Psicologia da Saraiva

Outro dia entrei na Saraiva, com o objetivo de me alimentar com livros certamente, mas não para lê-los naquela turbulência dos passantes ilustres, sentado e cercado de gente, vendo cortejos, sejam garotos sábios ou velhos sabidos. –Não! Meu objetivo era mais simples, pegar alguns livros, pagar e sair rápido; Porque? Isso não importa muito agora, uma vez que existiam vários porquês que necessariamente não dizem respeito somente ao movimento nas livrarias de shopping modernos.

O que desejo narrar, sobre o que versa o título: “`Psicologia da Saraiva”, diz respeito a um acontecimento no mínimo inusitado para os dias atuais, e no máximo cômico do ponto de vista do que preenche a nova sociedade do terceiro mundo. Eu disse terceiro mundo? -Nossa! faz tempo que não uso essa nomeclatura que aliás, eu vi falar na escola, e também nos jornais, mas nunca consegui formar um ideal único deste termo, só me inteirava com um pensamento depreciativo, onde terceiro mundo já é algo ultrapassado ou ruim, frente aos primeiros e segundo mundo. Mas pensando agora, suponho que esse termo seja não só para dizer o terceiro mundo no sentido econômico, até porque isso já é difícil determinar em que parte do mundo estão os endinheirados, mas eu diria que o termo também ganha um aspecto forte, em se tratando de cultura, o que em tradução literal poderia ser entendido como terceira educação, isto é, terceira classe, ou até mesmo, uma educação e cultura inferior ao que diz respeito ao primeiro e segundo mundo. Bom, caso seja para significar Grecia, Roma e América, este último como terceiro mundo, por ordem de colonização Ocidental, suponho que poderíamos pensar nesse sentido. Mas eu acho que não é esse sentido que dizem.

Mas não é sobre o terceiro mundo que eu quero falar, o que desejo é dar conta de um acontecimento, que defino agora como uma consulta psicológica numa livraria, pois veja: Estava eu, com meus dois filhos, o Tales de dois anos, a Demeter de um ano e o meu par, a mãe numa livraria popular de shopping. Pois bem, combinamos de passar antes na livraria e depois ir num evento de um amigo, sobremaneira, no desenrolar das buscas na livraria, entre expositores de sucesso e o ocultismo destes mesmos, sobre uma generalização também estavam os muitos que os classificavam como literatura estrangeira. Acho que eram umas dezesseis estantes, de literatura estrangeira, dizendo sabe lá o que.

Supondo que teria que distinguir outros símbolos para conseguir identificar o que eu queria, e desse modo, supondo que o volume de tempo para conseguir localizar o desejado era pequeno, pedi ajuda a modernidade e a tecnologia, isto é, um atendente e um computador.

Já no atendimento, para minha surpresa, a atendente não era vendedora. E é isso que me levou a escrever esse texto. Mas como? A atendente da livraria na verdade não era atendente? – Não! Ela estava disfarçada. Entende o que eu quero dizer, a atendente da livraria Saraiva do Shopping de Salvador-Ba estava disfarçada de atente, e sabe porque? Porque bastou minha filha dar um grito ao longe, e eu dizer: “minha filha” para a consulta da psicóloga Saraivana dar-se início. E como foi isso? Veja, tudo o psicólogo sabe, ao menos é isso que muitos demonstram. E ultimamente está cada vez pior, porque agora eles interpretam por números. É por isso que, quando lêem os percentuais referentes a alguma experiência, inferem imediatamente: “Se deu 60%, é verdade certamente e de outro modo, se o resultado da experiência com os entes humanos similares deu 99%, então significa que sabemos tudo”. Mas o que mesmo os psicólogos sabem mesmo? Dizem que observam os particulares dentro de um universo e chegam a conclusão do que acontece com outros particulares, em outro universo, mas como? Pois nenhum destes particulares me parecem estar no mesmo lugar o tempo todo, tendo as mesmas experiências. Mas porventura também não posso responder essa pergunta, afinal, seria arrogância minha uma vez que não estudei psicologia. Já as consultas. estão cada vez mais parecidas com a igreja, do tipo que diz: “Eu sei a verdade, e quero lhe salvar irmão”. -Tudo bem! Só que eu não vou na igreja, não pedi a salvação e também não desejo um psicólogo. Então porque volta e meia eles estão nos atacando na livraria ou na rua?

Continuo a história com o diálogo.

Início: Minha filha grita ao longe

(Divagando eu digo): “Minha filha tem um grito de ópera”

(Atendente da Saraiva) Responde: “Tem que ver, derrepente é alguma coisa”

(Eu penso) “É claro que é alguma coisa”, mas não disse a atendente. Minha filha, que tem um ano, parece que está se desenvolvendo bem. Uma das suas peripécias é que ela já percebeu que o choro é mais ineficiente do que o grito, então, o gritar para ela, faz o mundo girar mais rápido.

(Curioso eu pergunto a atendente): “Mas o que é?”

(Atendente da Saraiva) Responde: É que eu sou psicóloga entendeu, então....

(Aí eu fiquei nervoso e pensei): Eu poderia perguntar que diabos tem a ver estudar psicologia com dar palpites na experiência particular do outro, e então sem agüentar mais eu bradei: “O que tem a ver?”

(Atendente da Saraiva agora psicóloga) Responde: É que normalmente quando a criança grita, é alguma coisa.

Eu pensei: Puta que pariu, será que precisa estudar psicologia para saber que um grito representa algo? No caso do médico, ao apalpar um paciente em alguma região com dor, este pode ser guiado à precisão da enfermidade, pelo grito sonoro provocado pelo acesso a região dolorida; No caso de minha filha de um ano, a coisa é, por enquanto, “Ter o mundo”. No caso da psicóloga da Saraiva, a coisa é, por enquanto: “Ter o mundo com a psicologia”. No meu caso, a coisa é, por enquanto: “Ter?”

Pingado
Enviado por Pingado em 22/01/2015
Reeditado em 31/01/2015
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