Fé, Razão e Relativismo
O que é relativismo ? “Doutrina que afirma a relatividade de todo o conhecimento e nega a existência de verdades absolutas.” (Dicionário Aulete).
Ratzinger faz um brilhante comentário sobre a Encíclica Fides et Ratio, e nos conduz para uma profunda reflexão sobre os tempos atuais : seus pensamentos, suas crenças, seus cultos, suas culturas e, mormente sobre suas religiosidades e espiritualidades.
Ele nos apresenta 3 pontos do chamado relativismo que provocam um grande desafio ao cristianismo :
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As religiões são consideradas todas iguais ;
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A questão da salvação ;
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A questão da consciência ;
Na primeira, esbarramos com a interpretação de que todas as religiões são iguais : “ o importante é crer, é ter religião, todas levam para Deus”. Para nós cristãos esse é um discurso perigoso e incompatível com a nossa fé. Se sou cristão entendo que Jesus é a Verdade Universal, Ele é o Caminho, a Verdade a Vida. O cristão deve respeitar a liberdade do “outro”, mas deve viver em Cristo. O processo de evangelização é um fato : levar a Palavra a todos os cantos do mundo, esse é o compromisso do cristão, mas não pode “enfiar o cristianismo garganta abaixo” dos outros.
Na segunda, enfrentamos a questão da salvação, muitas vezes entendida de forma errônea. Todas as religiões possibilitariam a vida eterna ? É bom lembrar que o cristianismo é a única religião em que o seu Senhor encarnou-se para nos mostrar o caminho da Salvação. Se todos serão salvos, de uma forma ou de outra, onde está o mistério de Deus ?
Para nós cristãos, “o céu começa na terra”. O famoso “já e ainda não”, o Reino está no meio de nós. É como uma grande lavoura, você planta aqui o que você colherá na casa do Pai. Quem planta para colher aqui, já obteve o seu prêmio.
Mas plantar o quê ? Um vida reta e justa para si mesmo, para o outro e para a sociedade. Ratzinger diz que a “salvação não está nas religiões, mas no modo como elas levam o homem até Deus, à verdade e ao bem”. Jesus define isso tudo de forma simples quando afirma : “- Não vim salvar os justos e sim os que estão doentes”.
Na terceira, encontramos o maior de todos os desafios : a consciência. Somos a única criatura de Deus dotada da “razão”. E não podemos fugir dela. E, por isso, podemos fazer as nossas escolhas, as nossas opções, exercer a nossa liberdade de vontade, mas a responsabilidade é imanente.
Enfrentamos, hoje, a “canonização do relativismo” com a secularização, isto é, o divorcio entre o estado e as religiões (algo positivo). Mas criou um vazio perigoso, normas legais incompatíveis com princípios religiosos, exemplo : o pecado do aborto e a descriminalização do mesmo pela sociedade. Como se posicionar em casos assim ? Respeitando a sua fé, a sua religiosidade e lutando para que o direito à vida vença a sentença de morte. Isso é questão de consciência e consciência é VOCÊ, isso é Salvação.
A questão da verdade :
Mas o que é a verdade ? Pilatos fez essa pergunta para Jesus e até hoje refletimos sobre ela. Contudo, no corpo central deste trabalho a verdade é definida : Jesus é a Verdade Universal. Todas as religiões levam a salvação ? Isso é relativismo. Dependendo de cada uma, quando muito, podem sinalizar o caminho da salvação desde que professem 3 pontos centrais : pratiquem o bem, promovam a justiça e só falem a verdade.
A busca da verdade é compromisso da filosofia, é o seu campo de atuação, mas para quem crê essa busca se faz, primeiro, pela teologia que tem comprometimento com a Palavra, com a Bíblia, não por esta ser “a Palavra de Deus”, e sim por “conter a Palavra de Deus”. Assim, a constante busca pela verdade se fortalece com a “circularidade” das duas pernas para o caminhar humano : a perna da fé e a perna da razão. Teologia e Filosofia são imanentes, são interdependentes.
Ratzinger finaliza bem a sua reflexão quando diz : “ Quando a Filosofia apaga totalmente esse diálogo com o pensamento da Fé, acaba … numa “seriedade que se vai esvaziando, até ficar sem conteúdo”.
Leandro Cunha