MEU ÚLTIMO CARNAVAL
Meu último carnaval aconteceu quando eu tinha dezessete. A família era enorme. Cinqüenta e tantos primos e primas, dez tias, fora os amigos, que eram muitos. Nosso carnaval era sempre na casa dos meus avós maternos. Fazíamos caipirinha de montão, e na cozinha havia um entra-e-sai danado de gente.
Vovó era extremamente católica e dizia: "brinquem, meus queridos, que o bispo disse que brincar carnaval não é pecado, desde que se mantenha o respeito e não haja brigas". Naquela terça ela já estava bastante avançada de idade e se deitou no sofá, observando o passa-passa de coxas e bundas. Logo adormeceu.
Nós éramos muito animados. E liberais. Depois de umas quatro horas de festa, estávamos bêbados e felizes. Eu estava ainda mais animado pela presença de Tânia, moça recém-chegada na vizinhança, de quem não descolava durante o samba.
Chegou a noite e a dança ficou ainda mais furiosa. Amanhã seria quarta-feira de cinzas. Depois de amanhã eu completaria dezoito anos. Viria uma triste quaresma. Eu nunca mais teria dezessete anos. O consolo eram os beijos doces de Tânia, que agora por causa do álcool, tinha os olhos faiscantes.
Mas desligaram o som repentinamente. Minha avó, que se deitara no sofá, não estava acordando. Falecera ali, sem mostrar qualquer sinal de sofrimento. Nos recolhemos às lágrimas. Cada um para o seu lado. Aquela seria a quarta-feira de cinzas mais triste de nossas vidas.
Jimii
Enviado por Jimii em 23/01/2008