Teologia da Felicidade II

 

O que significa promover o Reino de Deus do modo como Jesus o realizou ?

 

O problema levantado está na identificação, separação e compreensão da passagem de Marta e Maria. Uma representa a ação contemplativa (Maria); a outra representa a ação serviço (Marta) e a velha questão que nos atormenta há séculos, qual delas é a mais importante ?

As duas, pois o seguimento do chamado de Jesus passa, obrigatoriamente, pela pessoa de Cristo (contemplação) e, também, pelo projeto do Reino de Deus (serviço). Ambas se fundem, mas jamais se confundem.

Depois de 2.000 anos de história, pouca coisa aprendemos e ficamos pendentes ao velho e surrado tema do poder e da dominação que atrapalha todas as ações dos fiéis, como J.M. Castillo em seu livro “espiritualidade para insatisfeitos” identifica, muito bem, como os “espirituais e os sociais”.

Sou mais crítico. Entendo que a nossa sociedade está dividida em duas partes. Uma, pratica a caridade libertadora e outra pratica a caridade opressora. Obviamente, a primeira é pouco representativa, mas é a que se identifica com o “projeto” de Jesus : o Reino.

A caridade libertadora ensina os necessitados, os marginalizados e excluídos da sociedade a pescarem. Procura libertá-los para voar por conta própria. Uma sociedade de caridade libertadora investe na educação e na saúde do povo, por razões óbvias.

A caridade opressora, nós a conhecemos muito bem. Temos, no Brasil, um exemplo clássico : o programa “bolsa família” cujo princípio ativo é justíssimo, mas que na prática esconde em seu bojo uma das ações mais perversas contra a dignidade humana e o respeito aos semelhantes.

A caridade opressora tem como objetivo principal manter o poder e a dominação sobre uma certa camada social, de preferência os menos favorecidos, menos esclarecidos, pobres e humildes. Escravizá-los pela “boca” e pelo voto.

 

Temos 3 obstáculos sociais baseados no projeto de poder. O poder econômico, o poder político e o poder religioso. Unidos ou separados são responsáveis pela crise de hipocrisia que assola as camadas sociais cristãs.

Atualmente, percebemos que os 3 resolveram dar os braços para, mais fortes do que nunca, oprimir e sufocar a sociedade, pois só escutamos proibições, repressões, reprimendas, autoritarismo e violência, muita violência. Aqueles que no passado lutaram bravamente contra as estruturas sociais injustas, agora, no poder, agem da mesma forma que os inimigos de outrora. E o chamamento de Jesus para a implantação do projeto Reino de Deus fica no ostracismo.

Interessante que aqueles que praticam um dos 3 obstáculos acima identificados, são exatamente os que Jesus aponta como membros dos dois grupos que jamais entrarão no Reino de Deus : os ricos e os poderosos. E por que ? Porque são os grandes responsáveis pelo sofrimento, pela dor, pela angústia, pelo medo, pela indignidade a que são submetidos os pobres e marginalizados da sociedade.

Jesus não tem nada contra os ricos e poderosos. Desde que os ricos sejam capazes de fazer o bem e suprir os necessitados com o que precisam. Desde que os poderosos usem o poder para dar dignidade a vida de todos os membros da sociedade. Assim, começam a exercitar, um pouco, o projeto do Reino de Deus, que Jesus veio para nos ensinar.

É preciso compreender que ser cristão tem nada a ver com sofrimento e dor. Ser cristão é praticar o bem, promover a justiça e agir com a verdade. Ser cristão é “amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo”. Reflexão : Você gostaria que fizessem com você aquilo que você faz com os outros ?

 

 

Leandro Cunha

maio/14