1º de Abril
Vincular o dia de hoje à mentira e aos bobos é algo que se mantém há tantos séculos que os folcloristas têm dificuldades para explicar a sua origem. Mas o psicanalista Mário Corso aconselha: fique atento a tudo que você ouvir. Nenhuma notícia deve ser confiável.
Hoje é 1º de Abril, portanto desconfie de tudo que digam, você pode ser o bobo da vez. Material impresso também não é confiável, lembre-se do caso do "Boimate", quando a revista Veja copiou uma brincadeira, da geralmente sisuda revista inglesa New Scienc, que anunciava um novo tipo de transgênico, fundindo células vegetais com animais. Teriam criado um tomate não só com uma parte protéica, mas já com gosto de bife ao molho de tomate!
Portanto, estejam atentos, hoje não é dia de confiar em cientistas, o cruzamento de um pombo-correio com papagaio para mandar mensagens faladas está ainda longe de acontecer. Notícias arqueológicas tampouco são confiáveis, afinal, já foram anunciadas as descobertas dos brasileiros da Vênus de Milo e a localização exata da aldeia do Asterix. Desconfie ainda de notícias políticas, a África do Sul não comprou Moçambique por US$ 10 bilhões e, pelo que se sabe, o país não está à venda.
Embora não tenha uma força muito grande, esse dia da brincadeira se mantém há tantos séculos que os folcloristas tês dificuldades para explicar sua origem. Por certo nasceu na Europa, de lá chegou até nós, e de alguma forma está ligado ao antigo dia do começo do ano que era em abril. O ano abria com a primavera (no hemisfério norte) e suas promessas de calor e de devolver a fertilidade ao campo. Umas das teorias mais aceitas para explicar o costume é referida ao rei da França Carlos IX trocou a entrada do ano para janeiro. Como as notícias demoravam para chegar aos lugares mais remotos e as pessoas resistiam às mudanças, o desinformado que comemorasse o ano novo na data antiga seria considerado tolo, por não saber da grande novidade.
Esse evento teria dado início do "Dia dos Bobos". O problema quanto a esse mito de origem da data, é que existem fontes que relatam a comemoração do Dia dos Bobos em épocas anteriores a essa troca, o que enfraquece bastante essa tese. Possivelmente, a idéia de um ritual referido ao começo de algo, ano novo e primavera, é o que possa nos dar pistas para pensar essa origem, afinal os começos estão sempre marcados por brincadeiras similares.
Basta lembrar o trote a que são submetidos os novatos em uma instituição de ensino, as brincadeiras com os noivos no dia do casamento (hoje um pouco em desuso) ou ainda algumas pegadinhas feitas com quem começa um trabalho novo. Essas brincadeiras nos fazem pensar em micro-ritos de passagem.
Na tradição de 1º de abril, as vítimas são geralmente as crianças. Uma brincadeira comum na Europa é mandar as crianças na casa do vizinho para buscar um pouco de "calor da cama", ou ainda colocar alguém numa "missão de bobo" (na gíria americana: numa caçada ao pato) ou seja, mandar entregar um bilhete a alguém. quando chega ao destino este o lê e é informado que deve mandar esse "pato" mais adiante, alega erro de destinatário e manda o infeliz entregar o bilhete a outro. Nas Escócia o bilhete diz: "On the first os april, send gowk whither you will" ("No 1º de abril, mande o idiota onde você quiser").
As brincadeiras com quem chega a um novo serviço são as mair criativas. O neófito é mandado a buscar uma "chave de fenda para canhoto", "uma lata de vapor" ou algo como um "espichador de tábua" ou ainda um papel, que seria um suposto "protocolo x", que se faz com que ele bata em todas as portas da burocracia da empresa. Um amigo comissário de vôo presenciou o suplício impostono primeiro vôo de uma aeromoça neófita: o piloto a fazia pular no fundo do corredor , na cauda de um Airbus, enquanto ele supostamente corrigia da cabine, graças aos pulos, o "alinhamento" do avião.
A estrutura aqui é semelhante ao trote, existe a dimensão de mico acrescida de engano. Depois do logro ser comunicado ele é alvo da gozação de todos e é formalmente aceito no grupo, como se tivesse pagado o preço da aceitação, o grupo passa a ter mais uma história engraçada e mais um membro.
(extraído do segundo caderno do jornal Zero Hora/RS
- publicado em 1º de Abril de 2006 - é verdade)