Breves comentários sobre o texto: Nietzsche: uma crítica radical, de PORTOCARRERO, Vera.
[ breve resumo, escrito por demanda disciplinar do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade Federal da Bahia ]
Resumo do texto: Nietzsche: uma crítica radical, de PORTOCARRERO, Vera.
Neste capítulo, Vera Portocarrero, professora da Universidade carioca Santa Úrsula (USU), em poucas páginas aborda alguns temas do pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, pondo à vista seus principais posicionamentos teóricos, suas críticas à cultura ocidental e principalmente à modernidade, citando trechos de algumas de suas obras.
O primeiro tema pelo qual se ocupa a professora delineia o criticismo ferrenho do alemão, principalmente sobre o que diz respeito à moralidade cristã, a qual atribui valores do fraco que funcionam como medidas gerais do mundo, verdades incontestes. Nietzsche via nessas formas de conduta impostas pelo platonismo (o cristianismo dos pobres) a expressão dos fracos espíritos que, para fugir da dura, dolorosa e cruel realidade do mundo, arquitetavam valores que conferem a certos comportamentos e atitudes – que são desprezíveis num ponto de vista nobre – o valor de bem, em oposição ao mal. Portocarrero também aponta que a principal causa desse comportamento crítico do alemão é suscitado pela preocupação de Nietzsche com a modernidade europeia, que construía como principais fundamentos científicos o legado positivista.
Para Nietzsche, a racionalidade ocidental, tal como ela se constituiu no decorrer da história é conflitada pelo espírito negativo de domínio, algo próprio do homem sadio e que o autor alemão denomina: vontade de potência. Essa vontade, segundo o autor, é o que funciona como motor de todas as atitudes do homem e, até mesmo, dos empreendimentos racionais e intelectuais. E Nietzsche identifica nessas criações a inversão dos conceitos de virtude, no qual a moral do fraco tenta negar os instintos, atribuindo somente à racionalização e sistematização das ideias e conceitos algum valor. É em sua obra, Para além do bem e do mal, que ele aponta a existência de atividades instintivas até mesmo nas produções mais conscientes do humano e, também, que é prova de uma decadência do que é feito na filosofia e na tentativa dos filósofos em criar verdades e estabelecê-las como réguas e compassos do mundo. Esses juízos de valores, segundo Nietzsche, não devem ser classificados como verdadeiros ou falsos, mas apenas como sintomáticas idiotices do espírito fraco. Para o pensador alemão o que ocasionou principalmente esse processo de decadência foi a supervalorização dada à razão, fazendo com que esta ignorasse e desclassificasse os instintos e suas sabedorias. Nietzsche usa como personagens principais de seus primeiros estudos Apolo e Dionísio, deuses gregos que representam princípios opostos, o primeiro, Apolo, tende a: harmônia, beleza, razão, saber científico, e que auspicia tornar a vida algo desejável, leve, disfarçando suas dores e dissabores, com conceitos e valores claros e distintos; já o segundo, o Dionísio representa exatamente o contrário: a extravagância, a dor e a contradição, é ele o deus da vida bruta e cruel, mais ainda: da vida real e de sua fugacidade ordinária.
É por isso que Nietzsche julga necessária essa relação de disputa entre as forças apolíneas e dionisíacas, considera ele que a tragédia grega é a melhor representação desse dualismo. O mundo cruel e sombrio apresentado por Dionísio precisa do contraste apolíneo tornando-o mais habitável, com suas criações belas e perfeitas, para que haja uma vida esperançosa.
Como foi comentado ligeiramente acima, Nietzsche procede a inversão dos valores, toma o que foi produzido pela moralidade cristã e vigora no pensamento ocidental como principais verdades e explicações de mundo, no seu contrário: o dispensável e desprezível. Nietzsche chama isto de transvaloração (tresvaloração) dos valores – da oposição entre bem e mal (fruto da moralidade escrava) para diferenciação entre bom e mau (como ocorre na moralidade superior). Torna-se então do interesse do autor na discussão sobre o valor dos valores, o que ele chama de genealogia dos valores, ou seja, conhecer as condições e o ambiente no qual se introduziram e desenvolveram os valores, para que se possa fazer uma dura crítica dos valores morais – pertencentes ao espírito do fraco – questionando seus modos de aceitação nas sociedades ocidentais.
A professora Portocarrero expõe o fato de Nietzsche ser o primeiro a tecer tais críticas, pelo menos do modo como ele as fez, aos valores morais. Eram inovadoras e, certamente,bastante polêmicas, tendo em vista que eram objetos da crítica de Nietzsche toda produção do conhecimento racional e puramente apolíneo da cultura ocidental que, como sabido, é base para todas realizações importantes dessa parte da humanidade.
Vera Portocarrero encerra o capítulo comentando sobre o legado deixado por Nietzsche e sua recepção e interpretação póstuma, reconhecendo que a maioria das posições e sentimentos despertados pelo assaz crítico alemão – sejam eles de ódio ou admiração – são, em sua maioria, frutos de uma leitura apressada ou inconclusa, que não leva à lugar algum. O que é certo é que todo estudo empreendido sobre filosofia, depois das produções nietzscheanas, não pode desconsiderá-las. É Nietzsche, sem duvidas, um dos maiores representantes críticos do pensamento moderno da filosofia.
Referência Bibliográfica: PORTOCARRERO, Vera. "Nietzsche: uma crítica radical" In: Curso de Filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 8.ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Ed. 1998.