Deus : quanto mais sofrimento melhor !


1. Onde se encontra o centro da espiritualidade cristã ?

O centro da espiritualidade cristã é a VIDA. Se olharmos com atenção 3 das mais significativas parábolas de Jesus, entenderemos isso. A parábola do bom samaritano; do filho perdido e da mulher adultera. Nas 3 passagens Jesus estressa que a “vida” é o bem mais precioso do universo. Nas 3 parábolas Jesus foca no amor fraterno, na misericórdia.

Naquela época, o amor tinha significado concreto, diferente do que entendemos hoje : amor é sentimento. Na Palestina de então, amar era ação, atitude, gesto concreto. Na parábola do bom samaritano isso fica claro, quando o samaritano desce do seu cavalo e, agindo piedosamente, socorre e acolhe o homem que tinha sido assaltado.

No Brasil de hoje vivemos uma enorme incoerência. Se somarmos os católicos e os evangélicos teremos os cristãos como a maior força religiosa do país. Mas vivemos a cultura da morte, da violência, do desrespeito ao outro, da escravidão, da exploração, etc. Jesus deve ter uma profunda tristeza e decepção com os brasileiros, pois Ele nos deixou um único mandamento : “- amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”.

Amor é vida ! E no Brasil de hoje, banalizamos a vida e convivemos com a violência e com a morte como se isso fosse a “coisa” mais natural do mundo. A espiritualidade cristã encontra-se em Mt 25, 31-46. O encontro com Deus está no humano, passa por ele e a reciproca é verdadeira. Deus, ao se encarnar, funde-se e confunde-se com o humano, isto é, com a VIDA. O encontro com Deus deveria ser a libertação de tudo aquilo que nos causa sofrimento, dor, tristeza e angústia. Mas a hipocrisia nos domina.

2. “Quanto mais sofrimento, mais perto de Deus estamos”. Como refutar isso ?

Há uma visão obscura de que Deus quer o sofrimento, a dor e a morte das pessoas e isso é cultuado de forma ampla pelas igrejas cristãs, pela maioria dos fiéis, incentivada pelo clero e por diversos autores na cultura cristã. É compreensível, pois no cristianismo celebra-se muito mais a paixão e morte de Jesus do que a sua Ressurreição.

Além do mais, é bom lembrar que as pessoas, via de regra, só se lembram de Deus nos momentos críticos de suas vidas. É quando rezam, fazem novenas, promessas, vão à missa, etc. Quando a vida está boa, não se lembram de Deus e fazem tudo mecanicamente e raramente agradecem. Por isso, fica na memória esse Deus de sofrimento.

Agora, pergunto : - nos 33 anos que Jesus viveu entre nós, em nenhum momento Ele sorriu, deu gargalhadas, contou piadas, nadou no rio, pulo cordas, dançou, brincou com as outras crianças, foi a festas, cantou, fez travessuras como qualquer outra pessoa ?

Se Deus se humanizou através de Jesus, Ele viveu sim todas as nossas experiências. Caso contrário, Ele não se humanizou ! Essa “cultura” do Deus de sofrimento é um equivoco. Teríamos um Deus masoquista ? Um Deus que cria obras maravilhosas como o ser humano para vê-lo sofrer ? Um Deus que encarna seu Filho no mundo para que Ele morra ? Deus é VIDA.

A dor, a tristeza e o sofrimento são fatos deste mundo, resultado da liberdade de vontade que Deus deu ao homem e das opções deste. Deus é amor e assim sendo, é alegria, felicidade, realização, crescimento, fecundidade. Quer uma prova de que Deus é vida ? De que Jesus é alegria ? Leia Lc 7, 11-16 o encontro entre Jesus e a viúva em Naim. Ele não ficou chorando e se lamentando junto com a viúva, Ele ressuscitou o jovem e promoveu a alegria do garoto, da mãe e de todos : “ e correu dele essa fama por toda a Judeia e por toda a terra circunvizinha” (Lc 7, 17).

Entenda que Deus é o único “parceiro” que estará com você na “alegria e na tristeza, na saúde e na doença”.

 

Leandro Cunha