HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) ROTEIRO DE CINEMA (3ª REDAÇÃO) 6
BETHBRONCA
(a expressão facial no rosto mínimo, irritada e deformada pela ira que estava a sentir das CRIANÇAS)
Pestinhas! Como conseguiram? “Fick dich”, pestinhas vingativas, “rachsüchtig kleinen bastarde!”: por vezes, os proibi de entrar no playground, agora, como posso sair do apartamento com essa aparência ridícula?
77) INT./EXT. SÍTIO EM SÃO TOMÉ DAS LETRAS. QUARTO. RUAS DA CIDADE
CARLA
(apreensiva)
A realidade transformou-se num “horizonte de eventos”. Estranhos fenômenos inusitados. De uma violência inaudita. Que é isso em que estamos vivendo?
VERA
(reforçando a argumentação de CARLA)
Quem ou o quê está por trás disso? A literatura de ficção está menos surpreendente que a realidade. As crianças falam numa linguagem de outra dimensão. Evadiram-se de nossa companhia. É como se estivesse preste a acontecer o final do livro “O Fim Da Infância” de Clarke.
CARLA
(sai do quarto em companhia da amiga. Ao chegarem na sala veem a propaganda de um produto clonado da indústria ascendente da “New World Order” na TV)
SHOW-GIRL XUXUCA
(apresentando o produto em mão com soberba simpatia)
OLÁ PESSOAL esse é o nutrifoods para seu animal/vegetal clone de estimação. Aquela pessoinha que você gosta como se fosse um membro irmão da família.
SHOW-GIRL XUXUCA
(aproximando o produto do nicho de vidro em que se encontra a criatura mista de animal/vegetal)
Não é uma gracinha? É a sua melhor companhia na intimidade da sala de jantar, aí, pertinho de você, meu amigo da poltrona.
CLONE ANIMAL/VEGETAL
(a fala infantilizada confunde-se com a tonalidade vocal da show-girl XUXUCA)
Made, mama, magi, magi, bhoum, bhom: quelo madi. Maaszi.
SHOW-GIRL XUXUCA
(com a característica vozinha infantilizada ela aproxima a embalagem de “cornflakes” nutriente do clone animal/vegetal em direção ao primeiro plano do TVespectador)
Este é seu amigo, seu filho, seu companheiro ambiental e ao mesmo tempo planta ornamental “sui generis”. Cultive sua saúde, física e o colorido das folhas e frutos ao longo do tronco com essa cabecinha linda. Essa gracinha configura uma peça ambiental com propriedades decorativas incomuns.
SHOW-GIRL XUXUCA
(com o dedo indicador da destra ela aponta o logotipo indicativo do nome do produto “XURXUX PARK” na parte superior frontal da embalagem)
Este produto contém todos os nutrientes necessários à alimentação e recomposição homóloga de seres simbióticos criados a partir de genomas vegetais e animais nano selecionados. Clonados por “cultura in vitro” multiespécie.
SHOW-GIRL XUXUCA
(despedindo-se com beijinhos e dizendo “tchau-tchau”. No monitor de TV aparece nitidamente a assinatura do fabricante e do órgão governamental que chancela a qualidade do produto: BIOCHIPS COMPANY — INSTITUTO DE BIOLOGIA HEREDITÁRIA & IDENTIFICAÇÃO INDIVIDUAL GENÉTICA).
CARLA
(saindo com VERA para a calçada na rua, comenta):
Na sexta década do século XXI essas aberrações estão inseridas na normalidade. A “New World Order” afirmando-se aos olhos pasmos e escancaradamente fechados dos seres formatados para a aceitação de tudo e qualquer coisa a serviço dos interesses das novas corporações industriais.
78) INT. RESTAURANTE DO JORNAL — DIA
ROSSI LEE
(aponta a imagem na tela do DVD)
Veja as PESSOAS desta foto. A “Experiência de Filadélfia” teve tudo com as experiências americanas de eugenia em conluio com a ciência genética nazista. Seus principais cientistas não sabiam disto. Inclusive Einstein.
CHEFE DE REDAÇÃO
(mostrando desinteresse)
Quem garante que essas informações possuem alguma autenticidade?
ROSSI LEE
(calmo e imperturbável)
Os arquivos das fundações americanas envolvidas com pesquisa genética e eugenia, desde antes da crise de 1929. Os “Eugenical News” datam de 1924. A teoria, a prática e a legislação eugenista americana serviram de modelo para as aplicações desses princípios na Alemanha nazista.
