Eu gosto.

Só sei que minha vida é bem normal.

Eu gosto de ver as folhas secas caindo e o vento as levando por dentre os arbustos da rua.

Eu gosto de ver a criança indo pra escola no frio, que de tão agasalhada não consegue se mexer direito.

Eu gosto de ver as gotas de chuva caindo ao léu, tocando os suaves traços do chão, brutalmente surrado pelos carros.

Eu gosto de observar o toque da tinta no papel, borrando a folha delicada, desenhando as palavras que fazem os sentimentos das pessoas florirem.

Eu gosto de ver os traços da moça que passa na rua, desajeitada com tantas coisas para carregar, além do peso da sua beleza, sem contar o peso dos olhares dos curiosos e admiradores.

Eu gosto do cheiro do café fresco, que a mãe leva de manhã no seu quarto, deixa na beirada da janela que entra uma leve brisa gelada que faz as cobertas parecerem mais gostosas.

Eu gosto da sensação de liberdade da sexta-feira depois do trabalho onde nada parece nos deter e a vida são só amigos e um bom agravante alcoólico.

Eu gosto da eternidade das reuniões com os amigos, onde cada risada é um tijolo no infinito do momento.

Eu gosto ainda dos domingos nostálgicos de família reunida, de churrasco cheirando longe, de maionese na mesa, de contos e causos das estripulias da criançadas, sempre na disputa pra ver qual o mais sapeca.

Eu gosto ainda da verdade dos pequenos prazeres: Ligar o rádio e estar tocando a minha musica favorita, acordar no domingo e dar de cara com aquele sol maravilhoso, caminhar se equilibrando nos trilhos do trem, escutando ao longe, o som da água da cachoeira percorrendo as pedras. Gosto daquele barulho do meu cachorro arfando de felicidade ao me ver após um dia inteiro fora de casa, o roçar dos dedos pelo plástico bolha esperando pra ser estourado, o florescer da bela rosa numa manhã de terça-feira, ungida pelas gotas de orvalho ditado pela noite, iluminada pela bela lua cheia que . reverbera tão imensa beleza que embriaga o olhar dos transeuntes da solidão.

É, minha vida é bem normal mesmo.