AMOR PLATÔNICO
Não sei por que surgiu a expressão “amor platônico” para expressar aquela paixão que sentimos e que, por algum motivo, deve ser contida. Em muitos casos, a contenção é por uma causa legítima. Por exemplo, uma pessoa já compromissada ou chata demais para que queiramos algum compromisso com ela além de algumas noites na cama. Vinícius já perguntava de que serve uma mulher só bela.
Eu conheço outro motivo para nos contermos. E esta é mais comum quando somos muito jovens. Algum problema psicológico que reduz nossa auto-estima. Aí fica difícil, pois as garotas gostam de ser cortejadas. O recado que dou aos garotos é este: ataquem sem hesitar. Levar um “não” na fuça é muito melhor que guardar eternamente a amargura de nunca ter tentado.
Seria mais fácil se pudéssemos falar com os olhos, mas as palavras devem sair pela boca, mesmo que gaguejadas. Com a internet ficou moleza. Se eu tivesse quinze anos hoje, provavelmente teria umas dezenas de namoradas. Até mesmo porque a mulherada hoje em dia está dando muito mais mole que há um tempo atrás.
Mas voltando à expressão “amor platônico”, não entendo o porquê de esta expressão ficar marcada como expressão do sentimento recolhido. Na vida real tivemos casos famosos de gente que sofreu de amor a vida inteira assim. Já citei a famosa história de Johan Brahms e Clara Schumann. Mas pouquíssimas mulheres são como Clara. Além do mais, ela era casada com um sujeito bacana pra chuchu, o Robert. Brahms deveria ter procurado outra. Aquela era impossível.
O texto mais famoso de Platão sobre o amor é o diálogo “O Banquete”. Um monte de homens se reúne em torno de uma mesa pra beber vinho, comer, e falar sobre o amor. Pois é. Os bravos guerreiros de Atenas não tinham vergonha de falar sobre estas coisas. O personagem central da história é Sócrates, aliás, como em quase todos os textos de Platão.
Não me lembro muito bem da história, pois li este texto há muito tempo. Sei que várias visões sobre o amor foram apresentadas. A que me marcou mais foi o mito de que os homens eram, inicialmente, titãs dotados de ambos os sexos. Por alguma bronca dos deuses, eles foram divididos ao meio e condenados a procurar eternamente sua outra metade.
A metafísica platônica pressupunha que todas as coisas do mundo eram cópias mal-feitas de um ente perfeito que existia no plano das idéias. Assim também o amor. Se aqui na terra havia a imperfeição dos amores humanos, haveria um amor perfeito pairando sobre todos nós. Mas não creio que Platão estivesse se referido a este sentimento contido. Aliás, os gregos não tinham tanto pudor assim. Tanto que o final do “Banquete” é cada um procurando seu par. Até mesmo Sócrates.
Penso que a ideia pagã do amor foi superada há muito tempo pelo cristianismo. Devemos separar aquilo que é nosso querer individual daquilo que é o desejo genuíno do bem para as pessoas. Vontade é coisa que dá e passa. E, sinceramente, acho ridículo ficar olhando pra bunda das moças que passam. Hoje mesmo, quando saía de uma churrascaria com amigos, passaram tres belas garotas. Todos olharam pra trás. Exceto eu. E todos acharam que era porque eu sou um homem virtuoso. Nada disso. Apenas acho que esta é uma fase que deve ser superada.