Natália Moreira TOSATTI, nataliatosatti@yahoo.com.br, artigo: 2012

Resumo:

Neste artigo temos como objeto de análise o exame oficial de Língua Portuguesa

para Estrangeiros, o Celpe-Bras. Esse teste é baseado na execução de tarefas comunicativas e

é elaborado a partir do conteúdo de textos multimodais que objetivam avaliar a produção oral

e a produção escrita dos examinandos. Além de produzirem quatro textos escritos, de gêneros

diferentes, os candidatos à certificação participam ainda de uma entrevista. Sendo esse um

exame de natureza comunicativa, espera-se que o trabalho com gêneros textuais esteja em

consonância com essa proposta. Avaliar a proficiência de um indivíduo em uma língua

estrangeira é um processo que requer conhecimento dos avaliadores e critérios bem

estabelecidos, além de enunciados precisos o suficiente para abarcar as características da

proficiência dos examinandos. A busca por instrumentos válidos e confiáveis de avaliação

motiva pesquisas e estudos, na área da Linguística Aplicada, que tenham como foco exames

que se propõem a medir a competência linguística de um indivíduo na língua alvo. Com o

objetivo de contribuir para estudos e pesquisas nas áreas de avaliação de produção escrita e de

ensino-aprendizagem de línguas (materna e estrangeira), apresentaremos neste trabalho uma

análise da Parte Escrita do exame Celpe-Bras, aplicado no primeiro semestre de 2011. À luz

da teoria dos gêneros textuais, analisaremos os enunciados de duas das tarefas propostas e da

funcionalidade dos gêneros presentes nesse teste, propondo uma possível interface com o

ensino de produção escrita em português língua materna.

Palavras-chave: ensino de língua, produção escrita; avaliação; português língua estrangeira.

1. ITRODUÇÃO

Apesar de a avaliação em contextos de ensino/aprendizagem de línguas vir merecendo uma

atenção nos últimos anos no cenário internacional, constituindo-se uma subárea com

desenvolvimentos importantes para a área de Linguística Aplicada, podemos dizer que ainda

são escassos os estudos sobre avaliação em contextos de línguas no Brasil, quando

comparados com outras temáticas.

Os estudos sobre o ensino de língua e avaliação passaram a se constituir como disciplinas

independentes somente a partir da segunda metade da década de 90. E, segundo Scaramucci

(2000), foi a escola estruturalista quem forneceu um dos primeiros arcabouços teóricos para

se definir proficiência, conceito fundamental para se discutir avaliação em ensino de línguas.

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Entre 1950 e 1960, a aprendizagem de língua estrangeira era considerada como

desenvolvimento de hábitos e a proficiência seria a “automatização” desses hábitos. Seguindo

esse raciocínio, para Spolky (1985) e Savignon (2001), ser proficiente em uma língua

significaria dominar os elementos que formam a estrutura dessa língua. O ensino e a avaliação

se pautavam na verificação do conhecimento do aprendiz sobre vocabulário, gramática e das

quatro habilidades (falar, ouvir, ler e escrever) de forma independente.

Em 1965, a introdução do conceito de competência linguística apresentada por Chomsky

iniciou uma revolução na conceituação de proficiência. De acordo com Chomsky (1973, p.

32), a competência linguística é definida como “um sistema de regras que pode ser usado em

novas combinações para formar novas sentenças e que permite a integração semântica delas.”

Por essa compreensão, percebe-se que, para o linguista, a competência é a capacidade de

internalização e inovação de sentenças e o conhecimento abstrato da linguagem. Naquele

momento, o estudioso desconsiderava o uso da língua em situações concretas em que o

desempenho de falantes pode ser limitado por condições como memória, distrações,

mudanças no foco de atenção e interesse.

Mais tarde, em 1972, Hymes propõe o termo "competência comunicativa” que, além de

incluir o conhecimento abstrato da língua, também leva em conta a capacidade de usar esse

conhecimento. Nessa noção de competência, os fatores socioculturais e situacionais para a

produção de sentenças são tão importantes quantos as regras gramaticais.

Com o uso da língua tornando-se o novo objetivo da avaliação, começou-se a questionar

exames de base estrutural, já que o conhecimento de elementos isolados não é suficiente para

mostrar se o candidato consegue interagir adequadamente em uma situação de comunicação

concreta.

Desde esse direcionamento voltado à comunicação proposto por Hymes, as pesquisas na área

de avaliação de língua começaram a buscar formas de avaliar o uso da língua, e iniciou-se a

procura por avaliações de proficiência que apresentassem tarefas mais contextualizadas e que

permitissem ao candidato respostas menos restritas que aquelas dadas aos testes estruturalistas

que vigoravam até então.