CHEFE DE REDAÇÃO
(insistente)
O oficial de comando do pelotão da Gestapo, seus superiores na Alemanha, os próprios cientistas, ninguém estava sabendo das implicações científicas contidas na expedição que saiu da Amazônia em direção ao Reichstag. Naquele 21 de abril de 1944.
ROSSI LEE
(calmamente enfático)
A Experiência no Estaleiro Naval da Filadélfia, em 28 de outubro de 1943, seis meses antes dos 25 soldados do Reich embarcarem no avião da Gestapo em direção à Amazônia, está de acordo com os desdobramentos pós-guerra das pesquisas sobre o Campo Unificado de Einstein. A marinha norte-americana ainda hoje nega. Mas... Contra evidências inexistem argumentos.
CHEFE DE REDAÇÃO
(decisivamente negativo)
O que tenho em mãos ainda é insuficiente para tentar convencer o Conselho Deliberativo do jornal a investir numa expedição em direção a esse subterrâneo na Amazônia. E o confronto destas datas não ajuda em nada.
ROSSI LEE
(interrogativo)
E a quantidade de helicópteros pousados nos heliportos da Avenida Paulista não são indicações suficientes de que estavam realmente equipados com tecnologia avançada de atualização da “Experiência Rainbow de Teletransporte”? E os depoimentos de pessoas de várias países que se disseram presentes em locais distantes de seus países de origem?
CHEFE DE REDAÇÃO
(mostrando mais interesse no prato de feijoada)
Ponha mais realidade nesse cardápio de ficção científica. E verei o que posso fazer.
79) INT. APARTAMENTO DO JORNALISTA ROSSI LEE — NOITE
(ROSSI LEE senta-se na poltrona em frente à TV ligada num canal de notícias americano. O Âncora do Jornal Nacional mostra entrevistas gravadas com PESSOAS das mais diferentes nacionalidades. As entrevistas com legendas indicam):
(TURISTAS que haviam anteriormente visitado diferentes cidades de outros países, tiveram a mesma sensação de terem sido teletransportados para lugares que haviam visitado quando em viagem de negócio ou recreação):
SR. YOU NA
(chinês)
Estive em Rio de Janeiro ano passado. E voltei lá no dia que o trânsito ficou muito estanho. Não sei como...
SRA. YI NEI SI
(esposa do sr. YOU AN)
Não sei como aconteceu. Ainda bem que não fiquei por lá. Duas vezes fomos vítimas de assaltos — O senhor YOU AN bateu com o cotovelo na parte lombar esquerda da mulher, insinuando claramente que ela estava falando demais.
WA LON DING YONG
(filho do casal)
Está certo. Eu e Sài Mã, levamos nossas câmeras digitais. Cristo Redentor, paisagem bonito, mas não quero voltar. —Ele movimentou negativamente o braço direito e o dedo indicador. Perigoso. Muito assalto. Violência demais. Mas não sei explicar de que modo fomos levados de volta para lá.
80) INT. APARTAMENTO. QUARTO DA FILHA DE ROSSI LEE — NOITE
(Em frente à TV, JUSSARA vê a continuidade da reportagem da rede CNN americana, traduzidas via legendas eletrônicas. No programa “King Larry Live” da CNN, uma repórter de rua mostra flagrantes de entrevistas após os acontecimentos coletivamente traumáticos verificados também na Fifty Avenue):
MR. OLIVIER JACKSON
(meio trêmulo)
Não consigo explicar como fui parar em Paris. Durante toda aquela confusão, não estávamos mais na Fifty Avenue, mas na Av. Champs-Élysées. Ainda agora não me recuperei daquela situação absolutamente inusitada. Inexplicável!
MISS DAYSE KRISTAL
(exaltada)
Como aconteceu? Num instante e eu estava na “Via del Corso” em Roma. No Outro momento estava de volta à Quinta Avenida...
KING LARRY LIVE
(sem conter a perplexidade)
(A reportagem da CNN diretamente de Paris entrevista “on line” o casal Angeline Carole e Jean-Luc Alain.Ele e Ela garantem ter estado, quase que simultaneamente, em dois lugares diversos, New York-Paris-New-York, separados pelo oceano Atlântico, em questão de segundos. — Jocosamente ele desafia: “Acredite se quiser”!
