A Cesar o que é de Cesar

ÉTICA

Numa de minhas faculdades, ainda não existia a internet. As pesquisas eram feitas através da leitura de livros e de consulta de manuais e revistas, de forma que apresentei um trabalho de estatística onde comparava diversos indicadores de inflação. Nos tempos de escola, um colega “copiou e colou” um artigo inteiro, apresentando o seu trabalho de conclusão de curso, como se tudo fosse seu. No mundo corporativo, vez por outra, pessoas reclamam do roubo de ideias.

Com certeza, nada disso é novidade. Uma coisa não mudou: a necessidade de citação das fontes. Afinal, apossar-se de algo indevidamente, não é certo!

Fazendo um paralelo com o mundo corporativo, os trabalhos que são desenvolvidos por uma pessoa para uma empresa pertencem a essa e não devem ser motivos de qualquer reclamação de autoria de ninguém. Algo muito claro, tendo-se em conta que prestamos serviços para alguém, quem é o “dono” do que produzimos durante o tempo em que trabalhamos.

Nessa ótica, tudo bem e tudo estaria certo, não fosse a inclusão de mais um polo: diretorias que transferem a autoria de trabalhos de um grupo para a responsabilidade de uma única pessoa daquela equipe, com o fim específico de fortalecer alguém (mesmo se em detrimento dos demais). Isso por razões das mais variadas possíveis, desde simples “paixão” até falta de capacidade ou até de caráter mesmo.

Igualmente, o roubo de ideias nas empresas é perceptível do ponto de vista dos erros e acertos: “se está tudo certo fui eu quem fez, e estando errado ou carecendo de revisões, foi feito por um colaborador ou por outra pessoa".

Sem contar que ainda pode surgir aquela máxima de que “eu avisei”!

O que dizer de situações assim? Eu já vivenciei algo parecido. Nunca soube, porém, se quem aceitou o mérito do trabalho, o fez por falta de experiência ou de caráter, por que se o trabalho não era seu, nada mais natural, do que ser humilde e transferir os louros para o seu dono. É uma situação muito parecida com aquela de quem mente: “a pessoa inventa tanto” que chega num ponto que passa a acreditar em suas próprias invenções.

Também já me perguntei o que pode ser feito, numa organização que adota esse tipo de postura, para que constrangimentos assim sejam minimizados ou até mesmo reduzidos. Não encontrei respostas.

Acredito que o roubo de ideia acontecerá muitas vezes mais, desde que exista a combinação de um colaborador extremamente habilidoso quando o assunto é convencimento, muito manipulador, um gestor fraco, tendencioso e um grupo de seguidores do “espertinho”.

Perguntará o leitor então: se a ideia é da empresa, por que essa não pode fazer o que quiser e transferir a autoria para esse ou aquele colaborador? E eu digo que pelo simples fato de não se criar um clima de desmotivação na equipe, assunto muito recorrente nas organizações, quando essas buscam formas de motivar, exatamente o contrário do que tento expressar.

Sei de exemplos de organizações que de certa forma incentivam esta prática. Afinal admitir que colaboradores utilizem os espaços destinados em reuniões, para promoção pessoal, para a venda de ideias alheias, para apresentarem como sendo de sua autoria, trabalhos elaborados por outro colega, tem tudo para chegar ao ponto de onde partimos: o roubo de ideias.

Li recentemente, que numa empresa um determinado diretor tinha por hábito atribuir as ideias ou os trabalhos a uma única pessoa, por ser esta mais próxima sua. Imagine-se, então o constrangimento ou a indignação dos autores, obrigados a passarem por situações tão desagradáveis. Sem contar ainda, que provavelmente a recompensa era repassada para aquele que ganhou de graça algo que não lhe pertencia.

Roubar o trabalho de outrem é no mínimo falta de ética. Mesmo sendo um trabalho coletivo, ninguém tem o direito de se apropriar de algo indevido em benefício próprio. Esse constrangimento precisa desaparecer.

Volto no código de conduta das empresas, o qual pouco traz sobre o assunto. E os aproveitadores usam e abusam do artifício.

Negociar algo favorável a uma organização, que agregue valor a empresa, perpetue seu negócio e ainda gere renda para a população é algo que qualquer “chefe” quer. Dar o valor para quem elaborou e coordenou a ideia é no mínimo o menor tipo de reconhecimento que uma diretoria ou uma organização poderá fazer para manutenção da sua credibilidade e demonstração de imparcialidade para com seus colaboradores.

* Pedro Pereira Fernandes Neto, (e-mail: pdr.pereira@gmail.com), formação na área de exatas (Engenharia Civil e Matemática, com especialização em Gestão Empresarial e logística), é um iniciante na arte de escrever sobre gestão de pessoas.

PPereira
Enviado por PPereira em 08/06/2014
Código do texto: T4837008
Classificação de conteúdo: seguro