Essa concepção de avaliação (e também de ensino) não se restringe ao campo da língua

estrangeira. Quinquer (2003, p. 19) afirma que, a partir dos anos 1980, surge um novo

enfoque de avaliação: o modelo de comunicação ou psicossocial. Esse modelo tem destaque

no contexto em que se produz a aprendizagem e tem como aspecto mais relevante o conceito

de aprendizagem como uma construção pessoal. Privilegia a interação (os processos

argumentativos) e objetiva a autonomia do aluno no processo de avaliação. Em atividades

voltadas para o ensino de LE, uma das estratégias empregadas para se alcançar esse objetivo é

a proposição de tarefas comunicativas.

Acreditamos que atividades avaliativas que envolvam tarefas comunicativas estão em

consonância com essa proposta e podem ser uma boa estratégia para o desenvolvimento da

habilidade escrita também em língua materna (LM).

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2. A OÇÃO DE PROFICIÊCIA E O TRABALHO COM GÊEROS TEXTUAIS

De acordo com o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, proficiente é ser competente e

eficiente no que faz; capaz preparado, conhecedor; que tem bom aproveitamento. Segundo

Widdowson (1991), ter proficiência em uma língua significa mais do que compreender, ler,

falar e escrever orações nessa língua. Significa também saber utilizar essas orações de modo a

conseguir o efeito comunicativo desejado. Ainda conforme o autor, nas interações sociais em

nossa vida cotidiana, “geralmente se exige que usemos o nosso conhecimento do sistema

linguístico com o objetivo de obter algum tipo de efeito comunicativo. Isso equivale a dizer

que, geralmente, se exige que produzamos exemplos de uso da linguagem” (Widdowson,

1991, p. 16). Sendo assim, o que um falante, precisa para ser proficiente (seja em LE, seja em

LM) não é somente conhecer o sistema abstrato da língua, mas saber como usá-la

adequadamente em determinada situação.

Consultando os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, encontramos lá a

expectativa de que o aluno, ao longo de sua formação, deve:

no contexto das práticas de aprendizagem de língua(gem), conviver com

situações de produção escrita, oral e imagética, de leitura e de escuta, que lhe

propiciem uma inserção em práticas de linguagem em que são colocados em

funcionamento textos que exigem da parte do aluno conhecimentos distintos

daqueles usados em situações de interação informais, sejam elas face a face

ou não. Dito de outra forma, o aluno deverá passar a lidar com situações de

interação que se revestem de uma complexidade que exigirá dele a

construção de saberes relativos ao uso de estratégias (linguística, textual e

pragmática) por meio das quais se procura assegurar a autonomia do texto

em relação ao contexto de situação imediato. (PCN+, 2006, p.32)

Sob essa lógica, e levando em consideração que os documentos que parametrizam o ensino

fundamental se orientam por perspectiva segundo a qual o processo de ensino e de

aprendizagem deve levar o aluno à construção gradativa de saberes sobre os textos que

circulam socialmente, pode-se dizer que as ações realizadas na disciplina Língua Portuguesa

estão em consonância com aquilo que se espera de um aluno proficiente em uma língua

estrangeira. Sendo assim, por que não aplicar ao contexto ensino-aprendizagem o conceito de

proficiência? Certamente não podemos perder de vista as diferenças existentes entre o ensino

de LE e LM, mas é perfeitamente possível aproximar aquilo que é semelhante.

Um desses pontos de aproximação seria a visão de que para que um aprendiz desenvolva sua

capacidade de uso da língua (seja ela materna ou estrangeira) é fundamental que ele seja

exposto a situações concretas de uso, e, para isso, faz-se fundamental recorrer aos gêneros

textuais.

Essa proposição fundamenta-se no princípio bakthiniano de que as manifestações verbais se

dão em forma de textos, e não como elementos isolados. Os indivíduos não se comunicam

através de palavras e orações independentes, mas por meio da construção de enunciados que

estão ligados a outros, anteriores e posteriores a eles. Esse aspecto comunicativo remete à

noção de texto como um evento comunicativo no qual aspectos linguísticos, sociais e

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cognitivos estão envolvidos de maneira central e integrada. Essa visão de integração da

linguagem atende ao objetivo de comunicação a que se propõe tanto o ensino de LE quanto o

ensino de uma LM.

Marcuschi (2005) define gêneros textuais como “formas verbais de ação social relativamente

estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais e em domínios

discursivos específicos”. Eles são condicionados por fatores cognitivos, semióticos,

comunicativos e sistêmicos, refletem estruturas de autoridade e estabelecem relações de poder

e resultam das relações complexas entre um meio, um uso e a linguagem.

