STA. Parte I - A CONDENAÇÃO

Ali se predominava o silêncio

De superioridade tão forte, quase serena.

Entre os mantos de luz que ali se fixavam.

E dentre essas figuras de luz, uma fila pequena.

Fila de almas tão vazias com pedidos de redenção.

Entre as cabeças baixas e sob o silêncio,

Ouviam-se os gritos de desesperados.

Gritos vindos dos olhares dos suplicantes,

Que choravam ao pedir uma chance de recomeçar

Pois da Escritura esperavam um novo perdão.

A luz emanada que crescia a cada novo “membro”

E, assim, acalmavam ali a todos os presentes.

Mas ainda podiam-se ouvir das almas os gritos abafados,

Os mais errantes sempre os mais suplicantes.

Gananciosos, até ali cultivadores de ódios então.

Mas entre eles estavam os silenciosos,

Os consumidos pela culpa dos erros cometidos,

Erros cometidos nas tentativas de acertar.

Ora por um grande amor, ora por simples carência,

Motivos diversos que escondiam o verdadeiro: Paixão.

Ali todos eram iguais aos olhos dos juízes,

Não importava o feito ou a verdadeira intenção.

Mesmo aqueles que ainda eram corroídos pela paixão,

Apenas desejando o fim para aquela dor e nada mais,

Ainda eram para Eles, pecadores em busca de redenção.

Não muito se sabiam sobre os mantos de luzes,

De onde vieram, quem eram, por que se reuniam ali.

Nunca entendi, ao certo, porque eram eles que nos julgavam.

Mas há muitas coisas justas ou injustas, certas ou controversas,

Na vida e na morte, que nunca teremos as respostas.

Nunca soube o nome de nenhum deles,

Mesmo os conhecendo há algumas eras.

Compartilhamos um pouco nossa serenidade.

E confesso que Aprendi muito com suas sabedorias,

Mesmo me perguntando se eu já não teria que saber tudo.

Mas lá estava eu em profundo silêncio,

Desta vez no final da fila, perdido em pensamentos.

Estava cansado do meu fardo e começava a duvidar

Se ainda conseguiria suportar por mais tempo.

Eu amava o mundo, só não sabia no que ele se transformou.

“Não devias estar aqui, o que te traz a este lugar com tantas dúvidas?”

Olhei surpreendido para o ser de manto de luz que parava diante de mim

Seus olhos de paz e o sentimento de pureza que ele transpirava,

Tudo isso me deixava mais em dúvida do que eu estivera fazendo ali

“Eu sinto que sou mais um dos pecadores desta fila”

“Mas tu não és o amor?” disse-me com um sorriso sereno.

“Sim, sou. Mas acho que pequei tanto quanto os que aqui estão”.

Tocou-me meus ombros, e olhando fixamente, me disse:

“Como o sentimento mais puro pode ser um pecador?”.

“Eu errei. Achei que bastava fazer as pessoas amarem e o mundo seria perfeito”.

“E não deveria ser?” perguntou-me desta vez com uma sombra de dúvida.

“Deveria. Mas eu não tinha a sabedoria de que o tempo não é um só,

são gêmeos e cada um deles age diferente”.

Em silêncio, então, ficamos.

Refletindo sobre os dois irmãos.

Sua luz pacífica e serena que tanto transmitia diminuiu.

Como se agora sua própria luz tivesse dúvida.

“Conte-me tudo, é importante pra nós, juízes dos homens,

Saber o pecado que o amor diz ter cometido.”

E então, olhou fixamente para mim, esperando refletir o que eu fosse contar.

“O que fiz, foi o que nasci para fazer,

Amar, unir, pacificar, introduzir a felicidade.

Nem me lembro de quando nasci, acho que nenhum de nós se lembra.

Mas desde o início fiz isso, e sempre me trouxe prazer,

Criar um grande amor, pra vida toda, é muito difícil de fazer.”

“Mas o fiz, fiz como se não houvesse amanhã,

Dei amor a todos, dos mais jovens e sonhadores

Aos maiores desistentes. Dei tudo que podia.

Tive as maiores e melhore intenções

e acabei por cometer um dos maiores erros”

“Eu segui o tempo de cada um,

assim que florescia o jovem eu dava um amor.

Mas eu não entendia o que tinha mudado,

Eu não entendia o que acontecia,

E cada vez mais eu tentei, mais amor eu dei”

O ser do manto iluminado me olhou repleto de dúvida,

Como se ele absorvesse toda a história com o coração.

Talvez isso que os dessem o direito de julgar.

E com um olhar penoso de dúvida questionou-me:

“Me explique, como você errou dando tanto amor?”

“Eu errei por achar que o tempo era um só”

Desta vez, dei uma pausa maior para conter uma lágrima.

“Mas o tempo são irmãos gêmeos que não se falam,

E fazer alguém amar quando os tempos não estão juntos,

É arrancar um pedaço da alma dessa pessoa.”

“Quantas lágrimas ainda hoje são derramadas por amarem fora do tempo?

Quantas palavras são escritas por lágrimas?

Quão frio um “eu não te amo” pode trazer a uma pessoa?

É tão triste ver alguém imaginar uma vida com outra pessoa, e saber,

Que por não erro meu, esse sonho ficará apenas na imaginação”

E a cada pergunta feita mais se reuniam os mantos iluminados ao meu redor

Todos olhando para mim, olhares tristes, outros abismados,

Outros com olhares frios, olhares sem alma,

como se também tivessem perdido a fé em mim,

a fé que eu já mesmo já não tinha mais.

“E aqui estou, senhores, para ser julgado, mas não como humano.

Pois humanos têm o direito de errar, nós não.”

Tirei do meu manto vermelho, já sujo com o tempo, uma sacola.

“Além disso, Senhores, trago-lhes aqui esta grande sacola.

São os pedaços de cada alma que machuquei.”