Ser Servidor
Um dos temas mais relevantes que um profissional deve ter em mente, ao ingressar ao serviço público é a reflexão acerca do que é ser servidor público, pois a relevância que é implicada ao seu significado, conscientemente ou não, reflete consideravelmente na forma de trabalho que o indivíduo irá desempenhar no exercício das suas atividades cotidianas. Por ser o agente no exercício dos direitos constitucionais dos cidadãos, uma vez que é o servidor a ferramenta pela qual a população terá acesso ao ensino, à saúde, à segurança, ao Judiciário, dentre outros serviços é fundamental que seja um colaborador honesto, coerente, responsável, ciente das suas obrigações e das consequências de cada ato praticado no seu dia-a-dia. Nesse aspecto, conhecer qual seu papel, social e funcional, o que a instituição e a sociedade esperam dele, e o que tem a oferecer são implicações que devem ser ponderadas pelo servidor ao ingressar ao serviço público.
Um dos problemas que concorrem com o desvio do servidor do foco de seus objetivos delineados no início de sua carreira é a crença de a única vantagem em se alcançar um cargo público é adquirir estabilidade profissional, e, em alguns casos, ter uma remuneração mais atraente, se comparado ao setor privado, mas se estas forem as únicas motivações intentadas pelo indivíduo que almeja chegar a um cargo público, estará cometendo um grave erro ao seguir nessa carreira, pois o risco de tornar-se medíocre no exercício das suas funções, amargurado com os problemas e dificuldades que certamente surgirão com o decorrer do tempo, se tornando desmotivado no que faz; dessa forma, nada terá de positivo a acrescentar no seu ambiente laborativo, pelo contrário, esse tipo de comportamento é uma chaga que, quando não contagia os que estão à volta, traz prejuízos diretos ao rendimento da equipe de trabalho. Nesses casos, a aposentadoria acaba sendo a única meta que o servidor têm como perspectiva no horizonte da vida.
Na condição de seres humanos que somos, não temos meios de sermos infalíveis e nem perfeitos: sempre existirão os altos e baixos na vida pessoal e profissional, ocorrerão problemas, a maioria deles decorrentes da própria estrutura organizacional das instituições públicas, além disso, não raro se encontram nelas condições precárias de trabalho, no que tange à infraestrutura, bem como às relações interpessoais, que incluem o assédio moral imputado por superiores hierárquicos, fato que surge mascarado em acúmulo de trabalho, pressão, ameaça, humilhação, isolamento, enfim não faltarão motivos para que o trabalhador sinta-se desmotivado, subutilizado, inapto a continuar desempenhando suas atividades com a dedicação que as instituições públicas tanto necessitam. Ainda, não são raros os casos de aspirantes ao cargo de servidor – não importa em que instância se pretenda ocupar – que supõem que o seu ingresso ao setor público trata-se de um convite à ociosidade, inclusive agindo dessa forma ao alcançar a vaga pretendida, o que agrava a imagem negativa que as repartições públicas brasileiras já têm diante da sociedade.
Diante dessas implicações, o que pode ser feito para mudar essa triste realidade presente em boa parte das repartições públicas brasileiras, é reconhecer as deficiências existentes e buscar soluções práticas para sanar cada uma delas. Essa falácia, difundida pela opinião pública, de que o atendimento em tais departamentos é sempre ruim, burocrático, moroso, deve ser modificada através de ações práticas, pois é possível demonstrar que essa imagem ilusória só existe porque muitos a aceitam como fato e nada fazem para construir uma perspectiva diferente. Observando comparativamente a situação do trabalhador nas instituições públicas com a iniciativa privada, tomando como exemplo uma empresa de grande porte, é possível verificar que a ânsia por lucro praticada por esta firma faz com que haja uma preocupação em motivar os colaboradores, afim de que a produtividade esteja sempre em crescimento. O funcionário recebe estímulos externos, que posteriormente gerarão resultados que irão favorecer o empregador. Enquanto isso, no serviço público, na maioria das vezes, o estímulo só pode ser extraído do próprio servidor, depende que este deseje fazer a diferença, motivar-se sem qualquer apoio externo. No entanto, enquanto os órgãos públicos têm limitações em oferecer benefícios em espécie, pelo bom desempenho do seu profissional, existem outras possibilidades que ajudam a motivá-lo: demonstrar respeito e reconhecimento por sua dedicação e formação é um bom começo; fazer de cada dia de trabalho uma oportunidade de crescimento pessoal, proporcionar situações que favoreçam o bom relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho, oportunizar a participação do trabalhador nas decisões que dizem respeito à sua realidade, bem como disponibilizar meios para que haja sempre livre acesso ao diálogo, onde no cotidiano do trabalhador desse setor, na maioria dos casos.
Deste modo, infere-se que uma reflexão acerca do que é ser servidor é muito mais profunda do que simplesmente perquirir acerca de seu conceito, seria superficial definir sua função como simplesmente servir à coletividade. O papel do servidor vai muito além de cumprir horário, metas, ou atender ordens; a sociedade precisa que o agente seja maior do que suas obrigações ocupacionais, batalhando sempre por melhorias em seu ambiente profissional que vão além do particular, almejando a coletividade, ser compreensivo, mesmo em circunstâncias adversas, buscando sempre aperfeiçoar-se, cônscio de que as expressões rendimento, presteza e dedicação devem fazer parte da rotina de quem deseja ser mais que um servidor, tornar-se um profissional que idealiza ter excelência no que realiza. Para isso, deve existir amor à prestação de serviço ao próximo, pois a satisfação do colaborador não tem preço, e um ambiente saudável pode ser muito mais motivador – inclusive obtendo resultados práticos efetivos – do que a compensação financeira oferecida sem critérios ou merecimento por parte do beneficiado. Pode aparentar ser utópico, mas ter orgulho do que faz e crer na importância de seu trabalho para a sociedade ainda é a chave para o êxito do servidor público. Para tanto, o mecanismo mais eficiente ainda é a valorização do servidor, pois será com satisfação que terá em servir, cônscio da importância e desse reconhecimento de que seu trabalho é vital ao exercício da cidadania.