Charles Bazerman (2005) também defende a ideia de que os gêneros textuais estão

intrinsecamente ligados ao cotidiano e às interações sociais. Segundo acredita o linguista

americano:

Cada texto bem sucedido cria para seus leitores um fato social. Os fatos

sociais consistem em ações sociais significativas realizadas pela linguagem,

ou atos de fala. Esses atos são realizados através de formas textuais

padronizadas, típicas e, portanto, inteligíveis, ou gêneros, que estão

relacionados a outros textos e gêneros que ocorrem em circunstâncias

relacionadas. Juntos, os vários tipos de textos se acomodam em conjuntos de

gêneros dentro de sistemas de gêneros, os quais fazem parte dos sistemas de

atividades humanas. (BAZERMAN, 2005, p. 22).

A ideia de interação e ação social promovidas por meio dos gêneros, defendida por esses

autores, torna pertinente a aproximação entre os GTs e o ensino de línguas.

A seguir, apresentaremos uma análise de duas tarefas propostas no exame Celpe-Bras edição

2011/1º, com o propósito de demonstrar a funcionalidade dos gêneros nesse teste e possíveis

interfaces com o desenvolvimento da habilidade escrita no ensino de língua materna.

3. CELPE-BRAS E A FUCIOALIDADE DOS GÊEROS TEXTUAIS

3.1 A organização do exame

O exame para obtenção do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para

Estrangeiros (Exame Celpe-Bras) tem sido aplicado desde 1998 em um número cada vez

maior de países que, por razões diversas, buscam estreitar o intercâmbio com o Brasil. Em sua

primeira edição, o Exame foi feito por pouco mais de 120 estrangeiros, sendo que a média

atual de examinandos, a cada edição, tem ficado em torno de 3.000.

De uma maneira geral, os exames internacionais de proficiência em línguas são

desmembrados em testes específicos para cada nível e avaliam isoladamente as habilidades

comunicativas dos examinandos. Diferentemente dessa organização, o Celpe-Bras avalia, por

meio de um único instrumento, e de forma integrada, todas as habilidades comunicativas 1 .

1 Sobre os parâmetros de avaliação do exame Celpe-Bras, consultar Schofen (2009).

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Dessa forma, o instrumento possibilita a avaliação de quatro níveis de proficiência:

intermediário, intermediário superior, avançado e avançado superior. Caso o examinando não

atinja um nível mínimo de desempenho, ele não obtém nenhuma certificação.

O Exame Celpe-Bras é baseado na execução de tarefas 2 ; é elaborado a partir do conteúdo de

textos multimodais 3 que têm o objetivo de avaliar a produção oral e a escrita dos

examinandos. Além de produzirem quatro textos escritos, de gêneros diferentes, os

examinandos participam de uma entrevista que é gravada. Servem, portanto, como base para o

trabalho dos avaliadores, quatro textos escritos e uma entrevista de 20 minutos 4 , para cada

examinando.

Como em nosso trabalho focamos a parte escrita do exame, partiremos a seguir para uma

análise dos textos-base e enunciados de duas tarefas proposta na edição 2011/1º, verificando

como os gêneros textuais são articulados no exame.

3.2 Análise das tarefas

As Tarefas 1 e 2 do exame Celpe-Bras exploram as habilidades de compreensão auditiva e

escrita. A diferença entre elas é que, na primeira, é apresentado ao examinando, como texto-

base, um breve vídeo, na segunda, o texto motivador é um áudio. O fato de serem utilizadas

mídias diferentes para a exposição ao "estímulo" faz com que o examinando dedique para

cada um deles atenção diferente. Ao assistirmos a um vídeo, além do áudio, seremos expostos

também a imagens que nos ajudarão na compreensão e construção da mensagem. Já as tarefas

3 e 4 têm como motivadores, textos publicados em meios impressos de circulação nacional. A

partir da leitura é proposta ao examinando a execução de determinado propósito

comunicativo. Vale ressaltar que todas as atividades do exame utilizam como base em textos

autênticos. Para análise selecionamos as tarefas 1 e 4.

3.2.1 Tarefa 1

A Tarefa 1 da avaliação em análise teve como tema "Alimentação Saudável". O enunciado propunha o

seguinte:

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Tarefas são atividades que apresentam um propósito comunicativo, especificando para a linguagem usos que se assemelham àqueles que se

tem na vida real.

