Narrador na 3º pessoa

Ele vinha a passos largos, tinha pressa de chegar, mas chegar aonde? Vinha de onde?

Quanto mais ele se aproximava, mais tinha a intenção de acelerar, mas se perdia nos passos.

Qual realmente era sua motivação, qual era seu destino.

Observava o que estava ao seu redor, muros, grades, casas, arvores, carros, pessoas e o nada o vazio a falta do que se sentir, ver ou falar.

Qual o destino, qual a meta?

Tanta coisa ao seu redor, tangível e contraditoriamente intangível.

Medo, culpa, desespero, aflição, ansiedade, disposição, coragem e determinação, tudo corria pelas veias dele.

A frente uma porta que ele reconhece de tempos estranho e insólitos, pensa, devo atravessar esta porta, não obtém uma resposta segura, mas ainda assim se propõem a abrir esta grande e pesada porta.

Ranger de dobradiças é a sua recepção mais calorosa naquele momento.

Entra na casa e observa tudo ao redor, se arrasta a passos lentos para sala onde vê pinturas e retratos sobre as estantes e prateleiras.

Ao observar alguns retratos vê varias pessoas que acreditar reconhecer, fagulhas de memórias queimam em sua cabeça.

Reconhece uma criança em uma das fotos, ou pelo menos acredita reconhecer.

Quer acreditar cegamente que se trata se si em um passado distante, quando era uma criança que a única preocupação era brincar, correr, estudar e ver o tempo passar lenta e calmamente, algo totalmente indisponível para ele nos dias de hoje.

Novamente se arrasta a passos titubeantes pela casa em direção aos quartos.

Nenhuma alma viva é encontrada no caminho, mas ele sente algo muito próximo, fantasmas, pensa.

Ao chegar a um dos quarto, um que realmente chamou sua atenção pela decoração da porta, novos lampejos de memória o arrebatam, estas com uma solides que não havia sentido nos lampejos anteriores.

Ele começa a entender que realmente a criança que vera na foto se trata de si.

Adentra pelo quarto, se depara com objetos de sua infância e juventude que indicam ter vivido muitos anos ali, estima algo em torno de 20 anos.

Novos lampejos de memória o esbofeteiam, trazem algumas lembranças desagradáveis, discussões com os adultos que ele entende que são seus pais.

As ideias começam a clarear em sua mente indicando que seu passado não foi assim tão feliz.

As memórias sobre discussões começam a se tornar mais claras e amedrontadoras e se ve como maior causador delas.

Ele começa a entender os motivos das brigas.

Drogas, álcool e festas intermináveis regadas a desentendimentos brigas e confusões.

Pessoas ao seu redor, todas de alma negra, filhos do anjo caído, estavam levando ele para um buraco de onde não teria chances de sair.

Os pais, cansados das confusões e discussões tomaram a única decisão que lhe restaram, o internaram em uma clinica para pessoas com problemas mentais.

Clinica esta que, com métodos nada convencionais, o fizeram esquecer-se das drogas e álcool, mas com um efeito colateral, esquecer de todo o restante também.

Anos se arrastaram com sua permanecia em um estado semi vegetativo onde as coisas passavam em sua volta em câmera lenta, graças aos comprimidos que era obrigado a tomar todo este tempo e com as ajuda dos eletrochoques, tratamento muito usado na clinica.

O acaso ou a sorte talvez o destino quisesse avaliar qual seria a reação ou quais as mudanças aconteceriam caso ele tivesse uma oportunidade ser sair daquele buraco onde estava trancado.

Um dia de grande tempestade, algo que sempre acontecia, todos os anos varias tempestades afligiram aquela região, mas aquela tinha algo muito diferente, os raios tinham uma intensidade, um brilho que chamava a atenção, não apenas dele, mas de todos que estavam lá.

Os para-raios estavam dando conta de receber estes raios até o momento em que um dos raios danificou os equipamentos.

A sequencia foi um conjunto de raios atingindo o prédio da clinica causando um total descontrole nos internados e funcionários.