ANGELINE CAROLE
(pouco à vontade)
Muito ridículo dizer isso. Mas aconteceu comigo e o Alain. O automóvel estava parado na Champs-Élysée, próximo ao Arco do Triunfo, durante aquela terrível série de acontecimentos inacreditáveis que paralisou o trânsito da cidade. No momento seguinte estávamos em frente ao The Metropolitan Museum of Art em New York que havíamos visitado ao fazer turismo em NY. Impressionante. Foi impressionante.
JEAN-LUC ALAIN
(hesitante)
Não acredito que isso aconteceu mesmo. Havíamos estado no Metropolitan no verão passado. Não foi nada agradável ter estado lá outra vez nessas condições inexplicáveis. Quem vai explicar essa coisa estranha? Mas que aconteceu mesmo. Com muitas outras pessoas com quem conversamos.
81) INT. RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA DE VOLTAIRE — DIA
VOLTAIRE
(falando em sonho para a mãe, LIGIA)
Se algo me acontecer, entregue este envelope para a JUSSARA...
LIGIA
(virando-se para JUSSARA)
Não faço a menor ideia do por que estava sentindo-se ameaçado.
LIGIA
(inquieta, mostra uma foto)
Veja. Há uma dúzia de PESSOAS, você reconhece alguém?
JUSSARA
(apontando o dedo)
AGASSIZ. Um cara vidrado nos mistérios da floresta. E em história. PhD em Antropologia. Na USP.
LIGIA
(introspectiva)
Ouvi uma conversa deles em que falavam de uma cidade indígena. Perdida na floresta... Manoa. AGASSIZ dizia: “Muitas pessoas que buscaram por cidades ditas desaparecidas na selva Amazônica, desapareceram. Manoa é uma delas”.
JUSSARA
(mostrando-se imediatamente constrangida)
Aconteceu sobrar uma mão, ou um pé de VOLTAIRE?
(Subitamente JUSSARA, assustada, desperta, sentando-se na cama, como se estivesse saindo de um pesadelo).
82) INT. QUARTO DE JUSSARA — DIA
(Jussara ausenta-se do quarto. Ele está vazio, mas o DVD do “Arquivo Jângal” continua no monitor do notebook).
83) EXT. “BUNKER”. ALEMANHA. II GUERRA MUNDIAL — NOITE
(JUSSARA digita o teclado. Em seguida levanta-se e caminha em direção à porta do quarto. No monitor do micro fixa-se uma imagem do interior do “bunker” do Führer. — Na legenda eletrônica lê-se: Alemanha, final Da IIª Grande Guerra).
(HITLER e EVA BRAUN são escoltados por oficiais da Gestapo em direção à saída do “bunker”. Do lado de fora um casal de atores, sósia de HITLER e EVA BRAUN, estão à espera de ser sacrificados em nome do Reich alemão).
(Os casais sósias se cumprimentam. HITLER e EVA BRAUN dirigem-se para um aeroporto além da entrada do “bunker”. O Führer alemão volta-se para olhar o SOLDADO SS com uma pistola lugher engatilhada, à espera da ordem de execução).
(Galões de gasolina permanecem ao lado. O casal de atores, sósia de HITLER, EVA BRAUN, ajoelhado, à espera dos tiros, olha orgulhosamente o ditador que, antes de distanciar-se e entrar num carro da SS a saudação nazi em direção a ele. Ouve-se disparos).
84) INT./EXT. “BUNKER”. AEROPORTO NA ALEMANHA — NOITE
(Um veículo negro da Gestapo para próximo a uma aeronave. A comitiva de oficiais SS embarca no avião, enquanto HITLER e a MULHER saem do carro e dirigem-se à escada de embarque da aeronave. Após tomarem assento, as hélices do avião começam a girar).
(O piloto acerta as coordenadas. HITLER olha pela janela como se estivesse a ver os corpos do casal sósia em chamas próximo ao local de entrada do “bunker”. As chamas sobem incinerando os corpos, enquanto o exército aliado invade Berlin).
85) INT. APARTAMENTO DE ROSSI LEE — NOITE
(JUSSARA aciona o ponteiro do mouse no ícone “impressora”. E começa a editar a primeira cópia do “Arquivo Jângal”).
(Antes de sair do apartamento, ela escreve um bilhete para o pai, o jornalista ROSSI LEE, prende com um clipe de papel a folha na primeira página da primeira cópia do “Arquivo Jângal”, subscrevendo-o):
“O arquivo começa com a narração do assassinato do jornalista alemão KARL ALBERT BRUGGER numa calçada da praia de Ipanema em 1984. Ele fazia reportagens para a revista “Der Spiegel” sobre um mosteiro subterrâneo na Amazônia para onde se dirigiam contingentes de soldados da Wermacht em busca de adquirir e transferir tecnologia extraterrestre avançada para uso do exército alemão do III° Reich".