3 A multimodalidade é aqui entendida como a diversidade de signos utilizada na organização do texto.

4 Sobre aspectos da entrevista, consultar Coura-Sobrinho e Dell´Isola (2009).

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Você vai assistir duas vezes a uma reportagem sobre cuidados com alimentação infantil.

Depois de ver a reportagem e ciente da importância do assunto apresentado, você decide

escrever um texto para ser afixado no mural de seu local de trabalho. Em seu texto, você

deverá chamar a atenção para o problema exposto no vídeo, bem como divulgar o trabalho

que vem sendo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz.

Fonte: http://portal.inep.gov.br/celpebras

A situação comunicativa para o uso da língua foi claramente estabelecida no enunciado da

tarefa: “escrever um texto para ser afixado no mural de seu local de trabalho”. Assim, ao assistir à

reportagem, o examinando poderá selecionar as informações relevantes para o cumprimento

dos objetivos determinados: “chamar a atenção para o problema exposto no vídeo, bem como

divulgar o trabalho que vem sendo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz”. Não houve delimitação

de um gênero específico, mas de um propósito a ser alcançado. Também não foi determinado

no enunciado qual seria o "local trabalho", o produtor do texto deve, pois, atentar ainda a esse

detalhe.

Dessa forma caberá ao autor do texto, além de compreender as informações, selecioná-las e

organizá-las, escolher o gênero que melhor cumprirá o propósito comunicativo da tarefa.

Passemos agora à análise da quarta e última tarefa do exame:

Tarefa 4

Imagine que você seja o proprietário de uma loja virtual de gemas brasileiras. Um comprador pediu

desconto sobre o valor de uma ametista, alegando não se tratar de uma pedra preciosa, como a

esmeralda ou o diamante. Com base no texto, escreva um e-mail para esse comprador, a fim de

convencê-lo a pagar o preço anunciado.

O Brasil não possui pedras semipreciosas

Pércio de Moraes Branco*

O título acima pode surpreender muita gente, uma vez que o nosso país é

reconhecidamente um grande produtor de gemas e o Rio Grande do Sul destaca-se pela

produção de ágata e ametista. A afirmativa, propositalmente provocadora, justifica-se, porém,

pois não é mais admissível – se é que alguma vez o foi – separar as gemas em preciosas e

semipreciosas.

Embora esteja correta a denominação pedra preciosa, o mesmo não se dá com pedra

semipreciosa, e são várias as razões para isso. A principal delas é que nunca houve consenso

sobre quais pedras seriam consideradas preciosas. Normalmente, eram assim classificados o

rubi, a safira, a esmeralda e o diamante. Alguns autores, porém, incluíam também a opala

preciosa e o crisoberilo, por exemplo. E outros, a pérola.

Outra razão para não se separar as gemas em semipreciosas e preciosas é a inutilidade

dessa distinção. Para o Brasil, que produz boa quantidade de esmeralda e diamante, mas quase

nada de rubi e safira, a distinção, mais do que inútil, é muito prejudicial.

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Mas não ficam aí os argumentos contra a classificação semipreciosa. Embora

esmeralda, rubi, safira e diamante sejam usualmente gemas caras, uma esmeralda e mesmo

um diamante podem valer menos que uma granada mais rara, por exemplo.

Por esses motivos, o termo semipreciosa caiu em desuso em quase todo o mundo,

sobrevivendo apenas em alguns países, entre eles o Brasil.

Gemólogos de renome internacional condenam de modo enfático seu emprego.

Robert Webster considera-o insatisfatório, lembrando que foi abandonado por consenso

geral. Walter Schumann afirma que a designação ainda é usada no comércio mas não é

uma expressão correta porque muitas pedras chamadas semipreciosas são mais valiosas que

as preciosas, não havendo uma linha divisória real entre as pedras mais ou menos valiosas.

Joel Arem lembra que, no passado, os termos preciosa e semipreciosa foram amplamente

usados, mas que hoje seu uso cria confusão.

Mas não são apenas os gemólogos que condenam o termo. Também os joalheiros mais

bem informados o fazem. Diz Erich Merget que a denominação semipreciosa, atualmente

muito utilizada, deveria ser totalmente abandonada. Até hoje, ninguém foi capaz de explicar

a origem dessa expressão absurda, completa ele.

O termo gema tornou-se designação comumente aceita para todas as pedras

ornamentais de valor, eliminando a anterior distinção artificial entre as chamadas pedras

preciosas e semipreciosas, afirma Jules Sauer. (...)

