STA. Parte III - O RELATO DO TEMPO

Não sou o grande pecador

O responsável pela escuridão no paraíso

Não tenho culpa pelos erros do Amor

Ou pela falta de fé dos Deuses

Eu nem ali estava.

Pobre do amor

Sua própria inocência o condenou.

Tentou fazer as pessoas se amarem,

Mas se esqueceu de fazer desse amor

Um sentimento recíproco.

Isto deveria ser conhecimento básico.

Há dois tipos de pessoas:

As que amam e as que escrevem.

Assim como, quanto à vida, há também dois tipos de pessoas:

As que vivem e as que assistem a vida passar

Simples são as coisas neste mundo,

Amores não correspondidos sempre deixam

pedaços da alma quando andam.

E sempre deixam lágrimas nos lugares

Por onde passam.

Pra ser sincero,

Se eu tivesse cabelos,

Eles já estariam brancos.

Pelo exaustivo trabalho que o amor me dá.

Pois eu sou o Tempo, e “o tempo cura tudo”.

Para cada desilusão amorosa,

Para cada ódio que o amor conseguiu criar,

Para cada frieza humana,

Eu me torno a cura.

Mas nunca pedi para ser a cura da alma, nunca!

Por isso escolhi ter filhos:

O Cronológico,

Meu favorito e sucessor.

E o Emocional,

O filho caçula, mais lento,

Encarregado dos reparos emocionais.

Não pretendia relatar mais.

Pois de tantos relatos

Formei até a História Humana.

Mas meu caçula me perguntou insistentemente:

“Mas quanto a Fé dos Deuses?”

De muito pouco sei sobre isso,

A fé das pessoas criam os deuses,

E a fé dos Deuses vem com sua criação,

Do que ele acredita ser e do que acredita pregar.

Sou mais velho que muitos deuses,

Mas a Morte ainda me supera na idade.

Mas disso pouco importa.

Deixarei meus filhos cuidando de tudo,

Enquanto a Morte me namora.