Porque a Arte?
Há algumas semanas participei de uma oficina na escola de teatro TESCOM. Excelentes professores, excelente programação, uma noite que transcorreu de forma perfeita, com muita energia e exercícios para despertar o corpo e a mente, a concentração, a percepção, o ritmo, entretanto, o que marcou a noite foi a conversa ao final da oficina. Todos sentados em círculo e, de repente o professor Marcus Di Bello pergunta: Porque a arte? O que nos motiva a escolher trazer a arte para a nossa vida? Ninguém nunca havia me feito essa pergunta... E eu nunca havia parado para pensar numa resposta...
Comecei a pensar e lembrar quantas vezes a arte fez parte da minha vida, quais as sensações que me ficaram na memória e me surpreendi! Lembrei o primeiro livro que li ainda em tenra infância e a alegria de concluí-lo! As primeiras emoções e lágrimas que brotaram diante do primeiro romance lido na adolescência (Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco); lembrei o encanto diante de cada peça teatral – os olhos fixos naquelas pessoas que davam vida às histórias ali, ao vivo, se dedicando a nos fazer rir, chorar, refletir... Lembrei do meu corpo vibrando quando comecei a praticar dança do ventre e da alegria ao acertar os primeiros passos... do encanto de ver as mais experientes dançando com maestria...Lembrei as noites em que vi pessoas se divertindo ao som de alguma banda em algum barzinho e das noites em que vi idosos dançando felizes como se os anos não lhes pesassem – quem lhes proporcionaria tal alegria senão artistas, músicos, professores de dança? E a sensação de tocar esculturas, traçar com os dedos as curvas tão trabalhadas por alguém que passou horas no exaustivo trabalho de criar, talhar, modelar? Depois vieram lembranças ainda mais doces e recentes: A primeira vez que o amor da minha vida segurou minhas mãos durante uma apresentação de orquestra no SESC... O primeiro beijo ao som de “faroeste caboclo” da banda Legião Urbana... E o quanto ainda me sobem lágrimas aos olhos quando essa música toca, ou quando vejo uma orquestra – lágrimas de alegria enquanto estávamos juntos, lágrimas de saudade depois que o romance acabou...
E o que tudo isso que relatei tem a ver com a pergunta? Simples! Relembrando tudo isso eu entendi finalmente o que me move em direção a arte quando quase todos ao meu redor insistem em dizer que eu deveria desistir. O que me move é a vontade de causar em outras pessoas as mesmas emoções que senti! Não é vaidade, não é vontade de ser famosa, conhecida, de arrastar multidões ou fechar contratos milionários... tudo isso pode acontecer ou não na vida de qualquer artista, mas nada disso é, no meu coração, motivo para dedicar a vida a algo. Em palavras simples, posso dizer que o que realmente me move é a vontade de entregar meu corpo, minha voz, minha alma a ser um instrumento capaz de emocionar, de inspirar, de fazer sorrir. A vontade de retribuir todas as emoções, de passar para frente uma energia boa. A vontade de um dia poder ensinar outras pessoas que também tenham o desejo de seguir a mesma estrada. Não me vejo fazendo da arte um “hobby” como muitas vezes me é sugerido, não, não seria o suficiente... Não é algo que eu deseje fazer “de vez em quando” e sim algo que deve me consumir para que a cada dia eu possa renascer. E só me resta uma pergunta, uma pergunta que somente o tempo irá responder: Qual arte a minha alma irá abraçar como vocação? Estou explorando tantas trilhas... Escrever, interpretar, cantar, dançar, tocar violão... Em qual delas encontrarei a morada da minha alma se até o momento gosto de todas de igual forma? Será necessário mesmo escolher? Seja como for, pelo menos a resposta principal eu encontrei... E você? Já encontrou a sua resposta para as escolhas que fez na vida?