O Deus do jeito de cada um.

Aos sete anos fui matriculada em um colégio de freiras, onde aprendi muito do que sei e sou. Entrei alfabeticamente nula, provavelmente só sabia as quatro letrinhas do meu primeiro nome. Logo no começo aprendi que a letrinha “e” juntava-se a letrinha “u” para falarem sobre mim, e adorei isso. Quando a cartilha Caminho Suave me apresentou a lição do Dado, conheci o D, e aprendi também o dedo, caduco e cadeado. Era mágico formar palavras!

Havia na parede lateral da escadaria interna do colégio uma foto de nuvens encorpadas e unidas, porém que deixavam passar fortes raios de Sol, e lá estavam também algumas letras tão compreensíveis quanto hoje me parece um hiragana. Eis que notei que a letra inicial em destaque vermelho e formato desenhado me era familiar. Parei no degrau e comecei a juntar o D com as outras letrinhas, e para minha alegria descobri que sabia ler:

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UNINDO O 'D' DE DOAR COM O "eu" (de mim mesma), E NO FINALZINHO A LETRA DO BARULHINHO ( essssssse ) lí : DEUS.

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Certamente um dia eu consegui ler a frase inteira mas não me recordo. Todavia a alegria de descobrir “Deus” naquele quadro, é uma memória muita fresca e presente em minha vida.

Quantas coisas as irmãs me ensinavam, quantas coisas a minha família tão humilde nem desconfiava que existia e eu ali descobria, aprendia e vivia. Achei que para as freiras, Deus era aquela imagem, e certamente elas sabiam das coisas.

Sei que o estereótipo de Deus é normalmente o homem idoso, de olhar duro e barba, mas na minha mente permanece aquela imagem, que feliz e constantemente vejo. Cada um do seu jeito, aceitando que o outro não precisa estar errado no jeito dele, é assim que penso.

Ao ler um livro famoso (não vou citar para não estragar a surpresa dos que ainda não leram), me deparei com a descrição de Deus pelo autor como uma mulher cozinheira negra, gorda e afetuosa. Inusitado em um primeiro momento, mas delicioso ao longo da trama. Lembrei-me do filme Auto da Compadecida, onde Jesus é interpretado por um jovem negro, lindo, doce de um olhar com o mais puro amor. Perfeito ! Tal qual minhas nuvens.

De onde veio esta imagem ariana de um Jesus branco de olhos azuis, tão distinto dos demais judeus? Alguém disse-me que deve-se ao fato de ser mais fácil amar aquilo se julga belo, que se admira, e um homem de traços europeu traz si um forte histórico de heroísmo, cultura e beleza. Não sei.

Um pensamento puxa outro, e então me lembrei do cantor Toni Tornado que na minha infância já questionava: “Você teria por Ele este mesmo amor se Jesus fosse um homem de cor?”.

E você: Qual a imagem da sua Fé?