O GRILO E A CENTOPÉIA

Quando você tem suas opiniões que passam no teste dos propósitos elevados, tranquilize-se; a Verdade virá a seu encontro. Estando em vigília ou em sonhos. Mas ela virá. ( M.M.S.)

As palavras são sígnos, as escritas também. Não importa a complexidade do sujeito da transmissão.Teoremas, deduções, autorias, exegeses, símbolos, enígmas, dogmas ou doutrinas. 

Um logotipo de uma guilda ou clã, uma rosa vermelha, móveis de carvalho.

Uma linda atendente poliglota, em um elegantíssimo uniforme grená.  No bolso esquerdo de seu tailleur, finamente acinturado, modelando seu corpo perfeito, ela ostenta um heráldico brasão. O sorriso simpático mostra o marfim de seus dentes brilhantes em um rosto lindo e jovem.

O complexo do conjunto-ambiente, o envidraçado deixando fluir a luz externa a revelar a paisagem cuidada que o cerca.
Em todos esses detalhes, estão presentes ao observador linguagens visuais e orais. Palavras, que transmitem em sígnos (significativamente) conhecimentos entre emissor-receptor e vice-versa, respostas mentais, via produção de impressões emotivas com um objetivo já preestabelecido, a uma das figuras ou às duas em simultâneidade. Digamos que se trata de uma rede de hotéis cinco estrelas. A moça está encenando todo seu treinamento. E, por trás o interesse de seu cargo e o escudo em seu bolso do tailleur é seu estandarte, elevado para vencer sempre, por si e pelo hotel. Ele (digamos) é um cliente, um hóspede em potencial e tem seu interesse em ser bem atendido. Ambos tem um desiderato mental de desejo. Uma fina e estratégica transação comercial.

Mas o grande segredo é fazer com que não pareça isso. Que ela não pareça ser uma "vendedora" e ele não pareça ser um "comprador".

Entre as inúmeras, (incontáveis mesmo), fontes de conhecimento por meio da rede de informações de todo  gênero, podemos receber por elas: conhecimento, que se pode dizer, notícia de algo novo. Mas não podemos garantir a todos - à massa humana - compreensão. Tudo como vimos se apresenta como sígnos a nos cercar, chamar, proclamar, ofertar, seduzir. Qual objetivo de toda a cena mostrada ao cliente, senão o fora para seduzir?

O canto da sereia moderna, ela a moça, a sereia, ele Ulisses. Na falta das sereias, vêm as hárpias. Hipocrisia? Não; por se tratar de refinado preparo para o que se propõe a fazer. Um corretor(a) fará de tudo para vender-lhe um apartamento ou casa. Para isso foi treinado e está sendo pago. Você lá está por interesse em adquirir um imóvel. Assim se apresenta o mundo.
Não podendo transmitir ou garantir que transmitindo uma mensagem, esta será compreendida. Podemos tentar. É na tentativa, que não raras vezes surge um outro sentimento muito forte, mas um tanto ciclópico, grande, um único olho, se vazado, vai perder a noção de direção pela cegueira irreversível.

No entanto podemos amar e disso sabermos o quanto e verdadeiramente amamos, mas não podemos ter a certeza, obrigar que a recíproca seja verdadeira. Vale também para a amizade. Isto é terrível, quando pensado que as psiques e os 'Eus" são diferentes. Não devem ser oponentes, conflitantes. Isto será no futuro, tudo, menos amor. Resta às vezes o consolo do convívio, por comodismo e apego. E como diz o personagem de um quadro cômico televisivo: "Ex" é para sempre.  

Como se deduz, não podemos impor, inculcar sentimentos favoráveis reciprocamente.
"Os pássaros voam por que pensam que voam".
Assim: isentos, voam.
Assim: isentos, amamos.

