POVO NÂO GOSTA DE POESIA

Muito se especula por que Rimbaud parou de escrever aos vinte anos. De todas as teses apresentadas, fico com esta: poesia não dá grana. Cansado de viver miseravelmente, o maior de todos os poetas foi atrás de um trampo pelo qual acumularia uma fortuna para que, um dia, pudesse viver da maneira que bem entendesse. Infelizmente um câncer o matou ainda jovem e não sabemos se o enfant terrible voltaria a nos brindar com mais obras primas além daquelas produzidas em sua fase precoce.

É chato falar sobre isso, mas o povaréu não gosta de poesia, nunca ouvi falar de um livro de poesia que fosse best-seller. Os poetas sempre tiveram que se sustentar com outras coisas, pois se dependessem dos escritos para sobreviver, morreriam de fome. E a poesia é uma coisa divina: aqueles encontros inesperados de palavras que nos fazem sonhar, seja pela beleza, seja pela sublimação. Sim, porque não é somente a beleza, como o sublime que nos atrai, tanto nas mulheres quanto nos poemas.

Foi Drummond quem disse que poesia é coisa de elite. Aliás, classifico as pessoas conforme seus gostos artísticos. Não acredito nesta história de que gosto cada um tem o seu. Há critérios objetivos na arte que podem ser apontados pelos que têm sensibilidade suficiente para percebê-los. E, sinceramente, não consigo deixar de sentir um certo desprezo pelos que têm mau gosto. Por isso, acho engraçadíssimo e inteligente o comentário de Mortícia a respeito da mansão construída por sua desafeta em “A Família Addams II”: “Francamente... Tons pastéis?”.

Tons pastéis é o símbolo da mediocridade, de quem não se arrisca a pôr vermelho, amarelo, roxo ou azul. Ou seja, não assume nada. Por isto os tons pastéis dominam a cultura moderna. Vampiros românticos vegetarianos, bruxos bonzinhos e um leve sadomasoquismo mostrado como “ousadia”. Que chatice. Aliás, tem muitos escritores que escrevem em tons pastéis e têm a cara de pau de se denominarem “poetas”. Até na música brega existe estas coisas. E muitas meninas suspiram “que lindo!”. Depois vem reclamar que sob os tons pastéis existia apenas um cara sonso.

Igual a uma loura que, vez em quando, aparece lá no escritório. Como possui formas muito voluptuosas, causa rebuliço na rapaziada. Mas já tive longas conversas com ela e sei o tamanho de sua sensibilidade. Agora está noiva. Dia destes me perguntaram se eu não sentia inveja do cara que viveria com ela. Eu respondi: “Hã? Inveja? Por quê?”. E ele: ’ora veja só o material que ele estará pegando toda noite!”. Não quis responder que a beleza física não é garantia de felicidade na cama. Disse apenas, a título de deboche, que em compensação, ele terá que agüentar Victor & Léo e outras duplas nas manhãs de sábado pelo resto da vida. Todos gargalharam.