"Esses contingentes sob comando, comunicação e controle de oficiais da Gestapo, desembarcavam num aeroporto ultrassecreto na selva Amazônica. Anos antes de ser detonado o II° Conflito Mundial”.
“Leia e segure a onda. Não se surpreenda. Se for capaz.” — Beijos, JU.
86) INT. SALA. APARTAMENTO — DIA
FRED
(a criança chama a atenção do coleguinha BETO para o programa de TV. Nele, a galeguinha começa a se despedir das crianças jogando beijinhos e dizendo “tchau-tchau”. Pela boca da MULHER começa a sair uma enxurrada de produtos comestíveis e brinquedos que se acumulam no interior da sala onde se encontram as crianças)
(As CRIANÇAS correm em direção ao quarto onde a BABÁ vê TV com outras CRIANÇAS. A MULHER do “talk-show” infantil estica o pescoço (como se fosse de borracha) em direção a elas e, abrindo a bocarra risonha vomita fartamente, enchendo o ambiente de uma gosma colorida da onde se sobressaem bonecas e bonecos semoventes).
(Assustados e chamuscados pela gosma a cores eles correm em direção à porta de saída do apartamento. Várias crianças em suas camas despertam do pesadelo comum).
87) EXT. PLAY-GROUND DO PRÉDIO. ÁREA DE RECREIO — DIA
(MÃES conversam enquanto seus FILHOS e FILHAS brincam na área).
1ª MULHER
(mostrando-se surpresa)
Está acontecendo com o Jr. também?
2ª MULHER
(afirmativa)
É sintoma de que estão ficando mais exigentes.
3ª MULHER
(introspectiva)
Toda aquela festividade fabricada não estava mais do agrado de ninguém.
1ª MULHER
(confirmando)
Há muito não faz mais sentido para elas aquelas pantomimas para crianças retardadas.
4ª MULHER
(opinativa)
A CECI e o LULU, filhos da LUIZA estão ali (aponta) trocando ideias sobre personagens de contos de fadas. Pode? Na idade deles? Não é muita precocidade?
2ª MULHER
(em tom de censura velada)
Mal acreditei quando vi o KIKO e a PRATA trocando ideias sobre “O Conde de Monte Cristo”. E a MARY LUCY pondo fogo na conversa. Nem pareciam CRIANÇAS.
5ª MULHER
(entrando na conversa)
Donos de TV não têm o menor interesse em fornecer uma programação que acompanhe a evolução da cabeça delas. Elas estão percebendo o mundo de maneira mais inteligente.
3ª MULHER
(parecendo pensativa)
O mundo deles parece outro. Assim como suas necessidades. Esses novos heróis tipo Wolverine e os X-Men estão tornando esses meninos muito agressivos demais. E eles não gostam de todo esse besteirol. Mas são obrigados a engolir como u purgante obrigatório da programação de Hollywood.
1ª MULHER
(em dúvida)
Alienação e agressividade não são condicionamentos adequados à educação deles. Os desenhos animados estão cheios disso. E os jogos ultraviolentos na internet, nos micros.
2ª MULHER
(conformada)
De qualquer forma é o que eles têm. Distrai.
4ª MULHER
(concordando)
Essas influências educam mais do que os professores mal pagos das escolas. Pelos quais as CRIANÇAS não têm o menor respeito.
5ª MULHER
(“não tô nem aí”)
A mente deles está em franca ebulição. Nossa proximidade parece incômoda. Quando conversam não querem adultos por perto. Desenvolveram uma linguagem que apenas eles se compreendem. Já ouvi a Julhinha falando ao telefone por meio de chiados e zumbidos. Si não. Pode ter sido impressão minha.
88) INT. QUARTOS. SALAS. APARTAMENTOS... DIA/NOITE
(Carla aciona algumas vezes o controle remoto da TV. Em vários canais estão presentes imagens e comentários sobre os acontecimentos de estranhas e virulentas superviolências na Avenida Paulista e adjacências).
(Muitas pessoas estão, simultaneamente, a acionar em salas, quartos de hotéis, apartamentos, bares, restaurantes e residências, via controle remoto, imagens de comentários TVvisivos sobre os inexplicáveis acontecimentos nas principais avenidas de grandes cidades globalizadas por eventos semelhantes).