Muito para nós, precisa vir de nosso esforço e experiência, (notem, que não foram palavras vãs a relação: atendente cliente). Tudo por que passamos na vida, tem seu sígno representativo, alguns são marcas de ferro em brasa no corpo, outros são percalços que se assemelham a tropeções: - Ôpa! quase; por um triz que não dou com a cara no chão !! Se recobra o equilíbrio e segue em frente. Outros, infelizmente buscam  de forma reiterada seus erros e enganos. Cada dia uma dose de veneno, mais dias muitas doses. Até que o corpo não dá "mais remendo." E há os sobreviventes dos naufrágios de todo tipo,"acidentes de percurso": enfartes, oclusão de artérias (meu caso), complicações com o álcool e o fumo, e há o abandono absoluto de vícios, numa abstenção invejável a quem não tem essa opinião.
No entanto, há aquele pequeno conto, que  vou resumir mais ainda:
- Estava o Grilo Cirilo em paz com a vida, só esperando a noite chegar, para iniciar sua serenata de "cri-cris", a fim de conquistar sua amada.
Nisso passa por ele a Centopéia Meméia, com suas centenas de perninhas, todas em consoante movimento, perfeitamente coordenado de forma incrível.
O Grilo vendo-a, cumprimentam-se em recíproco e Cirilo faz à Meméia uma pergunta que há muito o atentava:
- Dona Centopéia, como a senhora consegue mudar ordenadamente, sem embaraço, essa centena de perninhas todas se movendo ao mesmo tempo?

A Centopéia Meméia parou. Começou a pensar na pergunta do Grilo Cirilo. Pensou...pensou...tornou a pensar... e nunca mais saiu do lugar!
E o Grilo deixando-a, se foi alegre a cricrilar, sem em nada pensar...

Quase por esse mesmo caminho fabular, percorremos nós até a exaustão. Até nos transformarmos de rios em pântanos. O temível tremedal da depressão.

Não podemos fazer como a centopéia. Muitos amigos nos jogam certas questões de ordem emocional, plantando em nós, a semente da "dúvida venenosa" - aquela proposital: - Ele(a) está alegre e sorridente? Vou dar-lhe um jeito!
- Vera, aquele seio que lhe restou, você está indo ver sempre com o seu médico?!
Pronto. Conseguiu acabar com a noite de Vera. Ela virou a centopéia da fábula.

Com o André o mesmo caso: - Ô amigão, você tá indo ver a "máquina" com seu médico? Cuidado com a recisiva cara!

Por isso foi dito tudo antes. A compreensão precisa vir de nosso próprio entendimento, de nosso ser sentimental e biológico, auferindo essa compreensão, por meio das pessoas colocadas por estratégia de Deus em nosso caminho.

A escalação de um rebatedor, campeão mundial de beisebol, no gol de um time de futebol será  pior do que nada. Não precisamos de rebatedores campeões no gol de nosso time de futebol. Não precisamos de "amigos" que "furam" "pegam frango" e deixam nosso time na lona e desmoralizado. Portanto, quando nos deparamos com aquela observação que o "amigo" diz que falou como um "conselho"; uma pinóia - sabemos que veio por inoportuna, inadequada e intempestiva tal observação. Sim, como uma maldade antegosada.

Da forma que formos entendendo a nós mesmos , vamos desatando gradualmente as texturas confusas de nosso interior. Não precisa ser psicólogo para buscar entender a si mesmo no dia a dia. Temos que ir entendendo a lenta criação de espaços para todas as coisas ( Salomão, onde se denomina,"O Pregador", diz lá em Eclesiastes 3. 1: 15). Há tempo para todas as coisas. "Tempo para tudo" : 3.1 - "Tudo tem seu Tempo determinado, e há Tempo para todo propósito debaixo do céu (...) e conclui em 3. 15 - "O que já foi, e o que há de ser também já foi; Deus fará renovar-se o que se passou. Temos que criar espaços para todas as coisas que não compreendemos ainda. Não importa nossa idade.

Crer e formular ideias  para as  ferramentas de defesa aos ataques dos inimigos e dos falsos amigos, que são piores que os inimigos, porque estes, pelo menos são declarados e preferíveis àqueles. Não sermos presas fáceis aos lobos em pele de cordeiro e para que também não nos tornemos  uma fabular Centopéia, paralizada pela pergunta de seu "amigo", o Grilo. 




 
 


 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 25/08/2013
Reeditado em 25/08/2013
Código do texto: T4450448
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