Nilo e seu povo - o deus ou o feitor do Egito?
Estudando a civilização oriental não podemos deixar de observar que o rio Nilo era o celeiro egípcio da época. As suas águas mantinham a lavoura que sustentava o faraó, a nobreza e quando muito as famílias dos aldeões. Embora não caracterizado como um deus, fazia o papel deste com toda a sua força. Seja na economia interna, seja no transporte, o Nilo se colocava nas entrelinhas, no ápice da pirâmide sócio econômica. As suas margens cheias é que determinavam qual tempo se viveria. Mas a qual preço? Quanto valia um camponês que vivia a lavrar a terra para pagar os dízimos, sua vida valia pouco mais que nada. Dia e noite a contar os grãos que iam encher a bolsa do coletor de impostos.
Mas não só de trigo e cevada viviam os nobres, eles também precisavam de teto. E, desta feita, lá ia o pobre aldeão carregando pedras de alicerce para uma habitação que não seria a sua. Fazer a honras de tecelão e tintureiro pagando a corveia era também sua função. Famintos, sujos e surrados para o regalo dos maiores e quando para sua família só sobravam os trapos de homem fustigado e desesperado.
Outros havia que eram levados para longe daquilo, mas com destino não menos dilacerante. Mensageiros que partiam para terras estrangeiras e que talvez não retornassem; e a infantaria que arrancava os meninos da família e os faziam aprender o quão pesada poderia ser a carga.
Em contrapartida vê-se o homem de letras que, debruçado sobre os papiros, nos “honra” contando, sob o seu olhar, toda a História.
E parte o feitor do povo egípcio. Mais do que o faraó, o rio Nilo escreveu com sangue, suor e fome a história de seu povo. Para reverenciá-lo com um deus, deveríamos personifica-lo como Ammit, o punidor dos não aceitos.