O homem segundo o Espírito
Qual a diferença entre religiosidade e espiritualidade ?
Religiosidade = é a tendência manifestada coletivamente sob a forma de expressões cultuais de grande significado humano e espiritual. (Enciclopédia Católica Popular).
Espiritualidade = é o ideal cristão; pode viver-se pondo o acento tônico em determinados dos seus aspectos essenciais, do que resulta especial, normalmente inspirada pelo exemplo dum santo ou família religiosa. Pode assim falar-se de espiritualidade monacal, beneditina, franciscana, carmelitana, jesuítica, etc. (idem).
Mas quer entender melhor, ainda está com duvidas ? Vamos beber na fonte. Qual a razão do terrível conflito entre Jesus e os Fariseus ? O ponto fundamental desse atrito era exatamente a religião judaica praticada na época. Ou melhor, como os fariseus vivenciavam aquela religião. Enquanto eles estavam presos à religiosidade, Jesus difundia a espiritualidade. Eles manietados à lei, Jesus ancorado no amor fraterno e na alteridade. Não há espiritualidade sem alteridade !
A religiosidade escraviza, a espiritualidade liberta. E foi isso que Jesus veio nos “ensinar”. Dizia ele “Eu não vim mudar a lei, eu vim aperfeiçoá-la”(Mt 5,17). Assim, temos um entendimento de que Jesus não veio implantar nenhuma religião. O que Ele queria era colocar a religião do seu povo de volta aos trilhos naturais.
A espiritualidade é um degrau acima da religião. Alguns autores dizem que com o tempo descobrimos a espiritualidade. Discordo ! Toda iniciativa parte diretamente de Deus. Foi Ele quem se revelou aos homens, foi Ele quem escolheu o seu povo, foi Ele quem libertou o povo da escravidão no Egito, foi Ele quem nos proporcionou a beleza de sua encarnação através de Jesus. Assim, é Ele quem nos conduz para a espiritualidade e para a santidade.
Viver segundo o Espírito quer dizer o seguinte : viva a vida conforme a sua espiritualidade, seja coerente, pratique o que você prega. Você pode enganar todo mundo, mas não engana o Senhor e é a Ele que vale o seu comportamento, a sua vida. Falar em espiritualidade significa tocar em dois pontos simultaneamente : o homem e a fenomenologia. Quando falamos em Espiritualidade Inaciana, nos referimos ao homem Inácio de Loyola que deixou uma herança espiritual fabulosa, esta herança é o “fenômeno” a ser estudado, mas cada “inaciano” tem que agir conforme o homem e não conforme a instituição, pois o que é significativo é o modelo Inácio de Loyola. E assim será em todas as demais espiritualidades.
São Paulo define muito bem o significado de espiritualidade : “Mas o fruto do Espírito é : amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há Lei.”(Gl 5, 22,23).
Mas só alcançamos a espiritualidade através da experiência de Deus. Sem isso, ficamos na retórica, na ilusão, no sonho, na fantasia. A experiência nos transforma, nos converte verdadeiramente. É tão forte isso, que os grandes homens de Deus quando saboreiam esse momento único, mudam de nome, pois querem deixar claro sua transformação. Saulo de Tarso é um ótimo exemplo.
Na minha vida tive dois momentos críticos diante da morte e totalmente opostos. Ambos deixaram marcas profundas, e é impossível não compará-los. Um foi doloroso e sofrido, o outro foi motivo de alívio e agradecimentos. Em ambos os casos a experiência de Deus abriu as portas para o meu amadurecimento e percepção de que Ele é o Senhor e como diz Jesus : “Pai, afasta de mim esse cálice, mas que seja feita a Tua vontade e não a minha” (Lc 22,42).
A busca pela espiritualidade é um fenômeno atual de grandes proporções e gira pelo mundo todo. É como um homem no deserto em busca de uma fonte de água. Interessante notar que vivemos em uma sociedade materialista, consumista e que só dá atenção à produção e a produtividade, mas isso não satisfaz ao homem, ele quer mais, ele quer paz e a paz interior. Onde encontrar isso ? Na espiritualidade.
Nessa busca incessante pela paz interior, o homem se defronta com as mais diversas modalidades de “espiritualidade”, tanto ocidentais quanto orientais, tanto religiosas quanto comerciais. Em seu coração ele sabe que só através da paz interior (espiritualidade) encontrará as respostas para as suas angústias e ansiedades : “Quem sou eu ? Qual objetivo dessa vida ? De onde venho ? Para onde vou ? O que é certo ? O que é errado ?”
A espiritualidade busca o relacionar-se consigo mesmo, pois quem não conhece a si mesmo terá imensa dificuldade em conviver. Conhecer o outro é o importante exercício de saber ouvir e respeitar o direito dos demais. Conhecer a natureza, pois ela é a nossa casa, nos abriga, nos alimenta e nos dá segurança. Por fim, conhecer Deus, pois Ele é o princípio e o objetivo de toda existência, mas só é possível “conhecer” Deus conhecendo, primeiro, os demais. Conhecer, aqui, significa: AMAR.
Linhas da espiritualidade contemporânea :
a – O Concílio Vaticano II convida o católico a “tornar-se espiritualmente maduro”, a união com Deus ;
b – Trata-se de um novo estilo de vida, uma transformação, não só um olhar para o “outro”, mas agir em prol do “outro” ;
c – A espiritualidade deve estar inserida no coração de todo homem aberto ao único mistério de Deus : Jesus ;
d – Para o verdadeiro cristão a fé somente não basta, é árida. A fé em Jesus nos conduz, obrigatoriamente, a imitá-lo e a consolidar suas palavras : “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,17). Este é o caminho para alcançar a espiritualidade ;
No mundo de hoje é muito difícil atingir a vida espiritual, precisamos trabalhar e essa atividade consome tempo precioso em nossas vidas. Mas é possível conciliar, e essa conciliação passa pela criação de um “ambiente divino” em sua vida e em suas ações de forma a deixar as portas de seu coração abertas para que Deus entre e se sinta em casa.
A espiritualidade é libertadora, mas precisa de “atitudes” :
a – Conversão ao próximo oprimido – a denuncia e a luta árdua contra todos os tipos de estruturas sócias injustas. Alinhar-se não somente aos pobres materiais, mas aos “pobres de espírito”, também. Lembre-se do que disse Jesus : “Não necessitam de médico os são, mas, sim, os doentes” (Mt 9,12).
b – Celebração histórica do mistério pascoal – a espiritualidade deve vivenciar o mistério pascal não apenas como culto, mas sobretudo em dimensão histórico-social e salvífica também.
C – Gratidão, alegria e esperança – Se Deus age na história a favor de “todos os homens”, o cristão se alegra com gratidão e a esperança na “força do Espírito Santo” que o conduzirá ao Pai.
Quais as dimensões de qualquer espiritualidade ?
a – Interioridade – unidade de alma com Deus ;
b – Abertura ao Transcendente – colocar-se em relação com Deus ;
c – Servir – agir com amor fraterno, o “outro” em primeiro lugar ;
A espiritualidade cristã é o encontro de “comunhão” com Deus e está fundamentada em 3 pilares :
1. Praticar o bem ;
2. Promover a justiça e
3. Falar a verdade.
Leandro Cunha
abril/14