A relação entre o que eu ensino e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio orientam que as disciplinas escolares atuem de forma a tecer relações com o mundo do trabalho, da ciência, tecnologia e cultura. Nesse sentido, teoricamente, deve ser a partir das ferramentas por elas oferecidas que os alunos deverão ter condições de compreender melhor tais aspectos e identificar a interferência deles na vida prática. Contudo, integrar o que se ensina em sala de aula a saberes mais amplos é essencial para que a escola cumpra o seu papel sine qua non de fornecer ao aluno uma educação mais ampla, que, de fato, faça sentido para ele, contribuindo para sua formação integral e o exercício pleno da cidadania.
O ensino de Língua Portuguesa sob a perspectiva das Diretrizes
O trabalho com a língua materna nas escolas é de extrema relevância para a prática educativa, visto que todos seus instrumentos pedagógicos culminam na leitura, produção de textos e em situações discursivas[1] que, para ter validade, necessitam do bom desempenho (uso) e do nível de competência (conhecimento)[2] linguísticos dos educandos.
A Língua Portuguesa, cujo trabalho está intimamente relacionado à leitura, interpretação e escrita, é uma disciplina elementar na busca pela qualificação do educando e de sua inserção no mundo do trabalho, devido ao constante estímulo à criticidade, à busca por informações, análise de conteúdos e interpretação do mundo que o cerca. Quando os alunos reconhecem a importância de assumir uma postura crítica diante da realidade, há o aflorar da consciência cidadã, que os permite enxergar seus direitos e deveres, assim como a capacidade de intervir direta e indiretamente na vida prática.
A necessidade de uma nova perspectiva para o Ensino Médio
Nas Diretrizes Curriculares Nacionais, o trabalho, a ciência, tecnologia e cultura são eixos que devem nortear o currículo escolar do Ensino Médio, o qual deve ser capaz de oferecer sentido às disciplinas e aos saberes como um todo. Acredita-se que, a partir dessas inter-relações, promover-se-á melhor apreensão crítica das ideias que orientam a vida. Contudo, enquanto educadores, nosso compromisso vai além da mera perspectiva de preparar os alunos para o mercado de trabalho e mundos diretamente atrelados a este, mesmo sabendo que vivemos em uma sociedade que afirme tal necessidade como sendo primordial.
Uma proposta inovadora de Ensino Médio deve passar pela reestruturação curricular tradicional, de forma que esteja menos voltada para a formação competitiva, repetitiva e fragmentada e mais focada no auxílio à descoberta de novas possibilidades, saberes e potencialidades, para que os alunos sejam capazes de descobrir e conhecer o mundo e a realidade que os cercam, clarificando seu papel enquanto cidadão. Além disso, deve primar pelo estímulo à descoberta de talentos individuais e à busca por alternativas a uma vida menos focada no ter, e mais no ser.
A meu ver, o conhecimento deve ser mostrado como alternativa para libertar os indivíduos, e não subjugá-los; deve ser uma ferramenta que não tenha como fim a padronização e o acúmulo de capital, mas a abertura de possibilidades para uma vida mais plena e feliz. Do contrário, a escola permanecerá estagnada e nós, educadores, continuaremos embebidos na angústia e frustração por não vermos frutificar as transformações pelas quais devemos ser motivados a caminhar.
Acredito que seja pela conexão entre o que aprendem no ambiente escolar e o que recebem na vida prática que os jovens terão mais chances de encontrar alternativas que lhes deem a oportunidade de fazer aflorar novos pensamentos e aspirações e, consequentemente, de se tornar agentes no mundo e atuar nele de forma mais consciente e ativa e menos submissa.
Nesse sentido, a proposta de um Ensino Médio não pode ser homogeneizada e padronizada por prescrições curriculares, mas, sim, adequada às realidades de cada comunidade e pautada na aprendizagem por meio de ações que contemplem, além da perspectiva de integração curricular, a abordagem de conhecimentos diversos, a valorização das experiências de vida e a promoção de atitudes que culminem na formação integral do indivíduo, estimulando a criticidade, o amadurecimento, a descoberta de suas aptidões e a autonomia de pensamentos e ações.