E agora, José?
 
          Domingo, dia 19 de maio, 3 da tarde. Em casa estávamos: eu, a mulher, a secretária, duas filhas, e um neto de oito anos - que brincava de Lego com um garoto da mesma idade, filho de uma vizinha. Após a calçada dois lavadores de carro cuidavam do meu.
          Acabara de tomar banho e começara a me vestir ainda no banheiro, quando o celular toca. Atendo. Um primo irmão, poeta, declama cinco sonetos que acabara de compor. De repente, a balbúrdia. Vozes se aproximam, O poeta soneta em meu ouvido. Surge minha mulher na porta do banheiro, trêmula, olhos esbugalhados, mãos para cima, acompanhada de um mulato de média estatura. Deduzo e digo: “Bateram com o carro!!”. O celular me é arrebatado da mão pela mão livre de quem está com um revólver para mim apontado. Era um assalto. Fui brutalmente retirado do banheiro e jogado na cama, ouvindo, sem nada poder fazer, os gritos apavorados do meu neto e do seu amiguinho, além do choro de uma filha, vindos da sala da frente, juntamente com os ditos de ordem do outro assaltante. Eram dois. Trataram logo de trazer todos para o quarto, inclusive os dois lavadores de carro. Meu neto resistia. Seu amiguinho chorava alto. O meliante que os atemorizava ameaçava matá-los caso não se calassem. A mulher cochicha para mim que uma de nossas filhas trancara-se no quarto antes que os assaltantes adentrassem a casa e que, por celular, estava alertando a polícia. Enquanto isso persistia a resistência dos dois menores e os atos corajosos da minha filha-mãe, que cobria, com o próprio corpo, o corpo do filho e da outra criança. Sentados na cama, como reféns, rezávamos em voz baixa sob a mira da arma de um bandido. Súbito, gritos apavorados do coleguinha de meu neto, que arrastado não queria ser para o quarto onde estávamos. Mordendo a mão que o aprisionava conseguiu se soltar e chamando pelo nome da avó disparou rumo à rua. O assaltante mirou-lhe as costas e minha filha se postou frente ao revólver. Os dois assaltantes, apavorados com os rumores vindos da rua, de armas em punho, tomaram a moto dos lavadores e fugiram em disparada , ameaçando quem lhes surgisse à frente. Quatorze minutos de pavor, marcados no relógio! Durante quatorze minutos a filha que se trancara em seu quarto foi atendida apenas por mensagens eletrônicas repetitivas da central de atendimento da polícia militar: “Dentro de instantes você será atendido”. E tem mais. Desde ontem que tento registrar a ocorrência nas delegacias policiais de João Pessoa, sem êxito. Quando não falta o delegado, falta o escrivão, ou ambos são ausentes – como por toda a manha de hoje na delegacia situada na Avenida Epitácio Pessoa, exatamente a que deveria me ouvir e fornecer a documentação competente. Sem polícia, sem segurança, só me resta apelar para o síndico. Que também não sei quem é nem onde está...
E agora, José?
 
 
 
 

 
oklima
Enviado por oklima em 21/05/2013
Reeditado em 21/05/2013
Código do texto: T4301963
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