Odiosa Garota
“ (...)Quando uma pessoa é amaldiçoada, dois túmulos são cavados. Quando você morrer, sua alma cairá no abismo do inferno. (...)”
O ódio é algo que move as pessoas, é uma pequena semente guardada no coração de todos que cresce aos poucos virada para qualquer um. Estranhamente, esta semente cresceu virada para si própria.
A vida que a menina levava não era – de certa forma – ruim. Seus problemas não eram os piores do mundo, mas algumas coisas que ela devia ter superado destroem-na por dentro. A vontade de sumir, de ter uma vida nova, de sair daquela cidade detestável agora é misturada ao profundo ódio de sua existência. A bela vida da qual pode desfrutar, não passou de uma simples fachada para evitar perguntas de terceiros.
O que mais desejava era poder trazer a fantasia de seus desenhos para a vida real. Não seria legal morar numa vila e ser um grande ninja? Viver numa sociedade de vampiros. Poder mandar alguém para o inferno.
Talvez assim ela fosse mais feliz; porque ela não quer ter de estudar mais ainda, ter de entrar numa faculdade, trabalhar e ter uma vida.. Ela só quer desaparecer. Não foi planejada, não era pra estar aqui; não quer estar aqui.
Acordar todos os dias, escovar os dentes, se arrumar e ir pra escola. E tudo isso para que? A menina não se sente bem vivendo assim, não quer mais ver seus amigos ou sua família; gosta de todos eles, mas preferia não tê-los conhecido.
A vontade era de que a dor sumisse, e sumiu. A sensação de agora é de um buraco no meio do corpo, uma doença que corroeu todo o seu interior. Ela queria morrer? Talvez fosse isso mesmo, mas já sofreu tanto e já sentiu tantas dores que tirar a vida não é uma opção, por enquanto. Um acidente na rua já resolveria tudo.
Ah se a fantasia fosse real, digitar um nome e presenciar este alguém desaparecer indo direto ao inferno. Não é segredo algum o nome que seria digitado, o único mistério é se este seria aceito. Difícil encontrar alguém que destruiria a própria alma, mas não impossível não é?
É complicado entender, é complicado aceitar. Como alguém que tem tudo poder ser tão infeliz, e se é tão infeliz dessa forma por que ainda viver? Deve haver alguém por quem viver, deve haver algo pelo que lutar. Mas aos olhos da menina esta chama se apaga e ninguém consegue imaginar o seu próximo ato; acordar e escovar seus dentes como de costume, acordar e virar as costas para a vida que sempre levou ou – simplesmente – não acordar.
Como alguém aceitaria? Seus sentimentos vão contra os ensinamentos de toda uma era. Como alguém entenderia? Nem ela pôde entender.