Coerente com esses posicionamentos, a Associação Brasileira de ormas Técnicas

(ABT) recomenda evitar sempre o uso da palavra semipreciosa, substituindo-a por preciosa,

salvo nos casos de exigências comerciais ou legais (NBR 10630). A ressalva justifica-se

porque a Itália dá um tratamento diferenciado às gemas importadas, com taxação menor para

as que chegam ao país classificadas na origem como semipreciosas.

Portanto, não se constranja de chamar ágata, ametista, citrino, topázio, água-marinha,

turmalina, etc. de pedras preciosas. E chame de joia, não de bijuteria, seu brinco, anel ou outra

peça confeccionada com gemas que você considera baratas.

O setor joalheiro, como qualquer outro ramo de vendas, trabalha com produtos caros e

baratos e o preço nunca foi motivo para uma gema deixar de ser preciosa.

Disponível em:

http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=135&sid=23. Acesso

em: 23 fev. 2011.

Fonte: Fonte: http://portal.inep.gov.br/celpebras

O texto motivador da tarefa é um artigo publicado em um site. Com base na leitura, no

enunciado da atividade foi especificado ao examinando o gênero textual a ser produzido: um

email. A situação comunicativa (que também poderíamos chamar de situação-problema) foi

construída de forma precisa e propõe ao examinando um maior desafio argumentativo, uma

vez que ele, assumindo o papel de um enunciador (proprietário de uma loja virtual de gemas

brasileiras), deverá persuadir um enunciatário (possível comprador) a pagar o preço pedido

por uma pedra preciosa. A elaboração desse texto requer, inclusive, de seu autor, a utilização

de estratégias persuasivas e boa seleção de argumentos para que se cumpra o propósito do

enunciador fictício: a venda da pedra pelo preço determinado.

Embora essas tarefas tenham como alvo estrangeiros que querem obter um certificado de

proficiência em língua portuguesa do Brasil, o modelo de avaliação pode ser bastante útil e

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eficaz no ensino, não apenas da produção escrita, mas da comunicação em português língua

materna.

COSIDERAÇÕES FIAIS

Evanildo Bechara, em uma entrevista sobre a importância de se ensinar e analisar as variações

linguísticas em sala de aula, declarou que “devemos ser poliglotas no nosso próprio idioma”.

Tomamos emprestada a declaração para ampliá-la à noção de proficiência em língua materna.

As tarefas analisadas, por serem voltadas para falantes de outras línguas, contemplam em sua

grade de avaliação aspectos específicos desse contexto. Porém também serão contemplados

aspectos relacionados à adequação ao comando - o que engloba a adequação à situação

comunicativa proposta -, bem como a estruturação das ideias.

Logo, esse é um exemplo de atividade que poderia ser proposta em aulas e/ou avaliações de

português língua materna, cujo propósito seria não só avaliar o domínio da norma culta, mas

também a habilidade desse aprendiz em se comunicar de forma eficiente em determinada

situação concreta de uso de sua própria língua, que serão delimitadas por um gênero textual.

Sobre gêneros textuais, Dell’Isola (2007) afirma que

Gêneros textuais são práticas sócio-históricas que se constituem como ações

para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo.

Por serem fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e

social; fruto do trabalho coletivo; formas de ação social; modelos

comunicativos; eventos textuais, os GTs apresentam características

comunicativas, cognitivas, institucionais e lingüísticas/estruturais, cuja

finalidade é predizer e interpretar as ações humanas em qualquer contexto

discursivo, além de ordenar e estabilizar as atividades comunicativas

cotidianas. (DELL’ISOLA , 2007, p. 17).

Tal definição corrobora os objetivos de avaliação de natureza comunicativa, em que são

propostas ao aluno situações concretas de ação, ou seja, atividades que se vinculam a um

contexto e a um propósito. Essas atividades e esses propostos devem também ser explorados

no ensino da produção escrita de LM.

A exposição a situações concretas de interlocução e argumentação motivam a escrita e levam

o aprendiz a pensar de forma orientada e objetiva no propósito a ser cumprido com seu texto.

É fato que ao ser levado para a sala de aula, os gêneros assumem um caráter “pedagógico”,

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porém em tarefas como a do exame Celpe-Bras, os aprendizes trabalharão na “ficção” da sala

de aula contextos e situações que acontecem a todo tempo na sociedade.

A avaliação com foco também no significado e com objetivo a ser cumprido pode trazer

contribuições importantes aos estudantes de língua materna, uma vez que eles se tornarão

enunciadores de textos de gêneros diversos que terão propósitos comunicativos diversos.

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Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN 2237-8758

nataliatosatti@yahoo.com.br e em seu artigo: 2012
Enviado por J B Pereira em 13/01/2014
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