos o quanto de água existia na face da terra. Logo, meus irmãos e eu resmungamos “e a mamãe ainda diz que vai faltar água amanhã, com tudo isso de água aqui... Hum! Coisas de mãe mesmo”, resmungamos bem baixinho, é claro, pois a mamãe estava perto de nós.

Os tempos se passavam, e nós, todos os dias, éramos felizes debaixo daquele chuveiro. Sem dar importância para a ladainha da mamãe, usávamos a água em abundância. Hoje, os tempos são outros... Se eu pudesse voltar atrás, não pensaria duas vezes. A alegria de usar a água em abundância no passado, causa-me a tristeza de não tê-la para o consumo nos dias de hoje. Bem que a mamãe avisou, mas a teimosia foi maior. E agora, como vou cobrar das autoridades, se eu sou o próprio culpado?