Janelas quebradas possibilitaram a funga de vários, inclusive ele.

A fuga foi algo muito mais motivado pela movimentação dos outros do que por vontade própria, pois, ainda sobre o efeito dos remédios, as ações eram pouco proativas.

Ele seguiu desnorteado, os outros que mais desnorteados ainda corriam pela chuva e trovoes em direção a mata próxima da clinica.

Com a chuva para lavar a alma e o período sem a medicação a cabeça começou a clarear e a necessidades a apertar.

Foi atrás de comida e água.

Sentia que tinha de se afastar de onde estava, pois era perigoso.

E sentiu um forte aperto no peito que o empurrava para a pequena cidade próximo de onde estava.

Assim começou a caminhada até onde ele se encontrava naquele momento, dentro de seu quarto.

Ele estava com a cabeça cheia de lembranças novamente, memórias que havia perdido há tempos, foram recuperadas.

O que fazer com tudo isto, um turbilhão de sentimento o torturava, culpa por tudo o que fez alegria por ter voltado e medo, pois não sabia como seria recebido.

Medo este que aumento quando ouviu vozes, vozes esta que se lembra, agora, claramente, são seus pais.

Vozes nervosas e assustadas, pois quando os pais chegaram à casa a porta esta aberta indicando que poderia haver algum estranho.

O pai tomou um bastão às mãos e começou a caminhar em direção dos quartos, pois toda aquela caminhada feita por ele havia deixado passos, inclusive no tapete e nos degraus.

O que ele deveria fazer, afinal de contas ele era um fugitivo.

Estava congelado, parado no meio de seu quarto.

Resolveu, em um impulso pouco pensado, sem ponderação, sair do quarto.

Deu de cara com o homem que acreditava ser seu pai, o susto foi inevitável, pois ele estava quase que irreconhecível. Tanto a fuga quando a clinica haviam alterado em muito sua aparência.

Fato este que lhe rendeu um belo golpe do bastão em seu braço que o levou ao chão e teria ganhado vários outros se não fosse à mulher que ele entendia como mãe, ter impedido o homem.

Ela o reconheceu, mesmo através daquele corpo judiado e mal tratado, ela o reconheceu.

Ele acreditou, por um instante estar em casa, no aconchego do lar novamente.

Acreditou estar salvo.

Ainda tonto pela pancada ele escutou sirenes, carros da policia estavam se aproximando, a ambulância também.

Já no hospital, com o braço engessado e a situação esclarecida acredita estar em paz.

Acredita que terá um retorno calmo a sua casa onde realmente poderá descansar em uma cama confortável.

Ele, agora com a mente mais limpa, levanta do leito do hospital e vai até o banheiro.

Ele encontra algo que não vê há muito tempo, um espelho.

Ele se olha no intuito de se rever, pois espelhos não existiam na clinica.

Ele se vê... Ele vê... Eu... Eu me vejo, vejo o que me tornei, vejo o resultado de minhas decisões erradas, vejo o quanto fui destrutivo, o quanto me prejudiquei.

Ele sou Eu, mas ainda assim penso que agora poderei ter uma chance de mudar.

Acredito que meus pais, mesmo depois de tantos maus tratos, me aceitaram de volta.

Eu... Ele... Um só.

Escuto a voz da enfermeira a me chamar, saio devagar do banheiro pois ainda estou debilitado.

Ela não esta sozinha, esta com dois enfermeiros.

Eu os reconheço, são da clinica.

Por alguns segundos congelo, mas em seguida tento esboçar uma reação, não tenho força para isto.

Sou agarrado pelos enfermeiros, colocado na cama e a enfermeira aplica uma forte droga.

Eu sinto meu corpo mole, minha mente indo para longe, minha razão, a tão pouco recuperada, esta novamente sendo tirada de mim.

Eu... Eu... Ele... Ele é levado para clinica, pois deve ser internado novamente.

La é o seu lugar, não ao lado de pessoas civilizadas, mas sim, prezo em uma sala medica controlado, quieto.

Assim esta ele, sem incomodar mais ninguém... Assim estou EU...