STA. Parte II - CIDADE DAS SOMBRAS

Pouco se fala sobre o que aconteceu naquele dia

Uns contam suas exageradas teorias

Outros já se falam de uma possível profecia

E aqueles que mais tinham a perder rezavam incansavelmente

A qualquer um que se clamasse um deus

Por que a fila da redenção se desfez?

Por que ali se espalhara tantos pedaços de almas?

Onde estavam aqueles seres superiores?

Os Juízes da Essência Humana.

O que aconteceu com toda aquela Divina Luz?

O maior temor de alguns fiéis é o Apocalipse

Mas no Apocalipse ao menos há Luz

E aqui, o que há agora?

O que diremos agora para os que morrerem?

Terão todos o mesmo direito ao paraíso?

Encontro-me agora em uma cidade das sombras

Onde as músicas mais tocadas

São as dos antigos condenados que buscavam a redenção

Agora não se tem mais culpados ou inocentes

Tudo se mistura, nada é visto, são apenas vozes, cantos e gritos

Procuro andar em linha reta, sempre reto.

Talvez eu chegue em algum lugar melhor

Onde as vozes dos que ficaram loucos

não cheguem aos meus ouvidos.

Tenho medo, aqui já não é mais meu lugar.

Agora já quase não ouço nada,

Só minha respiração alimenta meus ouvidos.

As vozes dos desesperados estão se tornando

Pouco a pouco, apenas uma lembrança.

Mas o silêncio que jaz agora é o que precede a tempestade.

Meus pensamentos me iludem de lembranças

E já não sei quais são reais,

Ou se são das épocas que estive vivo,

Ou das que estive pagando meus pecados.

E elas vêm e vão, no mesmo ritmo que respiro.

Lembro-me dos sussurros antes da escuridão

“Não acredito que o amor se tornou pecado”

“... é a hora do julgamento”.

“Foram executados de uma vez,

o Amor e os seres que o amou”

Então é isso?

Os próprios Juízes perderam a fé?

Foi o amor que pecou na hora de amar?

Ou fomos nós que os superestimamos?

Fizemos deles Deuses e vendemos nossas almas?

Se os Deuses, Juízes de nossa Essência, perderam a fé.

Pobre de nós que dependemos dela para nossa salvação.

Cuja nossa existência, agora, não passará

de poeiras ao vento em meio à escuridão.

Aqui não passamos de uma canção, A Canção dos Condenados.

Tenho pena daqueles que ainda vivem,

Os que rezam para que um dia morram em paz.

Eles estarão aqui também, ao nosso lado.

Com as mesmas dúvidas que nós.

Só que dessa vez sem ao menos um feixe de Luz.

Tantas perguntas no fim,

Não imaginava ter tanto medo

Mesmo após ser condenado.

Mais um condenado, talvez até sem mais tempo.

Mas afinal, onde está o Senhor do Tempo?