Clarice, um regra da exceção
Clarice Lispector, considerada uma das mais importantes escritoras do nosso país, toda via, não recebe o devido crédito pela sua grandiosidade literária. Todos que tem a oportunidade de entrar em contato com um texto de Clarice, invariavelmente, se apaixona. É como beber um néctar inebriante, algo parecido com a Ambrosia dos deuses. Mas porque, apesar da sua comprovada superioridade enquanto escritora, Clarice não é reconhecida, efetivamente, como uma escritora canônica, por exemplo? Alguém já parou para analisar que, apesar da relativa popularidade acadêmica, Clarice Lispector não está no rol dos aclamados escritores brasileiros? Falta de sensibilidade dos nossos acadêmicos, ou simples desprezo ao novo e inusitado? Bom, seja lá qual for a resposta, ainda não justificará tal fato, não por completo. Clarice surgiu com a “missão” única de quebrar paradigmas e desconstruir a forma. Escrever para ela, não era um ato de prazer, não era uma massagem ao ego, mas era uma tortura exigente e necessária. Ela precisava escrever, precisava sentir-se viva por meio do que colocava no papel. “Quando não escrevo, estou morta” disse ela, sabiamente, na última entrevista que concedeu, em janeiro de 1977, alguns meses antes do seu triste falecimento. Seria Clarice uma espécie de bruxa? Apesar do seu ar místico, a única bruxaria que ela praticava, era a das palavras. Com um estilo único, revolucionou a forma de escrever romances, dando a eles, muitas vezes, um tom de incompletude que podia ser de algum modo, preenchida pela fértil imaginação do leitor. Sua missão não era apenas publicar e pronto, era levar a palavra ao limite, era dissecar a alma humana como um médico disseca um corpo, era ir ao âmago, era tocar na mais árdua ferida. No entanto, não tinha a intenção de ser cruel, queria apenas revelar-se, mostrar-se, para que todos notassem que, apesar de tudo, ela também era humana e sangrava, e sentia e desejava. Clarice permanece um mistério fascinante, um mistério que nos leva a imaginar e a suscitar. Afinal, “Que mistério tem Clarice?”