Inteligência não é tudo

Auto-estima pode ser a chave para o estudante obter o sucesso na vida

Um pedaço de borracha, algumas folhas amassadas e um problema de física sem solução. A cada ano centenas de adolescentes apresentam graves dificuldades de aprendizagem e um rendimento escolar ínfimo. Uma análise superficial do problema apontaria o excesso de conversa ou a falta de interesse nos estudos como os maiores causadores. No entanto, uma avaliação mais profunda observa que, na maioria das vezes, trata-se de problemas relacionados à auto-estima.

Está comprovado que a capacidade de aprender não depende da inteligência do aluno, mas do quanto ele se julga capaz de aprender. A auto-estima é o mais importante julgamento que o ser humano faz de si mesmo, uma vez que é responsável tanto pelo sucesso, quanto pelo fracasso afetivo, acadêmico e profissional do indivíduo. Assim, ainda que a auto-estima seja produto da relação da criança com seus pais ou responsáveis, ela continua sendo desenvolvida no âmbito escolar, na relação com o docente e o grupo de colegas. Portanto, cabe também a escola compreender e auxiliar o aluno no reconhecimento e solução de seus conflitos pessoais.

Mas o que fazer quando o professor se defronta com casos em que lhe falta sensibilidade ou conhecimento para lidar com o problema? Como o educador deve agir quando a situação o obriga a desempenhar o papel de psicólogo, psicopedagogo e até mesmo de pediatra? É o caso da professora Rute Bartarin, do Colégio Unasp, Campus Engenheiro Coelho. Com 16 anos de experiência, ela conta que já precisou lidar com uma aluna que se achava feia demais e incapaz de alcançar o êxito escolar. “Muitas vezes eu me senti impotente diante da situação”, confessa.

O que muitos professores não sabem é que a auto-estima não se desenvolve apenas pelo discurso, diante de expressões como: “você é bonito”, “você é inteligente”, etc. O desenvolvimento emocional do indivíduo depende também de ações, ambientes apropriados e exemplos. Quem afirma é o professor Adolfo Suárez, mestre em educação. Para ele, a auto-estima é o resultado de um clima de amor e segurança, tanto na escola como em casa. “A chave do sucesso é conseguir com que pais e professores trabalhem de forma mútua, lembrando que a felicidade da criança está, em grande medida, sob a responsabilidade da família.”

No entanto, é importante admitir que algumas estratégias simples como elogios sinceros ou atenção a pequenas conquistas contribuem na hora de apresentar ao aluno o seu verdadeiro valor como ser humano. Suárez garante que nesses pequenos gestos reside o segredo de uma auto-estima robusta.

Alerta!

O sentimento de inferioridade, na maior parte das vezes, está relacionado a conflitos quanto à aparência, ao desempenho nos esportes ou à capacidade de fazer amigos. Os jovens se sentem feios, desajeitados, muito magros ou gordos demais, e com isso, afastam-se do grupo. O isolamento reforça o autoconceito de diferente ou inadequado, ao ponto de o aluno se render ao fracasso ou fazer de tudo para ser igual e aceito.

Por isso, se o professor perceber sinais de timidez, rejeição, insegurança, culpa ou medo exagerado em algum aluno, é melhor ficar atento. Esses sintomas podem ser indicadores de doenças procedentes da baixa auto-estima. Entretanto, é necessário considerar que há casos em que certas características, como introversão, não passam de traços de personalidade.

Normalmente, o sentimento de inferioridade entre crianças e adolescentes é o resultado do convívio com adultos que demonstram pouco ou nenhum valor pessoal diante da vida. “A falta de amor próprio das pessoas mais próximas – pais ou professores – aos jovens reflete na construção da auto-estima”, assegura Suárez.

Filho, eu te amo!

O que o indivíduo pensa e sente sobre si mesmo advém desde os primeiros dias de vida intra-uterina. Praticamente tudo o que acontece no mundo externo com a mãe é transmitido ao bebê. Deste modo, os pais revelam os sentimentos de amor, aceitação e carinho ao filho ainda no ventre materno. A educadora e psicóloga Sandra Silva explica que a criança é sensível a tudo o que acontece em sua volta. “Quando a criança já é bem-vida e amada dentro da barriga da mãe, ela cresce com o autoconceito de ‘bebê’ lindo. Mas se for rejeitada por algum motivo a imagem de si mesma é construída como um ‘bebê’ feio”, ilustra. Sandra avisa que o indivíduo que se julga “feio” na infância precisa lutar muito para se considerar “belo” diante da vida adulta.

Apesar de a primeira impressão do mundo ser percebida na gestação, a relação entre os pais e a criança durante os primeiros anos de vida é fundamental para formação da identidade pessoal. O psicoterapeuta Leo Fraiman, mestre pela USP e especialista em psicologia educacional, descreve que nesse período os filhos estabelecem fortes elos de dependência com a família. No entanto, ele adverte de que o ideal é que esse relacionamento se torne mais elástico ao longo da vida. “Bons pais preparam os filhos para o mundo, estimulam a ter amigos, praticar esportes, e, principalmente, a se relacionar com as mais diversas pessoas”, ressalta.

Assim, pai, mãe, avós, irmãos, tios e primos possuem intensa responsabilidade sobre a construção da auto-estima da criança. Contudo, Fraiman lembra que os pais devem ensinar aos filhos que eles não são culpados pelos desajustes familiares, mas responsáveis pelo rumo da própria história.

Mestres do exemplo

Os pais, porém, não são os únicos responsáveis pelo equilíbrio da auto-estima da criança. De acordo com a educadora Marinalva Cuzin, doutoranda em Psicologia da Educação pela Unicamp, a percepção que o ser humano possui de si mesmo permanece em desenvolvimento por toda a vida. Inclusive no âmbito escolar. Eis que surge uma missão para o professor: reforçar as capacidades intelectuais e relacionais do aluno, mostrar que ele é amado e convencê-lo de que as dificuldades podem ser superadas. A especialista assevera que gestos simples, como um abraço, podem trazer grandes benefícios para a criança.

Portanto, desejando ou não, o educador sempre será um modelo para os alunos de todas as idades. “O comportamento do professor perante a classe pode contribuir ou não para a formação de indivíduos melhores”, diz Marinalva. Assim, é necessário que o professor seja um modelo de ser humano resolvido e seguro. A orientadora educacional Lisliê Silva, do Colégio Unasp, Campus Engenheiro Coelho, confirma a importância da alta auto-estima do educador. “O professor ensina pelo que ele é. E o aluno aprende pelo exemplo”.

De acordo com a orientadora, o aluno aprende mais pela presença do que pela docência. Ou seja, o ensino depende da experiência. “Não basta dizer o que é felicidade, é preciso vivê-la”, declara. A vida do professor deve comprovar que o sucesso não é uma situação intangível, mas o resultado de uma escolha segura e acessível.

Os alunos, entretanto, não podem esquecer que o professor, assim como qualquer outro profissional, é um ser humano com qualidades e defeitos. A professora Marinalva afirma que quando o educador conquista o respeito, a classe passa a admirá-lo apesar das falhas. Para os discentes, as imperfeições fazem do educador um exemplo de que todos erram, mas que nem por isso desistem da luta por um mundo melhor.

Não existe uma receita pronta ou fórmula mágica que faça os alunos saírem da escola seguros e bem-sucedidos. Mas a psicóloga Sandra dá um segredinho fácil e eficaz. Ela aconselha que o exemplo dos professores em sala de aula seja o reflexo da vida de Cristo.

Cabreira
Enviado por Cabreira em 10/04/2007
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